Que fatores influenciam a decisão de uma pessoa de participar ou não de um ensaio clínico randomizado?

Qual é o objetivo desta revisão?

Os ensaios clínicos randomizados (ECRs) são necessários para entender se e como diferentes intervenções de saúde (tais como medicamentos, tipos de cirurgias, atividades de promoção da saúde, etc.) funcionam ou não. Conseguir que as pessoas participem dos estudos pode ser difícil e se não houver pessoas suficientes, o estudo não fornecerá as informações que pretendia. Aprendendo mais sobre o que influencia a decisão de uma pessoa de participar de um estudo, podemos fornecer orientações sobre a melhor maneira de incluir pessoas em estudos.

Para responder a esta pergunta, reunimos os resultados de 29 estudos que relataram as opiniões e experiências de pessoas que haviam sido convidadas a participar de um ECR.

Mensagens-chave

Vários fatores influenciam a decisão de uma pessoa de participar de um estudo, incluindo: como o estudo é estabelecido e comunicado; as circunstâncias pessoais das pessoas; e os benefícios potenciais da participação. É importante que aqueles que trabalham em estudos levem em consideração os resultados destes estudos ao convidar pessoas para participar. É importante que isto seja feito de forma a reconhecer que todas as pessoas são diferentes e podem considerar o estudo de uma maneira diferente.

O que foi estudado nesta revisão?

Buscamos estudos que avaliassem as opiniões daqueles que haviam sido convidados a participar de um ECR. Incluímos estudos com pessoas que tinham concordado em participar, bem como com pessoas que tinham decidido não participar. Incluímos estudos publicados desde o início do ano 2000.

Nossas buscas identificaram 29 estudos (publicados em 30 artigos) a serem incluídos nesta revisão. Foram realizados 16 estudos no Reino Unido, seis em outros países europeus, três nos EUA, um no Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Tanzânia. As evidências em que as pessoas foram convidadas a participar eram: câncer (n = 7); gravidez e parto (n = 5); medicina e cirurgia (n = 11); saúde mental (n = 2); e promoção da saúde (n = 4).

Nossa revisão apontou três fatores principais que influenciavam os participantes potenciais a concordarem ou não em participar de um estudo. Temos moderada a alta confiança nas seguintes conclusões.

Quais foram as principais conclusões?

As pessoas preferiram ser convidadas em um ambiente presencial, com informações comunicadas claramente. As informações escritas também foram úteis. O momento do convite é importante porque os participantes potenciais podem achar difícil reconhecer os cuidados que normalmente recebem e os cuidados que seriam prestados como parte do estudo.

A necessidade de ter um compromisso com o estudo pode fazer com que as pessoas se preocupem em participar. Alguns acreditavam que os compromissos extras e o tempo envolvido seriam dificuldades. Às vezes, é oferecido dinheiro às pessoas como forma de recompensá-las por seu compromisso. O pagamento foi bem recebido por alguns, porém não foi visto como um fator muito importante que influencia sua decisão.

Se alguém se sente saudável, pode não querer arriscar sua saúde participando de um estudo. Se alguém se sente mal, pode não querer correr o risco de piorar sua saúde. Por outro lado, alguém que é saudável ou muito doente pode sentir que não tem "nada a perder" ao participar de um estudo. Portanto, não se trata apenas de como alguém é saudável, mas de como se sente sobre sua própria saúde.

Além disso, o médico ou enfermeiro da pessoa pode dizer algo que influencie sua decisão, assim como algo dito pela família, amigos ou na mídia. É importante que as pessoas que estão recrutando alguém saibam quem tem influência quando essa pessoa está tomando suas decisões.

As pessoas são influenciadas pela chance de melhorar, a chance de se sentirem melhor se a terapia ou tratamento funcionar, ou a oportunidade de fazer a diferença ajudando outras pessoas no futuro.

Convidar as pessoas a participar de um estudo deve ser feito de uma forma que considere cada pessoa individualmente, porque não há "uma medida única que serve a todos" quando se trata de tomar esta decisão.

Até que ponto esta revisão está atualizada?

Esta revisão inclui estudos publicados até 1 de junho de 2017.

