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Os cigarros eletrônicos podem ajudar as pessoas a parar de fumar e causam efeito indesejável quando usados para este fim?

Mensagens principais

Os cigarros eletrônicos com nicotina podem ajudar as pessoas a parar de fumar por pelo menos seis meses. Eles funcionam melhor do que a terapia de reposição de nicotina, e provavelmente funcionam melhor do que os cigarros eletrônicos sem nicotina.

Eles podem funcionar melhor do que não receber nenhum tipo de apoio ou apenas receber apoio comportamental (como aconselhamento). Eles também podem não estar associados a efeitos colaterais graves.

No entanto, ainda precisamos de mais estudos, especialmente sobre modelos mais novos de cigarros eletrônicos, que entregam nicotina de forma mais eficiente. Uma entrega melhor de nicotina pode ajudar mais pessoas a parar de fumar.

O que são cigarros eletrônicos?

Cigarros eletrônicos (e-cigarros) ou vapes são dispositivos portáteis que funcionam ao aquecer um líquido que geralmente contém nicotina e aromatizantes. Eles permitem que o usuário inale nicotina em forma de vapor, e não de fumaça. Como não queimam tabaco, os cigarros eletrônicos regulamentados não expõem os usuários aos mesmos níveis de substâncias químicas que causam doenças em pessoas que fumam cigarros tradicionais.

Usar o cigarro eletrônico é conhecido como vapes (vaping). Muitas pessoas usam vapes para ajudar a parar de fumar. Neste resumo, focamos especialmente nos cigarros eletrônicos que contêm nicotina.

Por que fizemos esta revisão Cochrane?

Parar de fumar reduz o risco de muitas doenças. Mas parar de fumar é difícil para muitas pessoas. Queríamos saber se os cigarros eletrônicos podem ajudar pessoas a deixar o cigarro e se causam efeitos indesejados quando usados para esse fim.

O que nós fizemos?

Buscamos estudos que investigaram o uso de cigarros eletrônicos para parar de fumar.

Buscamos ensaios clínicos randomizados, em que os participantes são sorteados para diferentes tratamentos. Esse tipo de estudo fornece evidências mais confiáveis sobre os efeitos dos tratamentos. Também analisamos estudos em que todos os participantes receberam cigarros eletrônicos, mesmo sem grupos comparativos, para aprender sobre possíveis efeitos à saúde.

Estávamos interessados em avaliar:

• quantas pessoas pararam de fumar por pelo menos seis meses; e

• quantas pessoas apresentaram efeitos indesejados após pelo menos uma semana de uso?

Data da busca

Incluímos evidência publicadas até 1º de março de 2025.

O que nós descobrimos

Encontramos 104 estudos que incluíam 30.366 adultos fumantes. Os estudos compararam cigarros eletrônicos com nicotina com:

• terapia de reposição de nicotina (ex: adesivos ou goma de mascar);

• vareniclina (um medicamento para ajudar as pessoas a parar de fumar);

• cigarros eletrônicos sem nicotina;

• produtos de tabaco aquecido (produtos que aquecem o tabaco a uma temperatura suficientemente alta para liberar vapor, sem queimá-lo ou produzir fumaça; estes diferem dos cigarros eletrônicos porque aquecem a folha de tabaco);

• sachês orais de nicotina (sachês que não contêm tabaco, mas liberam nicotina quando mantidos na boca);

• outros tipos de cigarros eletrônicos com nicotina (por exemplo, dispositivos pod, dispositivos mais novos);

• apoio comportamental (por exemplo, aconselhamento ou terapia); ou

• nenhum apoio para parar de fumar.

A maioria dos estudos ocorreu nos EUA (48 estudos) e no Reino Unido (21 estudos).

Quais são os resultados da nossa revisão?

As pessoas têm mais chance de parar de fumar por pelo menos seis meses quando usam cigarros eletrônicos com nicotina do que quando usam terapia de reposição de nicotina (9 estudos, 2.703 pessoas) ou do que quando usam cigarros eletrônicos sem nicotina (7 estudos, 1.918 pessoas).

