Fatores que influenciam a prestação de serviços de reabilitação domiciliários para pessoas que necessitam de reabilitação: uma síntese de evidência qualitativa 

O objetivo desta síntese de evidência qualitativa da Cochrane foi explorar os fatores que influenciam os serviços de reabilitação que são prestados no domicílio das pessoas. A síntese analisou os serviços prestados presencialmente, bem como os serviços prestados através da telerreabilitação. Para responder a esta questão, analisámos 53 estudos qualitativos.

Mensagens-chave

A reabilitação ao domicílio, prestada pessoalmente ou através de telerreabilitação, pode ser considerada mais acessível e mais conveniente do que os serviços prestados nas instituições. As pessoas doentes, os prestadores de cuidados e os familiares também descrevem o modo como os serviços domiciliários podem alterar a natureza das suas relações e ter implicações práticas e de recursos que podem ser tanto positivas como negativas.

O que é que foi estudado nesta síntese?

A pandemia de COVID-19 levou a uma maior concentração dos cuidados de saúde no domicílio. Inclui a prestação de serviços de reabilitação ao domicílio, prestados pessoalmente ou através da telerreabilitação. Os serviços de reabilitação ao domicílio podem tornar-se uma opção comum no processo de recuperação dos doentes, em instituições ou como complemento desses serviços. A telerreabilitação está também a tornar-se mais comum à medida que aumenta o acesso das pessoas às tecnologias digitais. 

Quais são as principais conclusões desta síntese?

Analisámos 53 estudos qualitativos em que as pessoas doentes receberam serviços de reabilitação nas suas próprias casas. Em alguns dos estudos, os prestadores de cuidados de saúde prestaram os serviços pessoalmente. Nos outros estudos, os prestadores de serviços prestaram os serviços através da telerreabilitação, utilizando tecnologias digitais. Os estudos exploraram os pontos de vista e as experiências das pessoas doentes, das famílias e dos prestadores de cuidados de saúde. A maioria dos estudos foi efetuada em países com rendimentos elevados. 

Os nossos resultados destacam vários fatores que podem influenciar a organização e a prestação da reabilitação domiciliária. Temos uma confiança moderada a elevada nas seguintes conclusões.

Serviços de reabilitação ao domicílio prestados presencialmente ou através de telerreabilitação

As pessoas doentes consideram que os serviços no domicílio são convenientes e menos disruptivos das suas atividades de vida diária. As pessoas doentes e os prestadores também sugerem que estes serviços podem incentivar a auto-gestão das pessoas e fazer com que se sintam capacitadas para o processo de reabilitação. Mas as pessoas doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde descrevem questões de privacidade e confidencialidade quando os serviços são prestados em casa. Estas incluem a maior privacidade de poder fazer exercício em casa, mas também a perda de privacidade quando a sua vida é visível para os outros. 

As pessoas doentes e os prestadores também descrevem outros fatores que podem afetar o sucesso dos serviços de reabilitação ao domicílio. Estas incluem o apoio dos prestadores e dos membros da família, uma boa comunicação com os prestadores de serviços, os requisitos impostos às pessoas doentes e ao seu ambiente e a transição dos serviços hospitalares para os serviços domiciliários.

Especificamente telerreabilitação

As pessoas doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde vêem a telerreabilitação como uma oportunidade para tornar os serviços mais disponíveis. Mas os prestadores de serviços apontam problemas práticos para avaliar se as pessoas doentes estão a fazer os exercícios corretamente. Os prestadores de cuidados de saúde e as pessoas doentes também descrevem interrupções por parte de membros da família. 

Além disso, os prestadores queixam-se da falta de equipamento, infra-estruturas e manutenção e as pessoas doentes referem problemas de utilização e frustração com a tecnologia digital. Os prestadores de serviços têm opiniões diferentes sobre se a telerreabilitação é rentável para eles. No entanto, muitos doentes consideram a telerreabilitação acessível e económica se o equipamento e as infra-estruturas tiverem sido disponibilizados.

As pessoas doentes e os prestadores de serviços sugerem que a telerreabilitação pode mudar a natureza da sua relação. Por exemplo, algumas pessoas doentes descrevem o modo como a telerreabilitação permite uma comunicação mais fácil e mais descontraída. Outras pessoas doentes descrevem sentirem-se abandonadas quando recebem serviços de telerreabilitação. 

As pessoas doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde apelam por tecnologias fáceis de utilizar e a mais formação e apoio. Sugerem também que são necessárias, pelo menos, algumas sessões presenciais com o prestador de serviços. Consideram que os serviços de telerreabilitação, por si só, podem dificultar a criação de ligações significativas. Explicam também que alguns serviços precisam da presença do prestador. Os prestadores de serviços sublinham a importância de personalizar os serviços de acordo com as necessidades e circunstâncias de cada pessoa.

Quão atualizada se encontra esta síntese?

Procurámos estudos que tinham sido publicados até 16 de junho de 2022.

Conclusão dos autores: 

Esta síntese identificou vários fatores que podem influenciar o sucesso da implementação de serviços de reabilitação domiciliária presencial e de telerreabilitação. Estas incluíam fatores que facilitam a implementação, mas também fatores que podem desafiar este processo. Os prestadores de cuidados de saúde, os responsáveis pelo planeamento de programas e os decisores políticos podem considerar o beneficio destes fatores ao conceberem e implementarem programas. 

