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Vacinação contra o HPV:
- reduz a incidência de câncer do colo do útero em cerca de 80% em pessoas vacinadas até os 16 anos de idade;
- reduz a incidência de lesões pré-cancerosas cervicais de alto grau, bem como de verrugas anogenitais;
- não está associado a um risco aumentado de efeitos colaterais a longo prazo ou infertilidade;
- É mais eficaz quando administrado aos 16 de idade ou antes, idealmente antes do início da atividade sexual.
O que é o HPV?
O papilomavírus humano (HPV) é transmitido entre pessoas por meio de contato sexual, incluindo sexo vaginal, anal ou oral. Existem muitos tipos de HPV. Alguns tipos são inofensivos, mas outros podem causar câncer. O câncer cervical é o tipo mais comum de câncer que o HPV pode causar, mas ele também pode causar câncer vaginal, vulvar, peniano, anal e de cabeça e pescoço, além de verrugas anogenitais (uma infecção sexualmente transmissível causada por certos tipos de papilomavírus humano). A partir da infecção pelo HPV, o câncer cervical geralmente leva mais de 10 anos para se desenvolver, e outros tipos de câncer levam ainda mais tempo.
Quais os benefícios das vacinas contra o HPV?
Em meninas e meninos, as vacinas contra o HPV têm como objetivo prevenir a infecção pelo vírus, que às vezes pode causar câncer e verrugas anogenitais. As vacinas contra o HPV não são eficazes em pessoas que já foram expostas ao HPV. Por esse motivo, a maioria dos programas de vacinação visa oferecer a vacina aos jovens antes que se tornem sexualmente ativos.
O que queríamos descobrir?
Queríamos mais informações sobre questões relativas a desfechos de longo prazo e raros que não podem ser respondidas por ensaios clínicos randomizados (estudos em que as pessoas são atribuídas aleatoriamente a dois ou mais grupos de tratamento):
- Quais são os efeitos da introdução da vacinação contra o HPV nas taxas comunitárias de câncer de colo do útero, vagina, vulva, ânus e pênis, e nos estágios pré-cancerígenos da doença durante o desenvolvimento do câncer?
- Quais são os efeitos da introdução da vacinação contra o HPV no número de pessoas que desenvolvem verrugas anogenitais e no número de pessoas que se submetem a tratamento para doenças relacionadas ao HPV?
Também queríamos saber se as vacinas contra o HPV estavam associadas a algum efeito nocivo, especialmente aqueles mais frequentemente discutidos nas redes sociais.
O que nós fizemos?
Buscamos estudos que avaliassem o impacto da vacinação contra o HPV nos níveis populacionais de câncer cervical e outros tipos de câncer, lesões pré-cancerosas de alto grau (alterações celulares anormais que ocorrem após uma infecção persistente por HPV de alto risco e que podem evoluir para câncer se não tratadas), verrugas anogenitais, taxas de tratamento, infecções por HPV e eventos adversos ou indesejáveis. Esses estudos incluíram análises de grupos de pessoas após receberem a vacinação contra o HPV e estudos que observaram a mudança nessas doenças após a introdução da vacinação contra o HPV em nível nacional.
Também pesquisamos em sites de redes sociais (WebMD e X (antigo Twitter)) por eventos adversos comumente mencionados relacionados à vacinação contra o HPV. Buscamos e incluímos estudos que avaliassem o impacto da vacinação contra o HPV nesses eventos.
O que nós encontramos?
Encontramos 225 estudos adequados de todo o mundo que relataram os benefícios e os malefícios da vacinação contra o HPV, incluindo mais de 132 milhões de pessoas.
A vacinação contra o HPV provavelmente reduz a incidência de câncer do colo do útero em cerca de 80% em pessoas vacinadas até os 16 anos de idade. A redução é menor para pessoas vacinadas mais tarde.
A vacinação contra o HPV provavelmente reduz a incidência de lesões pré-cancerosas cervicais de alto grau (NIC3+, NIC3, NIC2+ e NIC2), bem como de verrugas anogenitais. Novamente, as reduções são maiores em pessoas que receberam a vacina contra o HPV aos 16 anos de idade ou antes.
Havia evidência de menor certeza quanto ao efeito da vacinação contra o HPV em doenças raras que levam muito mais tempo para se desenvolver, como adenocarcinoma in situ, outras lesões pré-cancerígenas e outros tipos de câncer relacionados ao HPV (por exemplo, câncer vaginal, vulvar, anal e peniano). Identificamos menos estudos sobre esses desfechos.