Os cigarros eletrônicos com nicotina podem ajudar mais pessoas a parar de fumar do que não receber nenhum tipo de suporte ou receber apenas suporte comportamental (11 estudos, 6.819 pessoas).

Entre cada 100 pessoas que usam cigarros eletrônicos com nicotina para parar de fumar, de 8 a 11 conseguem parar com sucesso. Em comparação, apenas 6 em cada 100 conseguem parar usando terapia de reposição de nicotina, 6 em cada 100 usando cigarros eletrônicos sem nicotina e 4 em cada 100 quando não há suporte ou há apenas suporte comportamental.

Ainda não sabemos se existe diferença na quantidade de efeitos indesejados entre o uso de cigarros eletrônicos com nicotina e o uso de terapia de reposição de nicotina, ou em comparação com nenhum suporte ou apenas suporte comportamental. Encontramos alguma evidência sugerindo que efeitos indesejados não graves foram mais comuns em grupos que usaram cigarros eletrônicos com nicotina do que em grupos sem suporte ou com suporte comportamental. No entanto, essa evidência é incerta. Estudos que comparam cigarros eletrônicos com nicotina e terapia de reposição de nicotina relataram poucos efeitos indesejados, incluindo os efeitos considerados graves. Provavelmente não há diferença na quantidade de efeitos indesejados não graves quando comparamos cigarros eletrônicos com nicotina e cigarros eletrônicos sem nicotina.

Os efeitos indesejados relatados com mais frequência por pessoas que usaram cigarros eletrônicos com nicotina foram irritação na garganta ou na boca, dor de cabeça, tosse e náuseas. Esses efeitos parecem semelhantes aos que ocorrem com o uso de terapia de reposição de nicotina. Além disso, os efeitos indesejados diminuíram ao longo do tempo, conforme as pessoas continuaram usando cigarros eletrônicos com nicotina.

Até que ponto estes resultados são confiáveis?

Encontramos evidências de que cigarros eletrônicos com nicotina ajudam mais pessoas a parar de fumar do que a terapia de reposição de nicotina. Os cigarros eletrônicos com nicotina provavelmente ajudam mais pessoas a parar de fumar do que os cigarros eletrônicos sem nicotina, mas ainda precisamos de mais estudos para confirmar isso.

Os estudos que comparam cigarros eletrônicos com nicotina com suporte comportamental ou ausência de suporte também mostraram taxas de abandono maiores entre quem usou cigarros eletrônicos com nicotina. No entanto, esses resultados são menos confiáveis porque alguns estudos apresentaram problemas metodológicos.

A maioria dos resultados sobre efeitos indesejados pode mudar quando mais evidências forem publicadas.

Introdução

Os cigarros eletrônicos (CEs) são dispositivos eletrônicos portáteis que produzem um aerossol (dispositivo vaping) por meio do aquecimento de um liquido (e-liquids). As pessoas que fumam, prestadores de serviços de saúde e reguladores estão interessados em saber se os cigarros eletrônicos podem ajudar as pessoas a parar de fumar e se estes dispositivos são seguros para esse fim . Esta é uma atualização de uma revisão sistemática viva.

Objetivos

Analisar a segurança, tolerabilidade e efetividade dos CE para ajudar pessoas que fumam tabaco a alcançar abstinência de longo prazo. Comparamos os CE com e sem nicotina, com outros tratamentos para cessação do tabagismo e com ausência de tratamento.

Métodos de busca

Realizamos buscas por estudos até 1º de março de 2025 nas bases CENTRAL, MEDLINE, Embase e PsycINFO. Também verificamos referências e contatamos autores de estudos.

Critério de seleção

Incluímos estudos nos quais pessoas que fumam foram randomizadas para uma condição de CE ou controle. Também incluímos estudos de intervenção não controlados nos quais todos os participantes receberam uma intervenção de CE, uma vez que estes estudos têm o potencial de fornecer mais informações sobre os danos e uso a longo prazo. Os estudos tiveram que relatar um desfecho elegível.

