Passar para o conteúdo principal

Qual é a precisão de um exame de sangue que usa sangue coletado de uma veia em vez de sangue da artéria para diagnosticar alterações nos níveis de oxigênio, dióxido de carbono e acidez do sangue?

Mensagens‐chave

- Encontramos evidências limitadas de baixa qualidade no uso de sangue coletado de uma veia para detectar níveis alterados de oxigênio, dióxido de carbono e acidez em pacientes com insuficiência respiratória.

- Comparado ao sangue retirado de uma artéria, a retirada de sangue de uma veia resultaria em mais pacientes testando positivo para alterações quando não as têm (falsos positivos), o que faria com que a maioria dos pacientes também precisasse de sangue coletado de uma artéria.

Por que é importante melhorar a coleta de sangue para diagnosticar alterações nos níveis de oxigênio, dióxido de carbono e acidez do sangue em pessoas com insuficiência respiratória?

Quando uma pessoa não está bem, há uma alteração nos níveis de oxigênio, dióxido de carbono e outras substâncias no sangue. Isso pode ser detectado pela análise do sangue coletado de uma artéria ('arterial'). Ao medir a quantidade precisa de oxigênio e outras substâncias no sangue arterial, os profissionais médicos podem diagnosticar (e tratar) condições fatais, como insuficiência respiratória, altos níveis de dióxido de carbono no sangue e acidez alterada do sangue (também chamada de distúrbio metabólico).

Por razões de conveniência e maior conforto do paciente, alguns profissionais médicos utilizam sangue venoso (coletado de uma veia do braço ou da perna) em vez de sangue arterial.

O que é a gasometria venosa periférica?

A gasometria venosa periférica é a análise do sangue coletado de uma veia periférica do braço ou da perna e mensurado da maneira rotineira com um analisador de gases sanguíneos.

Se esse teste puder detectar todos os casos de pessoas com níveis alterados de oxigênio, dióxido de carbono e acidez no sangue, o número de pacientes que necessitam de punção de uma artéria, que é mais dolorosa e difícil de realizar, poderia ser reduzido. Se os testes de sangue venoso também fossem precisos na identificação de pacientes sem essas alterações sanguíneas, a perfuração de uma artéria poderia ser evitada.

O que queríamos descobrir?

Queríamos descobrir a precisão da análise de gases no sangue retirado de uma veia em vez de uma artéria em pessoas com suspeita de insuficiência respiratória ou alteração da acidez no sangue devido a doença subjacente ou anormalidade.

O que nós fizemos?

Buscamos estudos que incluíssem pessoas com suspeita de insuficiência respiratória, altos níveis de dióxido de carbono no sangue e acidez sanguínea alterada, que foram internadas em hospitais ou departamentos de emergência. Posteriormente, combinamos os resultados desses estudos.

O que nós encontramos?

Incluímos seis estudos com 919 adultos (895 com resultados relatados) com suspeita de insuficiência respiratória, altos níveis de dióxido de carbono no sangue e acidez alterada do sangue, de diversos ambientes, incluindo hospitais e departamentos de emergência.

Em 1000 pacientes, dos quais 330 apresentam insuficiência respiratória (confirmada por exame de sangue arterial), a precisão diagnóstica da gasometria venosa seria a seguinte:

- 325 testariam positivo e teriam insuficiência respiratória tratada adequadamente;
- 431 testariam positivo, mas não teriam insuficiência respiratória (falsos positivos), e as consequências seriam um tratamento inadequado ou prejudicial;
- 244 teriam resultado negativo, dos quais 239 seriam verdadeiros negativos e evitariam a punção arterial; e
- 5 teriam, na verdade, insuficiência respiratória (falsos negativos), e as consequências seriam diagnóstico e tratamento perdidos.

