Pessoas gravemente doentes com insuficiência respiratória aguda grave precisam da ajuda de aparelhos que bombeiam ar para dentro dos seus pulmões (ventilação mecânica) para sobreviver. A ventilação mecânica ganha tempo para que os pulmões consigam se recuperar e voltem a funcionar sozinhos. Porém, mesmo com esse tratamento, 35% a 65% dos pacientes nessas condições ainda morrem. Diversos estudos sugerem que a ventilação mecânica também pode provocar danos aos pulmões e desencadear sangramento local. Estudos grandes testaram um novo tipo de ventilação mecânica que agrediria menos os pulmões. Nesta terceira atualização da revisão da Cochrane, fizemos buscas em bases de dados eletrônicas procurando por estudos que houvessem sido publicados até setembro de 2012. Porém, não encontramos nenhum estudo novo que fosse elegível para inclusão. Portanto, esta última versão da revisão continua contando com um total de seis estudos, envolvendo 1297 pessoas. Esta revisão sistemática concluiu que essa forma mais suave de respiração mecânica (ventilação protetora) pode diminuir em média 26% o número de pessoas que morrem, no curto prazo.No entanto, os efeitos no longo prazo são incertos ou desconhecidos.
A interpretação das metanálises foi prejudicada devido à existência de heterogeneidade clínica entre os estudos. Por exemplo, em dois estudos, a duração do seguimento foi diferente e a pressão de platô foi maior nos braços controle. A intervenção levou a uma redução significativa da mortalidade até o 28o e até o dia da alta hospitalar. Os efeitos da intervenção no longo prazo são desconhecidos. Porém não é possível afastar a possibilidade de que a intervenção traga benefícios clínicos relevantes. A ventilação mecânica com baixo volume corrente está se tornando rotineira no tratamento da SARA e da lesão pulmonar aguda. Isso reduz o interesse dos investigadores em realizar novos ECRs.
Os pacientes com síndrome de angustia respiratória aguda (SARA) e com lesões pulmonares agudas precisam de ventilação mecânica. Entretanto, a própria ventilação mecânica pode ocasionar complicações adicionais para esses pacientes. Estratégias ventilatórias de proteção pulmonar podem melhorar a sobrevida dos pacientes. Esta é uma atualização de uma revisão sistemática Cochrane publicada pela primeira vez em 2003 e atualizada em 2007.
Avaliar os efeitos da ventilação mecânica com baixo volume corrente sobre a morbidade e mortalidade de pacientes, com 16 anos ou mais, com SARA e lesão pulmonar aguda. O objetivo secundário foi avaliar se a comparação entre o volume corrente baixo e convencional seria diferente caso fosse utilizada uma pressão de platô das vias aéreas maior que 30 a 35 cm H20.
Na nossa atualização de 2007, fizemos buscas nas bases de dados desde seu início até 2006. Nesta terceira atualização, fizemos buscas nas seguintes bases de dados, de 2006 até setembro de 2012: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, EMBASE, CINAHL e Web of Science. Também pesquisamos por estudos em andamento e verificamos as listas de referências de 2006 até setembro de 2012.
Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECR) que compararam ventilação com baixo volume corrente (Vt) ou baixa pressão de vias aéreas (pressão de platô menor ou igual a 30 cm H2O), resultando em um volume corrente de até 7 ml/kg, versus ventilação com Vt entre 10 a 15 ml/kg, em adultos (idade maior ou igual a 16 anos) com SARA e lesão pulmonar aguda.
Os autores da revisão, trabalhando de forma independente, avaliaram a qualidade dos estudos e fizeram a extração dos dados. Sempre que apropriado, os resultados foram combinados em metanálises. Usamos modelos de efeito fixo e aleatório.
Nesta atualização, não encontramos nenhum estudo novo que preenchesse nossos critérios de inclusão. O número de estudos da revisão permaneceu inalterado: seis estudos envolvendo 1297 pacientes. Cinco ECRs tinham um baixo risco de viés. Um estudo tinha risco de viés incerto. A mortalidade até o 28o dia foi significativamente menor no grupo que recebeu ventilação mecânica protetora:risco relativo (RR) 0,74, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,61 a 0,88. A mortalidade hospitalar também foi menor nesse grupo: RR 0,80, IC 95% 0,69 a 0,92. Não houve diferença significante na mortalidade geral com o uso de pressão de platô menor ou igual a 31 cm H2O no grupo controle: RR 1,13, IC 95% 0,88 a 1,45. Não há evidência suficiente para avaliarmos o efeito da intervenção sobre morbidade ou desfechos no longo prazo.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Marcio Ferreira Penha). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br