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Intervenções para tofos na gota

Contexto

A gota é causada pela formação de cristais de urato dentro ou à volta das articulações.

A inflamação pode levar à dor, eritema, calor e inchaço nas articulações afetadas, dificultando o movimento ou toque local. Algumas das razões pelas quais as pessoas desenvolvem gota inclui o fator genético, o excesso de peso, a ingestão de medicações especificas (ciclosporina, por exemplo), a função renal reduzida e hábitos de vida tais como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e bebidas açucaradas.

Os tofos são nódulos que se desenvolvem em pessoas com gota crónica não controlada. Os tofos podem ficar infetados, causar dor e levar a uma redução da função. Os tofos podem ser tratados com medicamentos para baixar o teor de urato (por exemplo, benzobromarona, probenecida, alopurinol, febuxostate, pegloticase, lesinurad), remoção cirúrgica ou outras intervenções.

Caraterísticas do estudo

Este é um resumo de uma revisão Cochrane sobre intervenções para o tratamento dos tofos. A literatura foi pesquisada até 28 de agosto de 2020. Foram relatados cinco estudos sobre intervenções farmacológicas. Os participantes pertenciam a um vasto leque de países, incluindo os EUA, o Canadá, o México, a África do Sul, a Austrália, a Nova Zelândia e locais da Europa. Todos os estudos foram financiados por empresas farmacêuticas.

Resultados principais

Comparação entre pegloticase quinzenal e placebo (tratamento falso) (1 estudo; 79 participantes)

Resolução de tofos

Mais 33 pessoas em 100 apresentaram resolução de um ou mais tofos após seis meses de tratamento com pegloticase quinzenal em comparação com placebo (16% melhor a 50% melhor).

40 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com pegloticase.

7 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com placebo.

Efeitos adversos totais:

Mais 1 pessoa em cada 100 teve um evento adverso com pegloticase em comparação com placebo (menos 9% e mais 7%).

95 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com pegloticase.

94 em cada 100 pessoas tiveram um evento adverso com o placebo.

Comparação entre pegloticase mensal e placebo (1 estudo; 79 participantes)

Resolução de tofos

Mais 14 pessoas em 100 apresentaram resolução de um ou mais tofos após seis meses de tratamento com pegloticase mensal em comparação com placebo (1% pior para 29% melhor).

21 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com pegloticase.

7 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com placebo.

Total de efeitos adversos

Mais 5 pessoas em cada 100 teve um evento adverso com pegloticase em comparação com placebo (menos 20% para mais 12%).

100 em cada 100 pessoas tiveram um evento adverso com pegloticase

95 em cada 100 pessoas tiveram um evento adverso com o placebo.

Comparação entre lesinurad mais alopurinol e alopurinol (2 estudos; 103 participantes)

Resolução de tofos

Menos 11 pessoas em cada 100 tiveram resolução completa do tofo alvo após 12 meses de tratamento com lesinurad 200 mg mais alopurinol versus alopurinol isolado (28% pior para 6% melhor).

21 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com lesinurad 200 mg mais alopurinol.

32 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com alopurinol.

Menos 7 pessoas em cada 100 tiveram resolução completa do tofo alvo após 12 meses de tratamento com lesinurad 400 mg mais alopurinol versus alopurinol isolado (25% pior para 11% melhor).

25 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com lesinurad 400 mg mais alopurinol.

32 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com alopurinol.

Comparação entre lesinurad 400 mg mais febuxostate e lesinurad 200 mg mais febuxostate (1 estudo; 129 participantes)

Resolução de tofos

Mais 7 pessoas em cada 100 tiveram resolução completa do tofo alvo após 12 meses de tratamento com lesinurad 400 mg versus lesinurad 200 mg, ambos em combinação com febuxostate (menos 10% para mais 23%).

66 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com lesinurad 400 mg mais febuxostate.

59 em cada 100 pessoas tiveram resolução de tofos com lesinurad 200 mg mais febuxostate.

Número de participantes que desistiram devido a efeitos adversos

Apenas um estudo relatou eventos adversos separadamente em participantes com tofos. 

Mais 9 pessoas em cada 100 desistiram devido a eventos adversos após 12 meses de tratamento com lesinurad 400 mg versus lesinurad 200 mg, ambos em combinação com febuxostate (menos 3% para 43% melhor).

70 em cada 100 pessoas com lesinurad 400 mg mais febuxostate desistiram do estudo.

61 em cada 100 pessoas com lesinurad 200 mg mais febuxostate desistiram do estudo.