Da mesma forma, em 1000 pacientes, dos quais 330 apresentam níveis elevados de dióxido de carbono no sangue:

- 324 testariam positivo e teriam níveis elevados de dióxido de carbono no sangue tratados adequadamente;
- 311 testaria positivo, mas não teria níveis elevados de dióxido de carbono no sangue (falsos positivos), e as consequências seriam um tratamento inadequado ou prejudicial;
- 365 teriam resultado negativo, dos quais 359 seriam verdadeiros negativos e evitariam a punção arterial; e
- 6 na verdade teriam altos níveis de dióxido de carbono no sangue (falsos negativos), e as consequências seriam diagnóstico e tratamento perdidos.

Quais são as limitações das evidências?

Os resultados de precisão dos testes apresentados nesta revisão vêm de apenas seis estudos e não são precisos, particularmente na identificação de pacientes sem distúrbios metabólicos e sem alterações dos gases sanguíneos. Além disso, a seleção de pacientes e o processo de teste não foram relatados em detalhes, e estamos preocupados com a confiabilidade dos resultados do estudo.

Até quando as evidências incluídas estão atualizadas?

As evidência são baseadas em buscas realizadas até julho de 2024.

Introdução

A gasometria arterial é o padrão de referência para o diagnóstico de insuficiência respiratória e distúrbio metabólico. Apesar isso, a gasometria venosa periférica está sendo cada vez mais usada para estimar dióxido de carbono, pH e outras variáveis no contexto de adultos gravemente enfermos que se encontram em hospitais e departamentos de emergência.

Objetivos

O objetivo principal desta revisão é avaliar o desempenho da análise da gasometria venosa periférica comparando-a com o padrão de referência (gasometria arterial), que é considerado livre de erros para o diagnóstico de (1) insuficiência respiratória, (2) hipercapnia e (3) distúrbio metabólico (as três condições-alvo) em adultos.

O objetivo secundário é avaliar o desempenho do teste índex para diagnosticar nove subtipos específicos de insuficiência respiratória e distúrbios metabólicos. As definições para essas condições adicionais são determinadas por alterações em um ou mais das seguintes variáveis: pH (acidez), pO 2 (pressão parcial de oxigênio), pCO 2 (pressão parcial de dióxido de carbono), HCO 3 (bicarbonato), conforme declarado na seção Métodos desta revisão (condições alvo). Nosso objetivo foi explorar as seguintes covariáveis: dados demográficos dos participantes (por exemplo, idade, peso e sexo); comorbidades dos participantes (por exemplo, doença pulmonar crônica, deformidade da parede torácica e distúrbio do sistema nervoso central, como lesão da medula espinhal); e a indicação para coleta de amostras de gases sanguíneos (por exemplo, falta de ar, doença crítica, ressuscitação, trauma ou sob anestesia geral).

Métodos de busca

Em 10 de julho de 2024, realizamos buscas nas bases de dados eletrônicas MEDLINE, EMBASE, CINAHL e LILACS. Também realizamos buscas manuais em 19 periódicos sobre doenças respiratórias e cuidados intensivos, e pesquisamos ensaios clínicos em andamento no ClinicalTrials.gov.

Critério de seleção

Consideramos estudos de séries consecutivas e estudos de caso-controle que compararam diretamente o teste índex (gasometria venosa) com o padrão de referência (gasometria arterial) para adultos maiores de 16 anos. Os estudos incluídos continham dados para qualquer uma das condições-alvo de insuficiência respiratória e distúrbio metabólico, conforme determinado por alterações individuais na pO 2 , pCO 2 , pH e concentração de HCO 3 . Estudos que forneceram apenas valores médios para dados somados não foram elegíveis para inclusão. No entanto, convidamos os autores desses estudos a fornecer dados individuais dos pacientes para inclusão nesta revisão sistemática. Nove estudos se encontram no status aguardando classificação.