Para a maioria dos eventos adversos específicos que analisamos, incluindo síndrome da taquicardia ortostática postural, síndrome da fadiga crônica/encefalomielite miálgica, paralisia, síndrome da dor regional complexa, síndrome de Guillain-Barré e infertilidade, houve evidência de certeza moderada de que a vacinação contra o HPV provavelmente não aumenta o risco de desenvolvê-los. A vacinação contra o HPV também não aumentou a atividade sexual.
A vacinação contra o HPV também parece reduzir as taxas de tratamento associadas à doença causada pelo HPV, aumenta a adesão aos programas de rastreio do câncer do colo do útero e reduz as infecções por HPV.
Quais são as limitações das evidências?
Estamos moderadamente confiantes em nossos resultados para câncer cervical, doença cervical de alto grau, verrugas anogenitais e danos específicos. No entanto, estudos melhores e mais abrangentes poderiam apresentar resultados mais confiáveis e precisos sobre o nível de proteção.
Até que ponto estas evidências estão atualizadas?
As evidências estão atualizadas até setembro de 2024.
Ler o resumo científico
A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) tem o potencial de melhorar a prevenção do câncer do colo do útero, especialmente em países onde os programas de rastreamento são inacessíveis ou de difícil implementação. Eventos adversos raros e benefícios de longo prazo da vacinação contra o HPV, como o impacto nas taxas de câncer, são difíceis de avaliar em ensaios clínicos randomizados (ECR) e requerem grandes volumes de dados provenientes de estudos populacionais para embasar a tomada de decisão.
Objetivos
Nosso objetivo foi avaliar, em nível populacional, os efeitos dos programas de vacinação contra o HPV sobre as doenças relacionadas ao vírus e os desfechos de dano relacionados à vacinação.
Métodos de busca
Realizamos buscas eletrônicas em 11 de setembro de 2024 na CENTRAL ( Cochrane Library ), Ovid MEDLINE e Ovid Embase. Também pesquisamos nos sites dos fabricantes de vacinas e consultamos as listas de referências de um índice de estudos sobre HPV e bem como de outras revisões sistemáticas relevantes.
Critério de seleção
Incluímos estudos que avaliaram o impacto da vacinação contra o HPV na população em geral. Os estudos incluídos, todos de nível populacional, compararam os desfechos antes e depois da introdução da vacina contra o HPV. Também incluímos estudos comparativos não randomizados em nível individual, como estudos de coorte, estudos de caso-controle, estudos transversais e séries de casos autocontroladas.
Coleta dos dados e análises
Usamos os métodos recomendados pela Cochrane. Dois autores da revisão realizaram a extração de dados de forma independente, utilizando formulários de extração de dados previamente testados. Avaliamos o risco de viés de todas as estimativas de efeito incluídas usando diferentes ferramentas, de acordo com o desenho do estudo. Realizamos a síntese de dados quantitativos e qualitativos separadamente por desfecho e desenho do estudo. Realizamos metanálises de estudos que relataram estimativas de efeito ajustadas para fatores de confusão, com foco naqueles que receberam a vacina contra o HPV aos 16 anos de idade ou antes (a faixa etária alvo para a vacinação). Avaliamos a certeza das evidência com o sistema GRADE.
Principais resultados
Nesta revisão, incluímos 225 estudos provenientes de 347 registros, avaliando mais de 132 milhões de pessoas. Incluímos 86 estudos de coorte, quatro estudos de caso-controle, 46 estudos transversais, 69 estudos de introdução de vacinas antes e depois da vacinação, cinco extensões de ensaios clínicos randomizados e duas séries de casos autocontroladas. Treze estudos adicionais relataram mais de um tipo de análise. Dos estudos incluídos, 177 relataram dados apenas de mulheres, 11 apenas de homens e 37 de uma combinação de homens e mulheres. O risco de viés variou de risco global variou de moderado a crítico entre os estudos.
Desfechos clínicos
Vinte estudos forneceram evidência de certeza moderada de que a vacinação contra o HPV reduz a incidência de câncer do colo do útero. Cinco estudos de coorte, incluindo 4.390.243 mulheres, relataram estimativas ajustadas que mostram uma redução do risco de câncer cervical após a vacinação contra o HPV a longo prazo (risco relativo (RR) 0,37, intervalo de confiança (IC) de 95% de 0,25 a 0,56; I² = 88%). Houve uma interação significativa com a idade no momento da vacinação, com uma maior redução do risco em pessoas mais jovens. Para as pessoas vacinadas aos 16 anos de idade ou antes, abrangendo 4,54 milhões de pessoas-ano, houve uma redução de 80% no risco de câncer cervical (RR 0,20, IC 95% 0,09 a 0,44; I² = 69%). Um estudo de coorte, um estudo de caso-controle, um estudo transversal e três estudos de extensão de ensaios clínicos randomizados não relataram casos de câncer cervical nos grupos vacinados contra o HPV. Oito estudos comparativos pré e pós-introdução da vacina relataram uma redução na incidência de câncer cervical após a introdução da vacina contra o HPV, mas não forneceram dados em um formato que permitisse a realização de uma metanálise.
