Comparação da anestesia paravertebral com a anestesia geral para a cirurgia de cancro da mama

Qual é o problema?

O cancro da mama é um dos cancros mais comuns nas mulheres. A remoção cirúrgica do tumor é o principal tratamento; contudo, a disseminação de células tumorais pode ocorrer devido ao manuseamento do tumor durante a cirurgia. A resposta do corpo à cirurgia (resposta de stress ou libertação de hormonas e mediadores), bem como os medicamentos utilizados para a anestesia geral (perda completa de consciência), tais como opióides e os anestésicos inalatórios, também podem deprimir a imunidade e promover a sobrevivência das células tumorais.

A anestesia paravertebral atua anestesiando os nervos de um dos lados do corpo e pode permitir que a cirurgia seja realizada sem anestesia geral. O participante ligeiramente sedado pode relatar dor, frio, sede ou fome durante ou após a cirurgia, permitindo um tratamento atempado. Isto, combinado com o alívio da dor produzido pela anestesia paravertebral, tem o potencial de melhorar a imunidade, reduzir o stress cirúrgico e melhorar a qualidade de vida e a sobrevivência sem cancro.

Questão da revisão

Recolhemos e analisámos os dados de todos os estudos relevantes para verificar se a anestesia paravertebral proporcionaria melhor qualidade de recuperação e alívio da dor em repouso e em movimento, e para determinar se a anestesia paravertebral teria algum efeito na mortalidade, em comparação com a anestesia geral.

Caraterísticas do estudo

Incluímos ensaios controlados aleatorizados nos quais os participantes de um grupo receberam anestesia paravertebral com ou sem sedação e os participantes do outro grupo receberam anestesia geral durante a cirurgia de cancro da mama. Não incluímos estudos em que foi administrada anestesia paravertebral para além da anestesia geral e depois comparada com a anestesia geral isolada.

Resultados principais

Foram incluídos nove estudos envolvendo 614 pacientes. Foram realizados quatro estudos na Europa, três na Ásia, um em África e um na América do Norte. Todos os estudos tiveram lugar em hospitais universitários sem financiamento externo.

Ao analisar a evidência sobre a qualidade da recuperação, estes estudos relataram variados resultados. Verificou-se que a anestesia paravertebral:

- pode reduzir a terapêutica analgésica pós-operatória nas primeiras 24 horas (61 por 1000 contra 480 por 1000 no grupo de anestesia geral);

- provavelmente reduz a incidência de náuseas e vómitos pós-operatórios (72 por 1000 contra 340 por 1000 no grupo de anestesia geral);

- provavelmente reduz a dor às 2 horas (em 2,95 pontos numa escala de 0 a 10 pontos) e pode reduzir a dor em repouso às 24 horas de repouso (0,21 pontos numa escala de 0 a 10 pontos) em comparação com a anestesia geral; e

- pode reduzir a dor em movimento às 6 horas e às 24 horas após a cirurgia (às 6 horas por 2,57 pontos; às 24 horas por 2,12 pontos numa escala de 0 a 10) em comparação com a anestesia geral.

Nenhum estudo relatou dados sobre morte com cada técnica anestésica. Nenhum dos estudos incluídos relatou dados sobre sobrevivência livre de doença, dor crónica, ou qualidade de vida após a cirurgia de cancro da mama, provavelmente porque estes resultados não foram previstos ou planeados.

Relatos de eventos adversos com bloqueio paravertebral foram raros. Dos 290 participantes que receberam anestesia paravertebral, dois desenvolveram propagação epidural, quatro tiveram uma hemorragia minor, e um teve uma punção pleural. Dezassete dos 240 participantes desenvolveram síndrome de Horner. Todos os acontecimentos adversos foram auto-limitados e resolvidos sem tratamento.

Qualidade da evidência

A maioria da evidência foi considerada como sendo de certeza moderada, o que significa que estamos moderadamente confiantes no resultado relatado. Em alguns casos, a evidência foi considerada como sendo de baixa certeza, o que significa que a nossa confiança no resultado relatado é limitada.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Beatriz Leal, Serviço de Anestesiologia, Instituto Português de Oncologia de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Cochrane Portugal.

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