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Tratamento de manutenção com fármacos antipsicóticos na esquizofrenia

Os antipsicóticos são a base do tratamento da esquizofrenia, não apenas durante episódios agudos, mas também numa perspetiva de longo prazo. Embora os pacientes possam ambicionar interromper a terapêutica em algum momento, sabe-se que há recorrência dos sintomas psicóticos após a descontinuação do tratamento. As recaídas podem associar-se a aumento do risco de acidentes, à perda de autonomia e a angústia significativa nos indivíduos e nas suas famílias.

O presente artigo apresenta a versão atualizada de uma revisão sistemática publicada anteriormente em 2012, e baseia-se em 75 ensaios clínicos controlados aleatorizados (ECA) publicados ao longo de um longo período de tempo desde a década de 1950 e incluindo mais de 9000 participantes. Os efeitos de todos os fármacos antipsicóticos são nesta revisão comparados com os do placebo - nomeadamente a descontinuação da terapêutica - no tratamento de manutenção, ou seja, na prevenção de recaídas. O objetivo é explorar os benefícios e os riscos de cada uma das duas opções.

Os resultados desta revisão mostram de forma muito consistente que os antipsicóticos reduzem eficazmente as recaídas e a necessidade de hospitalização. De facto, em caso de descontinuação do tratamento, o risco de recaída a um ano é quase três vezes superior. Os antipsicóticos parecem ter um efeito positivo na capacidade de participar em atividades e estabelecer relações, e na possibilidade de atingir a remissão dos sintomas, embora haja menos evidência disponível a este respeito. Embora tendo novamente em conta um menor número de estudos, parece que aqueles que mantêm o tratamento tendem a experienciar uma maior satisfação na sua vida, o que confirma as consequências negativas no bem-estar geral do maior risco de recorrência dos sintomas. Pelo contrário, os antipsicóticos estão, como grupo, associados a uma série de efeitos secundários, tais como perturbações do movimento, aumento ponderal e sedação. Contudo, esta revisão permite uma melhor compreensão de que a interrupção do tratamento é muito mais prejudicial do que a sua manutenção ponderada.

Infelizmente, os estudos incluídos nesta revisão decorrem geralmente no máximo durante um ano, o que dificulta a clarificação do efeito a longo prazo destes fármacos. É no entanto verdade que quanto mais longo for o estudo, mais provável é que outros fatores - por exemplo ambientais - possam acumular-se e dificultar a interpretação dos resultados. Acima de tudo, esta revisão reforça as vantagens do uso de antipsicóticos em diferentes tipos de participantes. A melhor estratégia será, portanto, manter o tratamento com antipsicóticos, eventualmente discutindo-o e adaptando-o se surgir algum efeito adverso.

Notas de tradução

Traduzido por: Nádia Almeida Barradas, Serviço de Pedopsiquiatria, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, com o apoio da Cochrane Portugal.

Citation
Ceraso A, LIN JJ, Schneider-Thoma J, Siafis S, Tardy M, Komossa K, Heres S, Kissling W, Davis JM, Leucht S. Maintenance treatment with antipsychotic drugs for schizophrenia. Cochrane Database of Systematic Reviews 2020, Issue 8. Art. No.: CD008016. DOI: 10.1002/14651858.CD008016.pub3.

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