Houve evidência de certeza moderada provenientes de 23 estudos de que a vacinação contra o HPV reduz a incidência de neoplasia intraepitelial cervical de grau 3 ou superior (NIC3+), incluindo 12 estudos de coorte. Em dois estudos de coorte com 1,5 milhão de mulheres vacinadas até os 16 anos de idade, houve uma redução de 74% na incidência de CIN3+ a longo prazo (RR 0,26, IC 95% 0,12 a 0,56; I² = 80%). Três estudos de caso-controle, um estudo de extensão de ensaio clínico randomizado e três estudos transversais também relataram uma diminuição do risco de CIN3+ em participantes vacinados. Um estudo transversal não relatou diferença no risco de CIN3+. Três estudos de pré e pós-introdução da vacina relataram uma diminuição na incidência de CIN3+ após a introdução da vacina contra o HPV.
Houve evidência de certeza moderada, provenientes de 37 estudos, de que a vacinação contra o HPV reduz a incidência de CIN2+. Em estudos de coorte com mulheres vacinadas até os 16 anos de idade, observou-se uma redução do risco a médio prazo (RR 0,59, IC 95% 0,54 a 0,65; 2 estudos de coorte, 233.468 mulheres; I² = 0%) e a longo prazo (RR 0,38, IC 95% 0,31 a 0,45; 5 estudos de coorte, 6.455.176 mulheres; I² = 64%).
Houve evidência de certeza moderada, provenientes de 47 estudos, de que a vacinação contra o HPV reduz a incidência de verrugas anogenitais. A partir dos estudos de coorte com estimativas ajustadas, o impacto combinado da vacinação contra o HPV nas taxas de verrugas anogenitais indicou uma redução de 47% no médio prazo (RR 0,53, IC 95% 0,37 a 0,77; 4 estudos, 6.430.295 mulheres e 313 homens; I² = 98%) e de 53% no longo prazo (RR 0,47, IC 95% 0,36 a 0,61; 13 estudos, 4,5 milhões de pessoas-ano, mais 5.802.969 mulheres e homens; I² = 99%). Vinte e três estudos pré e pós-introdução da vacina relataram uma diminuição na incidência de verrugas anogenitais após a introdução da vacina contra o HPV. Seis estudos não relataram diferença na incidência de verrugas anogenitais.
Havia apenas evidência de muito baixa certeza sobre o efeito da vacinação contra o HPV na incidência de adenocarcinoma in situ (três estudos) e câncer vulvar (cinco estudos). Não foram identificados estudos que relatassem taxas comunitárias de eventos adversos graves após a vacinação contra o HPV.
Eventos adversos específicos
Em diversos estudos com diferentes desenhos, a vacinação contra o HPV não foi associada a um risco aumentado de síndrome da taquicardia ortostática postural, síndrome da fadiga crônica/encefalomielite miálgica, paralisia, síndrome da dor regional complexa, falência ovariana prematura, infertilidade ou atividade sexual (todos com evidência de certeza moderada). Havia evidência que sugeriam que a vacinação contra o HPV não estava associada a um risco aumentado de síndrome de Guillain-Barré (evidência de baixa certeza).
Conclusão dos autores
Já existem dados de desfecho a longo prazo provenientes de diferentes países e de diferentes desenhos de estudo que relatam consistentemente uma redução no desenvolvimento de neoplasia intraepitelial cervical de alto grau e câncer cervical em mulheres vacinadas contra o HPV no início da adolescência. Os dados mostram que a vacinação de adolescentes mais jovens, antes do início da atividade sexual, traz maiores benefícios. Há evidência de que a vacinação contra o HPV não aumenta o risco dos eventos adversos mais comuns relatados nas redes sociais.
Tradução do Cochrane Brazil (Aline Rocha). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com
Esta revisão Cochrane foi originalmente criada em inglês. A responsabilidade pela precisão da tradução é da equipe de tradução que a produziu. A tradução de revisões é realizada com cuidado e segue processos padronizados para garantir o controle de qualidade. No entanto, em caso de divergências, traduções imprecisas ou inadequadas, prevalece a versão original em inglês.