Coleta dos dados e análises

Seguimos os métodos padronizados pela Cochrane para coleta e extração de dados. Desfechos críticos incluíram abstinência do cigarro após pelo menos seis meses, eventos adversos e eventos adversos graves. Usamos um modelo de efeito fixo Mantel-Haenszel para calcular os riscos relativos (RRs) com intervalos de confiança (ICs) de 95% para os desfechos dicotômicos. Para os desfechos contínuos, calculamos as diferenças médias. Quando apropriado, reunimos os dados em metanálise em rede.

Principais resultados

Incluímos 88 estudos concluídos (10 novos nesta atualização), representando 27.235 participantes, dos quais 47 eram ensaios clínicos randomizados (ECRs). Dos estudos incluídos, nós avaliamos dez (todos, exceto um, contribuíram para nossas principais comparações) com baixo risco de viés em geral, 58 com alto risco em geral (incluindo todos os estudos não randomizados) e o restante com risco incerto de viés.

Há alta certeza de que o CE com nicotina aumenta as taxas de cessação em comparação com a terapia de reposição de nicotina (RR 1,59, IC 95% 1,29 a 1,93; I 2 = 0%; 7 estudos, 2.544 participantes). Em termos absolutos, isso pode se traduzir em quatro desistentes a mais a cada 100 tabagistas (IC 95% 2 a 6 a mais). Há moderada certeza da evidência (limitada pela imprecisão) de que a taxa de ocorrência de eventos adversos é semelhante entre os grupos (RR 1,03, IC 95% 0,91 a 1,17; I 2 = 0%; 5 estudos, 2.052 participantes). Os efeitos adversos graves foram raros, e não há evidências suficientes para determinar se as taxas diferem entre os grupos devido a imprecisão muito grave na estimativa do efeito (RR 1,20, IC 95% 0,90 a 1,60; I 2 = 32%; 6 estudos, 2.761 participantes; baixa certeza da evidência).

Há moderada certeza da evidência, limitadas pela imprecisão, de que o CE com nicotina aumenta as taxas de cessação em comparação com o CE sem nicotina (RR 1,46, IC 95% 1,09 a 1,96; I 2 = 4%; 6 estudos, 1.613 participantes). Em termos absolutos, isto pode se traduzir em três desistentes a mais a cada 100 tabagistas (IC 95% 1 a 7 a mais). Há moderada certeza da evidência de que não há diferença na taxa de eventos adversos entre estes grupos (RR 1,01, IC 95% 0,91 a 1,11; I 2 = 0%; 5 estudos, 1840 participantes). Não há evidências suficientes para determinar se as taxas de eventos adversos graves diferem entre os grupos, devido a uma imprecisão muito grave na estimativa do efeito (RR 1,00, IC 95% 0,56 a 1,79; I 2 = 0%; 9 estudos, 1412 participantes; baixa certeza da evidência).

Devido a questões de risco de viés, há baixa certeza da evidência de que, em comparação com apenas/sem apoio comportamental, as taxas de cessação podem ser mais altas para participantes randomizados para CE com nicotina (RR 1,88, IC 95% 1,56 a 2,25; I 2 = 0%; 9 estudos, 5.024 participantes). Em termos absolutos, isto representa quatro desistentes a mais a cada 100 tabagistas (IC 95% 2 a 5 a mais). Encontramos algumas evidências de que os eventos adversos não graves foram mais comuns em pessoas sorteadas para receber o CE com nicotina (RR 1,22, IC 95% 1,12 a 1,32; I 2 = 41%, 4 estudos, 765 participantes; baixa certeza da evidência). E, novamente, encontramos evidências insuficientes para determinar se as taxas de eventos adversos graves diferiram entre grupos (RR 0,89, IC 95% 0,59 a 1,34; I 2 = 23%; 10 estudos, 3263 participantes; muito baixa certeza da evidência).

