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Medicação para a perturbação de stress pós-traumático

Qual a importância desta revisão?

A perturbação de stress pós-traumático (PSPT) ocorre após exposição a um trauma significativo e resulta em enormes custos pessoais e sociais. Embora tenha sido tradicionalmente tratada com recurso a psicoterapia, a terapêutica farmacológica têm-se revelado eficaz no tratamento da PSPT.

Quem estará interessado nesta revisão?

- Pessoas com PSPT.
- Familiares e amigos de pessoas que sofrem de PSPT.
- Médicos de medicina geral e familiar, psiquiatras, psicólogos e farmacêuticos.

Qual a pergunta a que esta revisão procura responder?

- A terapêutica farmacológica é eficaz a reduzir os sintomas em adultos com PSPT?
 

Quais foram os estudos incluídos nesta revisão?

Incluímos estudos que comparam a medicação com placebo, com um grupo de controlo, ou com ambos, no tratamento da PSPT em adultos.
Incluímos 66 ensaios nesta revisão, com um total de 7.442 participantes.

O que é que a evidência desta revisão nos diz?

Parece haver um efeito benéfico dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) nos sintomas de PSPT em comparação com placebo, com base em evidência com um nível de certeza moderado. Houve também evidência de benefício na melhoria dos sintomas de PSPT com o uso do antidepressivo noradrenérgico e serotoninérgico específico (ANaSE) mirtazapina, bem como com o antidepressivo tricíclico (ADT) amitriptilina, com base em evidência com um nível de certeza baixo. Não encontrámos evidência de benefício no grupo de participantes que melhoraram após o tratamento com antipsicóticos, em comparação com o placebo, com base em evidência com um nível de muito baixa certeza. Para as restantes classes de medicamentos, não observámos evidência de benefício na melhoria dos sintomas de PSPT.

Houve evidência de que mais pessoas abandonaram a toma devido a efeitos secundários no grupo com tratamento isolado com ISRSs, em comparação com placebo, mas as taxas absolutas de abandono do ISRSs foram baixas.

O que deverá acontecer a seguir?

A maior parte da evidência disponível relativamente à eficácia da terapêutica farmacológica está relacionada com o uso de ISRSs no tratamento agudo. Continua a haver necessidade de desenvolver novas terapêuticas farmacológicas para a PSPT.

Introdução

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um transtorno prevalente e incapacitante. A evidência de que o TEPT se caracteriza por disfunções psicobiológicas específicas tem contribuído para um crescente interesse pelo uso de medicamentos em seu tratamento.

Objetivos

Avaliar os efeitos dos medicamentos para reduzir os sintomas do TEPT em adultos com TEPT.

Métodos de busca

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL; The Cochrane Library 2011, Issue 3); MEDLINE (1946-), Embase (1974-), PsycINFO (1967-) e PTSDPubs (todos os anos disponíveis) diretamente ou através da Cochrane Common Mental Disorders Controlled Trials Register (CCMDCTR). Também pesquisamos registros de ensaios clínicos internacionais. A data da última busca foi 13 de novembro de 2020.

Critério de seleção

Todos os ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) de farmacoterapias para adultos com TEPT.

Coleta dos dados e análises

Três autores da revisão (TW, JI e NP) avaliaram de forma independente os ECRs para inclusão, coletaram os dados e avaliaram a qualidade dos ensaios. Entramos em contato com os autores dos estudos para obter maiores informações sobre dados incompletos no artigo publicado. Estratificamos as estatísticas descritivas por classe de medicamentos e por substância de todas as medicações incluídas. Calculamos as medidas dicotômicas e contínuas usando um modelo de efeitos randômico e avaliamos a heterogeneidade.

Principais resultados

Foram incluídos 66 ECRs na revisão (intervalo: 13 dias a 28 semanas; 7442 participantes; faixa etária de 18 a 85 anos) e 54 estudos na metanálise.

Para o desfecho primário da resposta ao tratamento, encontramos evidências de efeito benéfico para os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) em comparação com placebo (risco relativo (RR) 0,66, intervalo de confiança 95% (IC) 0,59 a 0,74; 8 estudos, 1078 participantes), os quais melhoraram os sintomas do TEPT em 58% dos participantes que receberam ISRSs em comparação com os 35% dos participantes que receberam placebo, com base em evidência de certeza moderada.

Para este desfecho, também encontramos evidências de efeitos benéficos para o antidepressivo noradrenérgico e serotonérgico específico (ANES) mirtazapina: (RR 0,45, IC 95% 0,22 a 0,94; 1 estudo, 26 participantes) em 65% das pessoas que receberam mirtazapina em comparação com os 22% dos participantes que receberam placebo, e para o antidepressivo tricíclico (ATC) amitriptilina (RR 0,60, IC 95% 0,38 a 0,96; 1 estudo, 40 participantes) em 50% dos participantes que receberam amitriptilina em comparação com os 17% dos participantes que receberam placebo, os quais melhoraram os sintomas do TEPT. Estes desfechos são baseados em evidências de baixa certeza. Não houve evidência de efeito benéfico entre os participantes que melhoraram com os antipsicóticos (RR 0,51, IC 95% 0,16 a 1,67; 2 estudos, 43 participantes) em comparação com placebo, com base em evidências de muito baixa certeza.

Para o desfecho de abstinência do tratamento, encontramos evidências de um efeito prejudicial dos agentes ISRSs individuais em comparação com placebo (RR 1,41, IC 95% 1,07 a 1,87; 14 estudos, 2399 participantes). As abstinências também foram maiores para o grupo do ISRS paroxetina em comparação com o grupo placebo (RR 1,55, IC 95% 1,05 a 2,29; 5 estudos, 1101 participantes). No entanto, a proporção absoluta de indivíduos que abandonaram o tratamento devido a eventos adversos nos grupos dos ISRSs foi baixa (9%), com base em evidências de certeza moderada. Para o restante dos medicamentos em comparação com placebo, não encontramos evidências de danos para os indivíduos que abandonaram o tratamento devido a eventos adversos.

Conclusão dos autores

Os resultados desta revisão apoiam a conclusão de que os ISRSs melhoram os sintomas do TEPT; eles são os agentes de primeira linha para a farmacoterapia do TEPT, com base em evidências de certeza moderada. O ANES mirtazapina e o ATC amitriptilina também podem melhorar os sintomas do TEPT, mas isto se baseia em evidências de baixa certeza. Além disso, não encontramos nenhuma evidência de benefício para os participantes que melhoraram após o tratamento com antipsicóticos em comparação com placebo, com base em evidências de certeza muito baixa. Permanece uma falta significativa de dados na base de evidências e uma necessidade contínua de medicamentos mais eficazes para tratar o TEPT.

Notas de tradução

Traduzido por: Nádia Almeida Barradas, Especialidade de Pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Ana Luísa Delgado, Universidade de Coimbra. Revisão final: Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

Citation
Williams T, PhillipsNJ, SteinDJ, IpserJC.Pharmacotherapy for post traumatic stress disorder (PTSD). Cochrane Database of Systematic Reviews 2022, Issue 3. Art. No.: CD002795. DOI: 10.1002/14651858.CD002795.pub3.

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