Total de efeitos adversos

Mais 15 pessoas em cada 100 tiveram um ou mais eventos adversos em 12 meses de tratamento com lesinurad 400 mg versus lesinurad 200 mg, ambos em combinação com febuxostate (menos 3% para 18% melhor).

97 em cada 100 pessoas tiveram eventos adversos com lesinurad 400 mg mais febuxostate.

82 em cada 100 pessoas tiveram eventos adversos com lesinurad 200 mg mais febuxostate.

Grau de certeza da evidência

Evidência de certeza moderada indica que a pegloticase quinzenal ou mensal provavelmente resolve um ou mais tofos. Evidência de certeza moderada mostrou que lesinurad (400 mg ou 200 mg) em combinação com alopurinol provavelmente não é benéfico para a resolução de tofos na gota. Evidência de baixa certeza indicam que lesinurad 400 mg comparado com lesinurad 200 mg (ambos em combinação com febuxostate) pode resolver tofos e pode não resultar em diferença nos eventos adversos ou desistências devido a eventos adversos. No entanto, este estudo não incluiu um braço placebo. 

Introdução

Os tofos desenvolvem-se na gota não tratada ou não controlada. Esta é uma atualização de uma Revisão Cochrane publicada pela primeira vez em 2014. 

Objetivos

Avaliar os benefícios e os malefícios dos tratamentos não cirúrgicos e cirúrgicos para o tratamento dos tofos na gota.

Métodos de busca

Atualizámos a pesquisa nas bases de dados Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE e Embase até 28 de agosto de 2020.

Critério de seleção

Incluímos todos os ensaios controlados aleatorizados (ECAs) ou ensaios clínicos controlados publicados, que examinaram intervenções para tofos na gota em adultos.

Coleta dos dados e análises

Utilizámos procedimentos metodológicos padrão esperados pela Cochrane.

Principais resultados

Incluímos um ensaio na nossa revisão original. Incluímos mais quatro ensaios (1.796 participantes) na atualização desta revisão. Um tinha três braços: infusão de pegloticase de duas em duas semanas (quinzenal), infusão mensal de pegloticase (infusão de pegloticase alternada com infusão de placebo de duas em duas semanas) e placebo. Dois estudos analisaram o lesinurad 200 mg ou 400 mg em combinação com o alopurinol. Um ensaio estudou lesinurad 200 mg ou 400 mg em combinação com febuxostate. Um ensaio comparou o febuxostate 80 mg e 120 mg com o alopurinol.

Dois estudos tinham um risco incerto de viés de desempenho e de deteção devido à falta de informação sobre a ocultação dos participantes e do pessoal. Todos os outros ensaios tinham baixo risco de viés

Evidência de certeza moderada (reduzida por imprecisão; um estudo; 79 participantes) mostrou que a pegloticase quinzenal resolveu os tofos em 21/52 participantes, em comparação com 2/27 que receberam placebo (razão de risco (RR) 5,45, intervalo de confiança (IC) de 95% 1,38 a 21,54; número necessário para tratar para um benefício (NNTB) 3, IC 95% 2 a 6). Proporções semelhantes de participantes que receberam pegloticase quinzenal (80/85) tiveram um evento adverso em comparação com o placebo (41/43) (RR 0,99, 95% CI 0,91 a 1,07). No entanto, mais participantes com pegloticase quinzenal (15/85) desistiram devido a um evento adverso em comparação com o placebo (1/43) (RR 7,59, IC 95% 1,04 a 55,55; número necessário para tratar para um dano (NNTH) 7, IC 95% 4 a 16).

Mais participantes com pegloticase mensal (11/52) apresentaram resolução completa dos tofos em comparação com placebo (2/27) (RR 2,86, IC 95% 0,68 a 11,97; NNTB 8, IC 95% 4 a 91). Proporções semelhantes de participantes que receberam pegloticase mensal (84/84) tiveram um evento adverso em comparação com o placebo (41/43) (RR 1,05, 95% CI 0,98 a 1,14). Mais participantes a tomar pegloticase mensal (16/84) desistiram devido a eventos adversos em comparação com o placebo (1/43) (RR 8,19, IC 95% 1,12 a 59,71; NNTH 6, IC 95% 4 a 14). A reação à perfusão foi a razão mais comum para desistência.