Os resultados da metanálise em rede foram consistentes com os das metanálises pareadas para todos os desfechos críticos, e não houve indicação de inconsistência dentro das redes.

Os dados de estudos não randomizados foram consistentes com os dados de ECRs. Os eventos adversos mais comumente relatados foram a irritação na garganta ou boca, dor de cabeça, tosse e náusea, os quais tendiam a diminuir com o uso contínuo do CE. Muito poucos estudos relataram dados sobre os outros desfechos ou comparações, portanto, as evidências para estes são limitadas, com os ICs muitas vezes envolvendo danos e benefícios clinicamente significativos.

Conclusão dos autores

Há alta certeza da evidência de que os CE com nicotina aumentam as taxas de abandono do tabagismo em comparação com a terapia de reposição de nicotina, e moderada certeza da evidência de que aumentam as taxas de abandono em comparação com os CE sem nicotina. As evidências que comparam o CE com nicotina com os cuidados habituais ou ausência de tratamento também sugerem benefício, mas são de menor certeza devido ao risco de viés. Os ICs foram amplos nos desfechos eventos adversos não grave, eventos adversos graves e outros marcadores de segurança. Não encontramos evidência de diferença em eventos adversos não graves quando comparado o CE com e sem nicotina, nem entre CE com nicotina e terapia de reposição de nicotina. Existe baixa certeza da evidência de aumento de eventos adversos não graves quando comparado com suporte comportamental/sem suporte. A incidência geral de eventos adversos graves foi baixa em todos os grupos. Não encontramos evidência de eventos adversos graves causados ​por CE com nicotina, mas são necessários estudos mais longos e com amostras maiores para avaliar completamente a segurança. Os estudos incluídos testaram CE regulamentados contendo nicotina. Produtos ilícitos ou com outras substâncias ativas (por exemplo, tetrahidrocanabinol (THC)) podem ter diferentes perfis de danos.

A principal limitação das evidência continua sendo a imprecisão para algumas comparações e para os desfechos de segurança, devido ao número relativamente pequeno de ECR que contribuíram, frequentemente com baixas taxas de eventos. Outros ECRs estão em andamento. Para manter as informações atualizadas, esta revisão é uma revisão sistemática viva. Realizamos buscas mensais e atualizamos a revisão sempre que surgirem novas evidências relevantes. Consulte a Cochrane Database of Systematic Reviews para verificar a versão atual.

Financiamento

Cancer Research UK (PICCTR-2024/100012).

Registro do protocolo

Protocolo original de 2012 disponível via DOI: 10.1002/14651858.CD010216. Protocolo atualizado de 2023 disponível via DOI 10.17605/OSF.IO/ZWGSK (https://osf.io/ZWGSK/). Atualizações do protocolo de 2025 disponíveis via DOI: 10.17605/OSF.IO/59M4U (https://osf.io/59M4U/) e DOI: 10.17605/OSF.IO/UPGJC (https://osf.io/UPGJC/).

Notas de tradução

Tradução do Cochrane Brazil (Luis Felipe Duarte Coutinho e André Silva de Sousa). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Esta revisão Cochrane foi originalmente criada em inglês. A responsabilidade pela precisão da tradução é da equipe de tradução que a produziu. A tradução de revisões é realizada com cuidado e segue processos padronizados para garantir o controle de qualidade. No entanto, em caso de divergências, traduções imprecisas ou inadequadas, prevalece a versão original em inglês.

Citation
Lindson N, Livingstone-Banks J, Butler AR, McRobbie H, Bullen CR, Hajek P, Wu AD, Begh R, Theodoulou A, Notley C, Rigotti NA, Turner T, Fanshawe T, Hartmann-Boyce J. Electronic cigarettes for smoking cessation. Cochrane Database of Systematic Reviews 2025, Issue 11. Art. No.: CD010216. DOI: 10.1002/14651858.CD010216.pub10.

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