Troca de cateteres venosos quando houver indicação clínica versus troca de rotina

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Introdução

A maioria dos pacientes hospitalizados recebe fluidos ou medicamentos através de um tubo de plástico que fica inserido em uma veia do braço ou da perna (“via cateter intravenoso periférico”) em algum momento durante a internação. Um cateter intravenoso (também chamado de cateter IV ou cânula intravenosa) é um tubo curto e oco, colocado dentro de uma veia para permitir a administração de medicamentos, fluidos e/ou nutrientes diretamente na corrente sanguínea. Esses cateteres são frequentemente substituídos a cada 3 a 4 dias para tentar prevenir a irritação da veia ou a infecção do sangue. Entretanto, esse procedimento pode causar desconforto para os pacientes e é bastante oneroso.

Características dos estudos e resultados principais

Esta revisão incluiu todos os ensaios clínicos randomizados (publicados até março de 2015) que compararam a substituição de rotina dos cateteres versus a substituição do cateter somente na existência de sinais de inflamação e infecção. Nós avaliamos a ocorrência de infecção na corrente sanguínea relacionada ao cateter, de flebite e de outros problemas associados com cateteres periféricos, como infecção local e obstrução do cateter. Não houve diferença entre os grupos em qualquer destas medidas. No entanto, nós descobrimos que os custos eram menores, em média, quando os cateteres foram substituídos apenas quando houve uma indicação clínica para o fazer, em comparação com as trocas de rotina.

Qualidade da evidência

Para a maioria dos desfechos, a qualidade geral das evidências foi considerada alta. Houve alguma incerteza para o desfecho "infecção na corrente sanguínea relacionada ao cateter", de modo que a qualidade da evidência para esse desfecho foi considerada moderada. Nós não encontramos nenhuma evidência de benefícios que apoie a prática atual de trocar os cateteres rotineiramente a cada 3 a 4 dias.

Conclusão dos autores: 

A revisão não encontrou nenhuma evidência para apoiar a substituição rotineira de cateteres venosos a cada 72 a 96 horas. Consequentemente, as instituições de saúde devem pensar em mudar suas práticas e passar a substituir os cateteres venosos somente quando houver indicação clinica. Isso proporcionaria uma economia de custos significativa e pouparia os pacientes da dor desnecessária das trocas de rotina na ausência de indicação clínica. Para minimizar as complicações relacionadas aos cateteres periféricos, o local da inserção deve ser inspecionado a cada troca de plantão e o cateter deve ser removido em caso de sinais de inflamação, infiltração ou obstrução.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

As diretrizes do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos recomendam a substituição de cateteres intravenosos (IV) periféricos não mais frequentemente do que a cada 72 a 96 horas. Considera-se que substituição de rotina reduza o risco de flebite e infecção de corrente sanguínea. A troca de cateter é uma experiência desagradável para os pacientes e a substituição pode ser desnecessária se o cateter estiver funcionante e não houver sinais de inflamação. Os custos associados com a substituição de rotina podem ser consideráveis. Esta é uma atualização da revisão publicada pela primeira vez em 2010.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos da troca de cateteres IV periféricos somente quando clinicamente indicada comparada com a troca rotineira de cateteres.

Métodos de busca: 

Para esta atualização, pesquisamos as seguintes bases de dados: Cochrane Peripheral Vascular Specialised Register (março 2015) e CENTRAL (2015, Issue 3). Nós também pesquisamos em plataformas de registros de ensaios clínicos randomizados (abril 2015).

Critério de seleção: 


Ensaios clínicos randomizados que compararam a substituição de rotina de cateteres periféricos IV com a substituição somente quando clinicamente indicada, em pacientes hospitalizados ou na comunidade recebendo infusões contínuas ou intermitentes.

Coleta dos dados e análises: 


Dois revisores avaliaram independentemente a qualidade dos estudos e extraíram os dados.

Principais resultados: 

Incluímos na revisão 7 estudos com um total de 4.895 pacientes. A qualidade da evidência foi alta para a maioria dos desfechos, mas foi considerada moderada para o desfecho infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter (ICSRC). O rebaixamento foi devido a amplos intervalos de confiança, o que criou um alto nível de incerteza em relação à estimativa de efeito. A ICSRC foi avaliada em 5 estudos (4806 pacientes). Não houve diferença significativa na taxa de ICSRC entre os grupos (troca clinicamente indicada 1/2365; troca de rotina 2/2441). O risco relativo (RR) foi 0,61 (95% IC 0,08 à 4,68; p = 0,64). Não foram encontradas diferenças nas taxas de flebite entre os cateteres trocados de acordo com indicação clínica ou rotineiramente (clinicamente indicados, 186/2.365; troca a cada três dias, 166/2.441; RR 1,14; 95% IC 0,93 a 1,39). Os resultados foram os mesmos nos casos de infusão contínua ou intermitente. Nós também analisamos os dados por número de dias de dispositivos e novamente não foram observadas diferenças entre os grupos (RR 1,03; 95% IC 0,84 a 1,27; p = 0,75). Um estudo avaliou a infecção de corrente sanguínea por qualquer causa. Não houve diferença entre os dois grupos quanto a esse desfecho (troca por indicação clínica, 4/1.593, 0,02%; troca de rotina, 9/1.690 (0,05%); p = 0,21). No grupo de troca de cateter conforme indicação clínica, os custos relacionados ao procedimento foram menores em aproximadamente 7,00 dólares australianos (diferença média de -6,95 dólares, 95% IC -9,05 a -4,86; p ≤ 0,00001).

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Débora Machado) - contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br