Qual é o melhor tratamento para o cancro avançado do estomâgo que não respondeu à quimioterapia padrão?

O que é o cancro avançado do estômago?

O cancro gástrico (do estômago) começa geralmente nas células produtoras de muco que revestem o interior do estômago. O cancro da junção esófago-gástrica (JEG) localiza-se, como o nome indica, na zona de transição entre o esófago e o estômago. Define-se cancro avançado como aquele que se propagou aos tecidos próximos, ou a outra parte do corpo, apesar do tratamento.

Os tratamentos para o cancro gástrico e cancro da JEG incluem:

• cirurgia para remover o cancro;

• quimioterapia (medicamentos que matam células cancerígenas);

• radioterapia (radiação para matar células cancerígenas); e

• terapia biológica (medicamentos feitos a partir de proteínas e outras substâncias que ocorrem naturalmente no corpo).

As terapias biológicas incluem a imunoterapia (medicamentos que ajudam o sistema imunitário a reconhecer e matar células cancerígenas) e terapias que afetam algo no próprio cancro ou no seu meio envolvente, tal como o seu fornecimento de sangue. A quimioterapia padrão combina normalmente dois medicamentos que contêm fluoropirimidina e platina.

Quando a quimioterapia padrão para o cancro avançado não funcionou, o tratamento seguinte visa atrasar o crescimento do cancro para ajudar as pessoas a viver mais tempo. Outros tratamentos incluem: outros medicamentos de quimioterapia, terapias biológicas, e os melhores cuidados de apoio (cuidados que ajudam uma pessoa a lidar com doenças que limitam a vida e o seu tratamento).

Por que fizemos esta revisão Cochrane?

O cancro do estômago e da JEG são difíceis de tratar. Queríamos descobrir que tratamentos funcionam melhor para controlar estes cancros e ajudar as pessoas a viver mais tempo, quando a quimioterapia normal não funcionou.

O que fizemos?

Procurámos por estudos que analisassem quimioterapia e/ou terapias biológicas para o cancro avançado do estômago ou da JEG que não tivessem respondido à quimioterapia padrão. Procurámos estudos em que o tratamento administrado a cada pessoa tivesse sido decidido aleatoriamente. Este tipo de estudo normalmente fornece a evidência mais fiável sobre os efeitos de um tratamento.

Período de pesquisa

Incluímos estudos publicados até outubro de 2020.

O que encontrámos

Encontrámos 17 estudos envolvendo 5110 pessoas com cancro avançado do estômago ou da JEG. Os estudos compararam outras quimioterapias e/ou terapias biológicas, administradas por via oral ou através da corrente sanguínea (sistémica), com:

• outra quimioterapia sistémica e/ou terapia biológica;

• um placebo (medicamento sem princípio activo);

• melhores cuidados de apoio; e

• nenhum tratamento.

Os estudos analisaram:

• quanto tempo as pessoas viveram;

• quaisquer efeitos adversos (indesejados); e

• a sua qualidade de vida (bem-estar).

Quais são os resultados desta revisão?

As pessoas provavelmente vivem mais tempo após quimioterapia adicional (irinotecano ou trifluridina mais tipiracil) do que com tratamento placebo ou com os melhores cuidados de apoio. Mas a quimioterapia provavelmente aumenta os efeitos indesejáveis graves, incluindo diarreia, febre, e menor número de glóbulos vermelhos e brancos.

As pessoas podem viver tanto tempo após a quimioterapia com irinotecano como após a quimioterapia com paclitaxel. Adicionar outra quimioterapia (oxaliplatina ou cisplatina) ao docetaxel pode não afetar o tempo de vida das pessoas.

As pessoas vivem mais tempo após a terapia biológica (nivolumab, apatinib ou regorafenibe) do que com o tratamento com placebo. Não encontrámos provas suficientes sobre se a terapia biológica aumenta os efeitos indesejados.

As pessoas que recebem imunoterapia (pembrolizumab) provavelmente vivem tanto tempo como as pessoas que recebem quimioterapia (paclitaxel), mas podem não ter tantos efeitos indesejados como com a quimioterapia.

A combinação de quimioterapia com terapia biológica provavelmente não ajuda as pessoas a viverem mais tempo do que a quimioterapia isoladamente, e temos dúvidas se aumenta os efeitos indesejados.

Quão confiáveis são esses resultados?

Estamos moderadamente confiantes de que a quimioterapia provavelmente ajuda as pessoas a viver mais tempo do que o tratamento com placebo ou os melhores cuidados de apoio. Estamos igualmente confiantes de que as pessoas vivem mais tempo em terapia biológica do que em tratamento com placebo. Pensamos ser pouco provável que evidência adicional venha a alterar este resultado.

Estamos menos confiantes sobre os resultados relativos aos efeitos indesejados. Alguns estudos tinham dados em falta (missing data) ou não os comunicavam; e em alguns estudos as pessoas e os seus médicos sabiam qual o tratamento dado, o que poderia ter afetado os resultados do estudo. É provável que estes resultados mudem quando mais evidência se tornar disponível.

Conclusões

Se o cancro avançado do estômago ou da JEG não respondeu a quimioterapia padrão, a quimioterapia ou a terapia biológica adicional ajudam as pessoas a viver mais tempo do que o tratamento placebo, os melhores cuidados de apoio, ou nenhum tratamento. No entanto, a quimioterapia está mais claramente associada a efeitos indesejáveis do que a terapia biológica.

Não estamos certos sobre se as terapias biológicas funcionam melhor do que a quimioterapia, mas estas podem causar menos efeitos indesejados. A combinação de quimioterapia e terapias biológicas pode causar mais efeitos indesejados sem dar qualquer benefício extra.

Notas de tradução: 

Traduzido por: João Pedro Bandovas, Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, com o apoio da Cochrane Portugal.

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