Estratégias que podem ajudar a incentivar as pessoas a continuar a participar de um ensaio clínico randomizado (um tipo de estudo científico)

Por que esta revisão é importante?

Os ensaios clínicos randomizados (ECR) são um tipo de estudo científico frequentemente usado para testar novos tratamentos de saúde. Em um ECR, as pessoas que concordam em participar são designadas aleatoriamente (por acaso) em um de dois ou mais grupos de tratamento e depois estudadas por um período de tempo. A equipe de pesquisa tenta manter contato com eles para coletar informações sobre sua evolução. Este "acompanhamento" pode durar de dias a anos dependendo do estudo. No entanto, quanto mais tempo o acompanhamento durar, mais difícil ele pode ser. Isto pode ocorrer porque as pessoas estão muito ocupadas para responder, não podem ir a uma clínica, ou simplesmente não querem mais participar. Manter as pessoas em um acompanhamento é chamado de "retenção". Se a retenção for ruim, os resultados do estudo podem se tornar menos certos. Porém, a maioria dos estudos não obtém dados de todas as pessoas que iniciaram no estudo.

As informações coletadas durante o acompanhamento, às vezes chamadas de dados, ajudam a equipe do estudo a determinar qual dos tratamentos que estão sendo testados funciona melhor. Muitas vezes, estas informações são coletadas diretamente dos pacientes, solicitando a eles que preencham um questionário ou solicitando que voltem para uma consulta clínica.

Há muitas maneiras de coletar dados de pessoas em estudos. Estas maneiras incluem o uso de cartas, internet, chamadas telefônicas, mensagens de texto, reuniões presenciais ou o retorno de kits de exames médicos. As equipes de pesquisa utilizam métodos diferentes para tentar coletar dados e é importante saber quais estratégias são efetivas e válidas. Por esta razão, fizemos esta revisão para comparar o sucesso de diferentes estratégias.

Como encontramos e avaliamos as evidências?

Fizemos buscas em bases de dados científicos para encontrar estudos que comparassem estratégias que as equipes de pesquisa utilizavam para melhorar a retenção de participantes em estudos. Os estudos poderiam comparar uma estratégia contra a outra ou contra a não utilização de tal estratégia. Buscamos por estudos que incluíssem participantes de qualquer idade, sexo, etnia, idioma ou grupo geográfico. Comparamos então os resultados dos estudos e resumimos as evidências que havíamos encontrado. Finalmente, classificamos nossa confiança nesta evidência, com base em fatores como os métodos usados nos estudos e seu tamanho, e a consistência dos achados em todos os estudos.

O que encontramos?

Identificamos 70 artigos relevantes, que relataram 81 estudos de retenção envolvendo mais de 100.000 participantes. Estes estudos haviam investigado diferentes maneiras de tentar incentivar participantes de ensaios clínicos randomizados a fornecer dados e permanecer no estudo. Organizamos estes estudos em grandes grupos de comparação. Entretanto, infelizmente, não foi possível afirmar com confiança que qualquer dos efeitos encontrados como resultados são verdadeiros e não causados por outros fatores, tais como falhas no desenho dos estudos. Portanto, o efeito das estratégias de incentivar as pessoas a permanecerem envolvidas nesses estudos ainda não está claro e mais pesquisas são necessárias para verificar se estes métodos de retenção realmente funcionam.

Até que ponto as evidências desta revisão estão atualizadas e são de confiança?

As estratégias identificadas foram testadas em ensaios clínicos randomizados conduzidos em diversas áreas e cenários. Porém, em alguns casos, estas estratégias foram testadas em apenas um estudo. Nenhuma das comparações feitas forneceram evidências de alta qualidade e mais estudos são necessários para ajudar a fornecer mais confiança nos resultados encontrados. As evidências nesta Revisão Cochrane estão atualizadas até Janeiro de 2020.

Conclusão dos autores: 

A maioria das intervenções que identificamos visava melhorar a retenção na forma de resposta ao questionário postal. Houve poucas avaliações de maneiras de melhorar o retorno dos participantes aos centros do estudo para o seu acompanhamento. Nenhuma das comparações é apoiada por evidências de alta certeza. As comparações em que a certeza na evidência poderia ser melhorada com a adição de estudos bem feitos desta revisão devem ser o foco para avaliações futuras.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A má retenção de participantes em ensaios clínicos randomizados (ECR) pode levar à falta de dados de desfechos. Isto pode introduzir vieses, reduzir o poder do estudo e afetar a generalização, validade e confiabilidade dos resultados. Muitas estratégias são usadas para melhorar a retenção de participantes nos estudos. Entretanto, poucas foram formalmente avaliadas.

Objetivos: 

Quantificar o efeito de estratégias para melhorar a retenção de participantes em ECRs e investigar se o efeito variou de acordo com o cenário do estudo.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas, usando uma estratégia de busca específica direta ou indireta na base de dados ORRCA, Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, Scopus, PsycINFO, CINAHL, Web of Science Core Collection (SCI-expanded, SSCI, CPSI-S, CPCI-SSH e ESCI). Para identificar estudos em andamento ou concluídos recentemente sobre retenção, também fizemos buscas no repositório SWAT Fizemos nossas buscas mais recentes em Janeiro de 2020.

Critério de seleção: 

Incluímos ECRs ou ensaios quase randomizados elegíveis de avaliações de estratégias para aumentar a retenção que foram incorporados em ECRs "hospedeiros" de todas as áreas de doenças e ambientes de saúde. Excluímos estudos que tinham o objetivo de aumentar a adesão ao tratamento.

Coleta dos dados e análises: 

Extraímos dados sobre: a estratégia de retenção que estava sendo avaliada; localização do estudo; cenário do estudo; método de randomização; números e proporções em cada intervenção e grupo comparador. Utilizamos uma diferença de risco (DR) e um intervalo de confiança de IC 95% para estimar a efetividade das estratégias para melhorar a retenção. Avaliamos a heterogeneidade entre os estudos. Aplicamos o GRADE para determinar a certeza da evidência dentro de cada comparação.

Principais resultados: 

Identificamos 70 artigos elegíveis que relataram dados de 81 estudos de retenção. Incluímos 69 estudos com mais de 100.000 participantes nas meta-análises finais. Dentre estes, 67 estudos avaliaram intervenções direcionadas aos participantes do estudo e dois avaliaram intervenções direcionadas ao pessoal do estudo envolvido na retenção. Todos os estudos eram na área de saúde e a maioria visava melhorar a resposta ao questionário postal. As intervenções foram categorizadas em amplos grupos de comparação: Coleta de dados; Participantes; Local e funcionários do local; Gerenciamento central de estudos; e Desenho de estudo.

Estes grupos de intervenção consistiram de 52 comparações, nenhuma das quais foi apoiada por alta certeza na evidência, conforme determinado pela avaliação do GRADE. Houve moderada certeza nas evidências em quatro comparações, três destas, apoiavam a retenção (com kits de auto-amostragem, recompensa monetária juntamente com lembrete ou aviso prévio e entrega de caneta no recrutamento) e uma apoiava a redução da retenção (com inclusão de um diário com acompanhamento habitual em comparação com o acompanhamento habitual sozinho). Dos estudos restantes, 20 apresentaram baixa certeza na evidência e 28 apresentaram muito baixa certeza na evidência, segundo GRADE.

Nossas conclusões fornecem uma lista de prioridades para replicação em futuros estudos, especialmente no que diz respeito às comparações que atualmente se baseiam em um único estudo.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Mayara Rodrigues Batista e Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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