Evidência de certeza moderada (2 estudos; 103 participantes; reduzida por imprecisão) não mostrou diferença clinicamente significativa para a resolução completa do tofo alvo no braço lesinurad 200 mg mais alopurinol (11/53) em comparação com o braço placebo mais alopurinol (16/50) (RR 0.40, 95% CI 0,04 a 4,57), ou no braço lesinurad 400 mg mais alopurinol (12/48) em comparação com o braço placebo mais alopurinol (16/50) (RR 0,79, 95% CI 0,42 a 1,49).

Um estudo de extensão avaliou o uso de lesinurad 200 mg ou 400 mg em combinação com febuxostate ou placebo (evidência de baixa qualidade, reduzida por ser indireta e imprecisa). Os participantes que estavam a tomar lesinurad no estudo original continuaram (CONT) com a mesma dose. Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode ser benéfico para a resolução de tofos; 43/65 no braço CONT de lesinurad 400 mg em comparação com 38/64 no braço CONT de lesinurad 200 mg tiveram resolução de tofos (RR 1,11, 95% CI 0,85 a 1,46). Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode não resultar em qualquer diferença nos eventos adversos; 57/65 no braço CONT de lesinurad 400 mg tiveram um evento adverso em comparação com 50/64 no braço CONT de lesinurad 200 mg (RR 1,12, 95% CI 0,96 a 1,32). Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode não resultar em qualquer diferença nas desistências devido a eventos adversos; 10/65 participantes no braço CONT de lesinurad 400 mg desistiram devido a um evento adverso em comparação com 10/64 participantes no braço CONT de lesinurad 200 mg (RR 0,98, 95% CI 0,44 a 2,20). Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode não resultar em qualquer diferença no ácido úrico sérico médio (AUs), que foi de 3 mg/dl no grupo lesinurad 400 mg CONT em comparação com 3,9 mg/dl no grupo lesinurad 200 mg CONT (diferença média -0,90, 95% CI -1,51 a -0,29).

Os participantes que não estavam a tomar lesinurad no estudo original foram aleatorizados (CROSS) para lesinurad 200 mg ou 400 mg, ambos em combinação com febuxostate. A evidência de baixa certeza, reduzida por ser indireta e imprecisa, mostrou que o lesinurad 400 mg (CROSS) pode resultar na resolução dos tofos (17/34) em comparação com o lesinurad 200 mg (CROSS) (14/33) (RR 1,18, IC 95% 0,70 a 1,98). Lesinurad 400 mg em combinação com febuxostate pode não resultar em qualquer diferença nos eventos adversos (33/34 no braço lesinurad 400 mg CROSS em comparação com 27/33 no lesinurad 200 mg (CROSS); RR 1,19, 95% CI 1,00 a 1,41). Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode não resultar em qualquer diferença nas desistências devido a acontecimentos adversos, 5/34 no braço lesinurad 400 mg CROSS desistiram em comparação com 2/33 no braço lesinurad 200 mg CROSS (RR 2,43, 95% CI 0,51 a 11,64). Lesinurad 400 mg mais febuxostate não resulta em qualquer diferença no AUs (4,2 mg/dl em lesinurad 400 mg CROSS) em comparação com lesinurad 200 mg (3,8 mg/dl em lesinurad 200 mg CROSS), diferença média de 0,40 mg/dl, 95% CI -0,75 a 1,55.

Conclusão dos autores

Evidência de certeza moderada mostrou que a pegloticase é provavelmente benéfica para a resolução de tofos na gota. Embora tenha havido pouca diferença nos eventos adversos quando comparados com o placebo, os participantes com pegloticase tiveram mais desistências devido a eventos adversos. Lesinurad 400 mg mais febuxostate pode ser benéfico para a resolução de tofos em comparação com lesinurad 200 mg mais febuxostate; não houve diferença nos eventos adversos entre estes grupos. Não foi possível determinar se o lesinurad mais febuxostate é mais eficaz do que o placebo. Lesinurad (400 mg ou 200 mg) mais alopurinol não é provavelmente benéfico para a resolução de tofos, e não houve diferença nos eventos adversos entre estes grupos. São necessários RCTs sobre o tratamento de tofos na gota, e a falta de dados de ensaios é surpreendente, dado que o alopurinol é um tratamento bem estabelecido para a gota.

Notas de tradução

Traduzido por: Inês Sopa, Serviço de Reumatologia, Unidade Local de Saúde de Santa Maria. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

Citation
Sriranganathan MK, Vinik O, Pardo Pardo J, Bombardier C, Edwards CJ. Interventions for tophi in gout. Cochrane Database of Systematic Reviews 2021, Issue 8. Art. No.: CD010069. DOI: 10.1002/14651858.CD010069.pub3.

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