Conclusão dos autores: 

Esta síntese de evidências qualitativas forneceu uma visão abrangente da complexidade dos fatores que influenciam a decisão de uma pessoa de participar ou não de um estudo. Desenvolvemos perguntas-chave que os experimentadores podem fazer ao desenvolver sua estratégia de recrutamento. Além disso, nosso modelo conceitual enfatiza a necessidade de abordagens centradas nos participantes para o recrutamento. Temos confiança de moderada a alta em nossas conclusões, o que de alguma forma pode ser atribuído ao grande volume de estudos altamente relevantes nesta área. Recomendamos que esses conhecimentos sejam usados para direcionar ou influenciar ou sustentar futuras estratégias de recrutamento que são desenvolvidas de forma participativa que, em última análise, melhora a condução dos estudos e reduz o desperdício em pesquisas.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Os ensaios clínicos randomizados (ECRs) (também chamados de "ensaios controlados aleatorizados") são a maneira ideal de minimizar o viés na avaliação dos efeitos de tratamentos, terapias e inovações nos cuidados de saúde. É importante atingir o tamanho de amostra necessário para um ensaio clínico. Caso contrário, os pesquisadores podem não ser capazes de obter resultados conclusivos e pode haver desperdício na pesquisa, o que levanta também questões éticas sobre a participação nestes estudos. As razões pelas quais os participantes potenciais podem aceitar ou recusar a participação são multifacetadas. No entanto, a evidência da eficácia das intervenções para melhorar o recrutamento para estudos não é substancial e não reconhece estes processos individuais de tomada de decisão. É importante sintetizar as experiências e percepções de pessoas convidadas a participar de ECRs para melhor informar as estratégias de recrutamento.

Objetivos: 

Explorar os pontos de vista e as experiências dos potenciais participantes do processo de recrutamento para participação em ECRs. Os objetivos específicos são descrever as percepções e experiências dos participantes potenciais ao aceitar ou recusar a participação em ECRs, explorar barreiras e facilitadores para a participação nestes estudos, e explorar até que ponto as barreiras e facilitadores identificados são abordados por estratégias para melhorar o recrutamento avaliado em revisões anteriores dos efeitos das intervenções, incluindo uma Revisão Metodológica Cochrane.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas na Cochrane Library, Medline, Embase, CINAHL, Epistemonikos, LILACS, PsycINFO, ORRCA, e fontes de literatura cinzenta. Executamos o mais recente conjunto de buscas cujos resultados foram incorporados à revisão em julho de 2017.

Critério de seleção: 

Incluímos estudos qualitativos e de métodos mistos (com um componente qualitativo identificável) que exploraram as experiências e percepções dos participantes potenciais do ECR e as percepções de serem convidados a participar de um estudo. Excluímos estudos que se concentravam apenas nas perspectivas dos recrutadores, e estudos que envolviam apenas crianças menores de 18 anos, ou adultos com limitação da capacidade mental.

Coleta dos dados e análises: 

Cinco autores de revisão, trabalhando de forma independente, avaliaram os títulos, resumos e textos completos identificados pela busca. Utilizamos os critérios CART (completude/integralidade, acurácia, relevância, temporalidade/atualidade) para excluir estudos que tinham foco limitado sobre o fenômeno de interesse. Utilizamos o QSR NVivo para extrair e gerenciar os dados. Avaliamos as limitações metodológicas com a ferramenta Critical Skills Appraisal Programme (CASP). Utilizamos a síntese temática para analisar e sintetizar as evidências. Isto forneceu temas analíticos e um modelo conceitual. Usamos a abordagem GRADE-CERQual (Confidence in the Evidence from Reviews of Qualitative research) para avaliar a nossa confiança em cada resultado. Nossos resultados foram integrados com duas revisões de eficácia de intervenções anteriores, que incluíram as conclusões quantitativas e qualitativas em uma matriz de forma justaposta.

Principais resultados: 

Incluímos 29 estudos (publicados em 30 artigos) em nossa síntese. Vinte e dois resultados-chave foram produzidas sob três grandes temas (com seis subtemas) para captar a experiência de ser convidado a participar de um estudo e tomar a decisão de participar ou não. Tivemos confiança moderada a alta na maioria destes resultados. Identificamos fatores do próprio estudo que influenciaram a participação. Estes fatores incluíam: como as informações do estudo eram comunicadas, e elementos do estudo, tais como o compromisso de tempo que poderia ser considerado uma dificuldade. O segundo tema relacionado a fatores pessoais como, por exemplo: como outras pessoas podem influenciar a decisão do indivíduo; e como uma compreensão pessoal dos danos e benefícios potenciais pode ter impacto sobre a decisão. Finalmente, os benefícios potenciais da participação foram considerados fundamentais para a decisão de participar, ou seja, benefícios pessoais como o acesso a novos tratamentos, mas também a chance de fazer a diferença e ajudar os outros. O modelo conceitual que desenvolvemos apresenta o processo de tomada de decisão e os fatores que influenciam se a pessoa participará ou não.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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