Podem os agonistas da dopamina prevenir a síndrome de hiperestimulação ovárica em mulheres submetidas a tratamento de fertilidade com FIV ou ICSI?

Por que fizemos esta revisão Cochrane?

Queríamos saber se os agonistas da dopamina são eficazes e seguros para prevenir a síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO) em mulheres com alto risco de SHO (por exemplo, mulheres com ovários policísticos ou um elevado número de óvulos após estimulação ovárica) submetidas a fertilização in vitro (FIV) ou injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI). Quão eficazes são estes medicamentos comparados com outros tipos de medicamentos ou com a retenção da estimulação ovárica durante alguns dias (chamada coasting)?

Contexto

FIV (ovos e esperma são misturados num laboratório e o embrião resultante é inserido no útero) ou ICSI (um procedimento de FIV em que uma única célula de esperma é injetada diretamente num óvulo num laboratório e o embrião resultante é inserido no útero) são tratamentos para a infertilidade. Para tal, os ovários (órgãos reprodutores femininos) são estimulados a produzir mais óvulos, através da administração às mulheres de uma medicação hormonal. SHO é uma complicação da estimulação dos ovários no tratamento de FIV ou ICSI onde demasiados óvulos se desenvolvem, os ovários incham, e o fluido extravasa para outras partes do corpo, resultando em inchaço do estômago, coágulos de sangue, e uma redução no sangue e oxigénio para órgãos importantes. Na maioria dos casos, a condição é leve e resolve-se sem tratamento, mas algumas mulheres desenvolvem uma forma moderada ou grave de SHO que requer hospitalização. Não há cura para a SHO a não ser esperar que esta se instale e gerir os sintomas até que estes desapareçam.

Os agonistas da dopamina são um medicamento que podem evitar o extravasamento do fluido dos vasos sanguíneos para outras partes do corpo, o que constitui um grande problema no SHO.

Vários tratamentos têm sido sugeridos para prevenir a SHO. Por exemplo, o coasting, ou medicamentos que mantêm fluido nos vasos sanguíneos (agonistas da dopamina , albumina humana, hidroxietil amido, cálcio, ou diosmina) ou que apoiam a função dos órgãos (prednisolona).

O que encontrámos

Encontrámos 22 ensaios controlados aleatorizados (um tipo de estudo que fornece as provas mais fiáveis sobre os efeitos de um tratamento) envolvendo 3171 mulheres em alto risco de OHSS que avaliaram três agonistas dopaminérgicos (cabergolina, bromocriptina, e quinagolide). Seis estudos são novos nesta atualização. As principais medidas de resultado foram o número de novos casos (incidência) de SHO moderados ou graves e a taxa de nascimentos vivos. A evidência encontra-se atualizada até 4 de maio de 2020..

Resultados principais

Antiagregantes plaquetários versus placebo/nenhum tratamento

Os agonistas dopaminérgicos parecem reduzir a incidência de SHO moderada ou grave em mulheres com alto risco de SHO em comparação com placebo (um tratamento a fingir) ou sem tratamento. Isto sugere que de cada 100 mulheres com FIV ou ICSI, 27 mulheres a tomar placebo ou sem tratamento terão SHO moderada ou grave, em comparação com 8 a 14 mulheres a tomar agonistas dopaminérgicos. Os agonistas da dopamina podem melhorar os resultados da gravidez, mas permanece incerto se podem aumentar os efeitos secundários ligeiros, tais como perturbações do estômago, sensação de mal-estar, ou tonturas. Temos dúvidas quanto ao efeito dos agonistas da dopamina nos resultados da gravidez, uma vez que os dados relativos à gravidez quase não foram reportados.

Agonista da dopamina mais outro tratamento versus outro tratamento

A toma de agonistas dopaminérgicos combinada com outro tratamento ativo pode reduzir o risco de SHO moderado ou grave em comparação com as mulheres que tomam outro tratamento ativo sozinhas. Isto significa que, de 100 mulheres que têm tratamento apenas com outro tratamento ativo para SHO, 11 mulheres terão SHO moderada ou grave em comparação com três a nove mulheres que usam agonista dopaminérgico mais outro tratamento ativo. Permanecemos incertos se a dopamina combinada com outro tratamento melhora os resultados da gravidez e os efeitos secundários.

Agonista da dopamina versus outro tratamento

Não sabemos se o agonista da dopamina carbegolina diminui as taxas de SHO em comparação com outros tratamentos activos (por exemplo, hidroxietilamido, prednisolona, infusão de cálcio ou coasting). Temos dúvidas se a cabergolina melhora os resultados da gravidez em comparação com outras intervenções. Não houve efeitos secundários no único estudo para esta comparação.

Qualidade da evidência

A qualidade da evidência variou de muito baixa a moderada. As limitações incluíam a comunicação deficiente de métodos de estudo e imprecisão (muito poucos eventos, muito poucos estudos incluídos) para algumas comparações.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.

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