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Utilização de questionários realizados aos doentes para melhorar a gestão clínica e os outcomes

Qual é o objetivo desta revisão?

O objetivo desta Revisão Cochrane foi averiguar se os profissionais de saúde que recebem informação proveniente de questionários referentes à perceção dos resultados, preenchidos pelos seus doentes (PROMs), prestam melhores cuidados de saúde e se há ganhos em saúde para esses. Foram recolhidos e analisados todos os estudos relevantes.

Mensagens-chave

A transmissão, aos profissionais de saúde e aos doentes, das respostas dos doentes aos questionários (PROMs) poderá ter benefícios moderados na comunicação entre doentes e profissionais de saúde, bem como pequenos benefícios na qualidade de vida dos doentes. É provável que os profissionais de saúde realizem e registem mais diagnósticos e que façam mais anotações sobre aspetos clínicos. A intervenção tem provavelmente pouca ou nenhuma diferença nas perceções gerais dos doentes na sua saúde, funcionamento social e na dor. Parece não existir impacto no funcionamento físico e mental, nem na fadiga. A nossa confiança nestes resultados é limitada pela qualidade e número de estudos incluídos em cada um dos outcomes analisados.

O que foi estudado na revisão?

Nem sempre é questionado aos doentes como se sentem quando recebem cuidados de saúde – falar da perceção em relação aos resultados em saúde - nem sobre a sua saúde física, mental ou social. Tal pode constituir um obstáculo, pois tal informação poderia ajudar a tomar decisões sobre o diagnóstico e o decurso do tratamento. Uma solução possível será pedir aos doentes que completem questionários sobre a perceção dos resultados em saúde e partilhar essa informação e a análise da mesma com os profissionais de saúde e com os doentes.

Quais são os principais resultados da revisão?

Encontrámos 116 estudos (49.785 participantes), todos de países desenvolvidos (de alta renda). Descobrimos que transmitir os resultados dos questionários (PROMs) aos profissionais de saúde e aos doentes provavelmente melhora, ainda que ligeiramente, a qualidade de vida e aumenta a comunicação entre doentes e os profissionais de saúde. No entanto, tal partilha parece não produzir diferença significativa no que diz respeito ao funcionamento/relacionamento social. A evidência não é robusta no que se refere ao impacto na melhora da condição física e mental ou na fadiga. Não encontrámos estudos que reportassem efeitos adversos, definidos como angústia após o preenchimento dos questionários de PROMs ou relacionada com este.

Quão atualizada se encontra esta revisão?

Os autores pesquisaram estudos publicados até outubro de 2020.

Introdução

Os PROMs (Patient-Reported Outcomes Measures) avaliam a apreciação subjetiva dos doentes sobre os resultados em saúde, sob a sua perspetiva. Apesar dos potenciais benefícios em utilizar o feedback proveniente de PROMs no suporte à decisão clínica e na melhoria dos resultados, existe alguma incerteza acerca da efetividade desta medida.

Objetivos

Avaliar o efeito do feedback proveniente dos PROMs, nos doentes, nos profissionais de saúde, ou em ambos, no que diz respeito aos resultados em saúde ou aos processos de prestação de cuidados.

Métodos de busca

A 5 de outubro de 2020 foram pesquisadas a MEDLINE, Embase, CENTRAL, duas outras bases de dados e dois registos de ensaios clínicos. Foi também pesquisada literatura cinzenta e foram consultados especialistas na área.

Critério de seleção

Dois autores examinaram e selecionaram, de forma independente, os estudos a incluir. Foram incluídos estudos aleatorizados que compararam diretamente os efeitos nos resultados e nos processos de cuidado do feedback proveniente de PROMs nos profissionais de saúde e doentes, ou em ambos, com o facto de não providenciar essa informação.

Coleta dos dados e análises

Dois grupos de dois autores extraíram de forma independente os dados dos estudos incluídos e avaliaram a sua qualidade. Foram seguidos os procedimentos metodológicos padrão previstos pela Cochrane e EPOC. A qualidade da evidência foi avaliada utilizando o método GRADE. Foram efetuadas meta-análises dos resultados, sempre que tal foi possível.

Principais resultados

Foram identificados 116 estudos aleatorizados que avaliaram a efetividade do feedback proveniente de PROMs na melhoria dos processos e/ou resultados dos cuidados numa ampla gama de áreas incluindo psiquiatria, cuidados de saúde primários e oncologia. Os estudos provinham de diversos contextos de cuidados primários e secundários nas regiões da América do Norte, da Europa e da Australásia. Incluiu-se um total de 49.785 doentes de todos os estudos selecionados.

A qualidade da evidência variou entre muito baixa e moderada. Um grande número de estudos incluídos apresentou um risco de desempenho e de deteção de viés.

A evidência indica, com confiança moderada, que o feedback proveniente de PROMs provavelmente melhora a qualidade de vida (diferença de médias padronizada [DME] 0,15; intervalo de confiança a 95% [IC95%] 0,05 a 0,26; 11 estudos; 2.687 participantes) levando a um aumento da comunicação doente-médico (DME 0,36; IC95% 0,21 a 0,52; 5 estudos; 658 participantes), do diagnóstico e das anotações clínicas (razão de risco [RR] 1,73; IC95% 1,44 a 2,08; 21 estudos; 7.223 participantes) e do controlo da doença (RR 1,25; IC95% CI 1,10 a 1,41; 14 estudos; 2.806 participantes). É provável que a intervenção provoque pouca ou nenhuma diferença nas perceções gerais de saúde (DME 0,04, IC95% -0,17 a 0,24; 2 estudos, 552 participantes; evidência baixa), nas atividades/relação social (DME 0,02; IC95% -0,06 a 0,09; 15 estudos; 2.632 participantes; evidência moderada), e na dor (DME 0,00; IC95% -0,09 a 0,08; 9 estudos; 2.386 participantes; evidência moderada). O efeito do feedback proveniente de PROMs é incerto na atividade física/funcional (14 estudos; 2.788 participantes) e mental (34 estudos; 7.782 participantes), bem como na fadiga (4 estudos; 741 participantes), sendo o grau de certeza da evidência muito baixo. Não se encontraram estudos que reportassem efeitos adversos definidos como angústia após completar as medidas PROM ou com elas relacionada.

Conclusão dos autores

É provável que o feedback proveniente de PROMs produza melhorias moderadas na comunicação entre profissionais de saúde e doentes, assim como no diagnóstico e na melhoria das anotações clínicas, no controlo da doença e pequenas melhorias na qualidade de vida . A nossa confiança nos efeitos é limitada devido ao risco de viés, heterogeneidade e baixo número de estudos realizados para avaliar os resultados de interesse. Não é claro se muitas destas melhorias são clinicamente significativas ou sustentáveis a longo prazo. São necessários mais estudos de elevada qualidade, particularmente, aqueles que empreguem desenhos de cluster e utilizem técnicas para manter a ocultação da alocação.

Notas de tradução

Tradução e revisão final por: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

Citation
Gibbons C, Porter I, Gonçalves-Bradley DC, Stoilov S, Ricci-Cabello I, Tsangaris E, Gangannagaripalli J, Davey A, Gibbons EJ, Kotzeva A, Evans J, van der Wees PJ, Kontopantelis E, Greenhalgh J, Bower P, Alonso J, Valderas JM. Routine provision of feedback from patient-reported outcome measurements to healthcare providers and patients in clinical practice. Cochrane Database of Systematic Reviews 2021, Issue 10. Art. No.: CD011589. DOI: 10.1002/14651858.CD011589.pub2.

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