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Para aumentar o acesso das pessoas aos serviços de reabilitação, especialmente no contexto da pandemia de COVID-19, temos de explorar a forma como a prestação destes serviços pode ser adaptada. Isto inclui o recurso à reabilitação domiciliária e à telerreabilitação. Os serviços de reabilitação no domicílio podem tornar-se opções frequentemente utilizadas no processo de recuperação das pessoas doentes, não só como uma solução para as barreiras de acessibilidade, mas também como um complemento à habitual prestação de serviços de reabilitação em regime de internamento. A telerreabilitação está também a tornar-se mais viável à medida que a facilidade de utilização e a disponibilidade das tecnologias de comunicação melhoram.

Objetivos: 

Identificar os fatores que influenciam a organização e a prestação de serviços de reabilitação domiciliária presencial e de telerreabilitação domiciliária em pessoas que necessitam de reabilitação.

Métodos de busca: 

Pesquisámos PubMed, Global Health,VHL Regional Portal, Epistemonikos, Health Systems Evidence e EBM Reviews, bem como preprints, repositórios regionais e sites de organizações de reabilitação para estudos elegíveis, desde o início das bases de dados até à data de pesquisa em junho de 2022. 

Critério de seleção: 

Incluímos estudos que utilizaram métodos qualitativos para a recolha e análise de dados; e que exploraram as experiências, perceções e comportamentos das pessoas doentes, cuidadores, prestadores de cuidados de saúde e outros parceiros interessados na prestação de serviços de reabilitação domiciliária presencial e de telerreabilitação domiciliária que respondem às necessidades das pessoas doentes em diferentes fases da sua condição de saúde.  

Coleta dos dados e análises: 

Utilizámos uma abordagem de amostragem intencional e aplicámos uma variação máxima na amostra, numa estrutura de amostragem em quatro etapas. Efetuámos uma análise temática utilizando a framework CFIR (Consolidated Framework for Implementation Research) como ponto de partida. Utilizámos a abordagem GRADE-CERQual (Confidence in the Evidence from Reviews of Qualitative Research) para avaliar a qualidade da evidência. 

Principais resultados: 

Incluímos 223 estudos na revisão e selecionámos 53 deles para a nossa análise. Quarenta e cinco estudos foram realizados em países de elevado rendimento e oito em países de baixo e médio rendimento. Vinte estudos abordaram a reabilitação domiciliária presencial, 28 estudos abordaram os serviços de telerreabilitação domiciliária e cinco estudos abordaram ambos os modos de prestação. Os estudos exploraram principalmente as perspetivas dos prestadores de cuidados de saúde, das pessoas doentes com uma série de condições de saúde diferentes e dos seus cuidadores informais e membros da família. 

Com base nas nossas avaliações GRADE-CERQual, tivemos uma confiança elevada em oito dos achados e uma confiança moderada em cinco, indicando que é altamente provável ou provável, respetivamente, que estes resultados sejam uma representação razoável do fenómeno de interesse. Houve duas conclusões com baixo nível de confiança.

Resultados de confiança elevada e moderada

Serviços de reabilitação ao domicílio prestados presencialmente ou através de telerreabilitação

As pessoas doentes consideram que os serviços no domicílio são convenientes e menos disruptivos das suas atividades de vida diária. As pessoas doentes e os prestadores também sugerem que estes serviços podem incentivar a auto-gestão das pessoas e fazer com que se sintam capacitadas para o processo de reabilitação. Mas os doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde descrevem questões de privacidade e confidencialidade quando os serviços são prestados em casa. Estas incluem a maior privacidade de poder fazer exercício em casa, mas também a perda de privacidade quando a sua vida é visível para os outros. 

As pessoas doentes e os prestadores também descrevem outros fatores que podem afetar o sucesso dos serviços de reabilitação ao domicílio. Estas incluem o apoio dos prestadores e dos membros da família, uma boa comunicação com os prestadores de serviços, os requisitos impostos às pessoas doentes e ao seu ambiente e a transição dos serviços hospitalares para os serviços domiciliários.

Especificamente telerreabilitação

As pessoas doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde vêem a telerreabilitação como uma oportunidade para tornar os serviços mais disponíveis. Mas os prestadores de serviços apontam problemas práticos para avaliar se as pessoas doentes estão a fazer os exercícios corretamente. Os prestadores de cuidados de saúde e as pessoas doentes também descrevem interrupções por parte de membros da família. 

Além disso, os prestadores queixam-se da falta de equipamento, infra-estruturas e manutenção e as pessoas doentes referem problemas de utilização e frustração com a tecnologia digital. Os prestadores de serviços têm opiniões diferentes sobre se a telerreabilitação é rentável para eles. No entanto, muitas pessoas doentes consideram a telerreabilitação acessível e económica se o equipamento e as infra-estruturas tiverem sido disponibilizados.

As pessoas doentes e os prestadores de serviços sugerem que a telerreabilitação pode mudar a natureza da sua relação. Por exemplo, algumas pessoas doentes descrevem o modo como a telerreabilitação permite uma comunicação mais fácil e mais descontraída. Outras pessoas doentes descrevem sentirem-se abandonadas quando recebem serviços de telerreabilitação. 

As pessoas doentes, os familiares e os prestadores de cuidados de saúde apelam por tecnologias fáceis de utilizar e a mais formação e apoio. Sugerem também que são necessárias, pelo menos, algumas sessões presenciais com o prestador de serviços. Consideram que os serviços de telerreabilitação, por si só, podem dificultar a criação de ligações significativas. Explicam também que alguns serviços precisam da presença do prestador. Os prestadores de serviços sublinham a importância de personalizar os serviços de acordo com as necessidades e circunstâncias de cada pessoa.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Cristina Baixinho, Adriana Henriques e Andreia Costa, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa / Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Cochrane Portugal. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

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