Coleta dos dados e análises

Dois autores avaliaram independentemente a qualidade dos estudos e extraíram os dados relevantes. Realizamos uma avaliação de qualidade usando a ferramenta QUADAS-2. Para a análise estatística foram utilizadas tabelas 2 x 2 para os resultados positivos e negativos de cada teste. Estimamos uma meta-análise bivariada de sensibilidade e especificidade.

Principais resultados

Incluímos seis estudos (919 participantes) em nossa análise quantitativa. Todos os estudos apresentaram alto risco de viés devido a um ou mais dos seguintes fatores: seleção de pacientes, pois não estava claro se pacientes consecutivos foram incluídos ou onde estavam localizados; teste índex, com relato deficiente de pontos de corte; domínio de fluxo e tempo porque a fração de oxigênio inspirado frequentemente não foi declarada e qualquer diferença entre a coleta do sangue venosos e do sangue arterial para as análises poderiam introduzir viéses.

Insuficiência respiratória

Para o diagnóstico de insuficiência respiratória de qualquer tipo, ao usar as análises da gasometria venosa, a sensibilidade estimada resumo (Sn) foi de 97,6% com intervalo de credibilidade (IC) de 95% 94,1 a 99,4 e a especificidade estimada resumo (Sp) foi de 36,9%, IC de 95% 17,1 a 60,1 [6 estudos, 805 participantes, dos quais 291 (36%) foram diagnosticados com insuficiência respiratória por gasometria arterial; sensibilidade: baixa certeza da evidência; especificidade: muito baixa certeza da evidência].

Hipercapnia isolada

Para o diagnóstico de hipercapnia isolada (independentemente do nível de oxigênio), ao usar gasometria venosa, o valor estimado do Sn resumo foi de 97,1%, IC 95% 93,3 a 99,2; o valor estimado do Sp resumo foi de 53,9%, IC 95% 39,8 a 66,7 [6 estudos com 805 participantes, 269 (33%) com confirmação pela gasometria arterial; baixa certeza da evidência].

Outras descobertas

Os resultados para distúrbios metabólicos e nossas condições-alvo secundárias são apresentados na revisão completa.

Conclusão dos autores

Dados muito limitados sugerem que a gasometria venosa tem baixo desempenho como teste diagnóstico de insuficiência respiratória em comparação a gasometria arterial (padrão de referência). O teste índex (gasometria venosa) foi altamente sensível para o diagnóstico de insuficiência respiratória e hipercapnia isolada, mas sua especificidade foi baixa para essas duas condições-alvo primárias. A alta sensibilidade significa que a gasometria venosa pode ter um papel útil como um "teste de exclusão" para insuficiência respiratória e hipercapnia isolada; no entanto, as altas taxas de falsos positivos dificultam a interpretação clínica de um teste positivo. Além disso, estamos incertos em relação a essas estimativas porque temos apenas uma certeza baixa a muito baixa sobre as evidências. São necessários mais estudos que utilizem limiares estabelecidos pela gasometria arterial para o diagnóstico de cada condição alvo.

Notas de tradução

Tradução do Cochrane Brazil (Aléxia Gabriela da Silva Vieira). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Citation
Byrne AL, Pace NL, Thomas PS, Symons RL, Chatterji R, Bennett M. Peripheral venous blood gas analysis for the diagnosis of respiratory failure, hypercarbia and metabolic disturbance in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2025, Issue 6. Art. No.: CD010841. DOI: 10.1002/14651858.CD010841.pub2.

O nosso uso de cookies

Usamos cookies necessárias para fazer nosso site funcionar. Gostaríamos também de definir cookies analíticos opcionais para nos ajudar a melhorar nosso site. Não vamos definir cookies opcionais a menos que você as habilite. A utilização desta ferramenta irá colocar uma cookie no seu dispositivo para lembrar as suas preferências. Você sempre pode alterar suas preferências de cookies a qualquer momento clicando no link 'Configurações de cookies' no rodapé de cada página.
Para informações mais detalhadas sobre as cookies que utilizamos, consulte nossa Página das Cookies.

Aceitar todas
Configure