Abordagens para orientar o uso de oxigênio em pacientes adultos com síndrome do desconforto respiratório agudo em cuidados intensivos

Introdução

A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é um problema respiratório muito grave e com uma alta taxa de mortalidade (chance de morrer). Várias condições podem levar à SDRA, incluindo infecções virais, como a COVID-19. Entretanto, não há tratamentos específicos para os pacientes com SDRA, exceto fornecer a eles oxigênio através de um ventilador (máquina de respiração artificial) em uma unidade de terapia intensiva, muitas vezes por um período prolongado. No entanto, o uso de grandes quantidades de oxigênio estão associadas ao aumento do risco de danos aos pacientes devido a outras condições (por exemplo, ataque cardíaco ou derrame cerebral). Isto se aplica tanto ao uso de uma alta concentração de oxigênio quanto ao uso deste gás por um período prolongado.

O que queríamos descobrir?

Queríamos saber se os pacientes com problemas pulmonares graves (SDRA) teriam melhores resultados (inclusive menor chance de morrer) se recebessem maiores ou menores quantidades de oxigênio através de um ventilador durante seus cuidados intensivos

Métodos

Fizemos buscas nos principais bancos de dados médicos até 15 de maio de 2020 para encontrar ensaios clínicos que estudaram o uso de oxigênio em pacientes adultos com SDRA em unidades de terapia intensiva. Procuramos apenas por estudos com os pacientes mais doentes, ou seja, aqueles que precisavam de ajuda para respirar, com o uso de um tubo que estava conectado a uma máquina de respiração artificial. Não restringimos a busca por idioma da publicação.

Extraímos e analisamos os dados de quaisquer estudos que preenchessem a estes critérios. Além disso, avaliamos o risco de viés (qualidade metodológica) e a certeza (confiança) nos resultados dos estudos incluídos.

Resultados

Incluímos apenas um estudo (com um total de 205 participantes) na revisão. Os pacientes com SDRA que recebem oxigênio através de um tubo podem ter uma chance maior de morrer se receberem quantidades menores de oxigênio do que se receberem quantidades muito maiores de oxigênio. Entretanto, temos muito baixa confiança neste resultado.

Certeza (qualidade) da evidência

A certeza (confiança) nas evidências encontradas nesta revisão é muito baixa, pois os dados encontrados estavam disponíveis em apenas um estudo. Além disso, este estudo tinha um pequeno número de participantes e foi interrompido antes do previsto devido a preocupações com a segurança dos participantes. Por estes motivos, não podemos dizer definitivamente se ofertar mais ou menos oxigênio é benéfico aos pacientes com SDRA.

Conclusão dos autores: 

As evidências são muito incertas para saber se uma meta de oxigênio mais alta ou mais baixa é mais benéfica em pacientes com SDRA sob ventilação mecânica em um ambiente de terapia intensiva. Identificamos apenas um ECR, com um total de 205 participantes, que avaliou esta questão. Classificamos o risco de viés no estudo como alto e a certeza nos resultados deste estudo como muito baixa. Outros estudos bem conduzidos são urgentemente necessários para aumentar a confiança (certeza) nos resultados relatados. Esta revisão deve ser atualizada quando houver mais evidências disponíveis.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

O oxigênio suplementar é frequentemente administrado a pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), incluindo SDRA secundária a doenças virais, como a doença do coronavírus 19 (COVID-19). Há uma urgente necessidade de atualizar os conhecimentos sobre como melhor direcionar esta terapia (por exemplo, o valor alvo a ser atingido de pressão parcial arterial de oxigênio PaO2) ou de saturação periférica de oxigênio (SpO2) nestes pacientes.

Objetivos: 

Investigar qual alvo de oxigenação deve ser implementado em adultos com SDRA (particularmente SDRA secundária à COVID-19 ou outros vírus respiratórios) que requerem oxigenoterapia sob ventilação mecânica em uma unidade de terapia intensiva; e avaliar o impacto da oxigenoterapia na mortalidade, dias de ventilação mecânica, dias de uso de catecolaminas, necessidade de terapia renal substitutiva e qualidade de vida.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas no Cochrane COVID-19 Study Register, CENTRAL, MEDLINE e Embase desde a criação da base até 15 de maio de 2020 para encontrar ensaios clínicos randomizados (ECRs) em andamento ou concluídos.

Critério de seleção: 

Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, avaliaram todos as citações e selecionaram os estudos de acordo com a metodologia padrão da Cochrane.

Incluímos ECRs que compararam diferentes faixas de PaO2 ou SpO2 alvo durante a administração de oxigênio suplementar em adultos com SDRA sob ventilação mecânica em unidades de terapia intensiva. Excluímos estudos que avaliaram a administração de oxigênio em pacientes com diagnósticos diferentes ou aqueles que receberam ventilação não invasiva, cateter nasal de alto fluxo, ou oxigênio via máscara facial.

Coleta dos dados e análises: 

Um autor da revisão realizou a extração dos dados e um segundo autor checou os dados extraídos. Avaliamos o risco de viés dos estudos incluídos usando a ferramenta de avaliação de risco de viés da Cochrane. Utilizamos a abordagem GRADE para julgar a certeza das evidências para os seguintes desfechos: mortalidade no tempo de acompanhamento mais longo, dias de ventilação, dias de uso de catecolaminas e necessidade de terapia renal substitutiva.

Principais resultados: 

Identificamos um ECR completo que comparou diferentes alvos de oxigenação em pacientes com SDRA sob ventilação mecânica em uma unidade de terapia intensiva. O estudo randomizou 205 pacientes com SDRA sob ventilação mecânica para receber o alvo de oxigenação conservador (PaO2 55 a 70 mmHg, ou SpO2 88% a 92%) ou o alvo de oxigenação liberal (PaO2 90 a 105 mmHg, ou SpO2 96%) por sete dias.

O risco de viés geral do estudo foi alto (devido à falta de cegamento, ao pequeno número de participantes e à interrupção prematura do ECR), e avaliamos a certeza nas evidências provenientes deste estudo como muito baixa. Os dados disponíveis sugerem que a mortalidade após 90 dias pode ser maior nos participantes que recebem uma oxigenação alvo menor do que naqueles que recebem uma oxigenação alvo maior (odds ratio (OR) 1,83, intervalo de confiança (IC) de 95% 1,03 a 3,27). Não encontramos evidência de diferença entre o grupo que recebeu o alvo de oxigenação mais baixo comparado com o que recebeu o alvo de oxigenação mais alto quanto ao número médio de dias de ventilação (14,0, IC 95% 10,0 a 18,0 versus 14,5, IC 95% 11,8 a 17,1); número de dias de uso de catecolamina (8,0, IC 95% 5,5 a 10,5 versus 7,2, IC 95% 5,9 a 8,4); ou proporção de participantes que receberam terapia renal substitutiva (13,7%, IC 95% 5,8% a 21,6% versus 12,0%, IC 95% 5,0% a 19,1%). A qualidade de vida não foi relatada.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Aléxia Gabriela da Silva Vieira e Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Tools
Information