Antidepressivos de última geração para a perturbação depressiva em crianças e adolescentes: uma meta-análise em rede

Quão bem funcionam as últimas formulações de antidepressivos nas crianças e adolescentes com depressão clínica?

Crianças e adolescentes (6 a 18 anos) com depressão (também chamada de "perturbação depressiva major") experienciam uma série de impactos negativos em todas as áreas das suas vidas e ainda um risco acrescido de suicídio, pensamentos suicidas e tentativas de suicídio. Foi demonstrado que os antidepressivos reduzem os sintomas de depressão, mas também podem aumentar o risco de situações relacionadas com o suicídio.

Quem são os interessados nesta revisão?

A investigação nesta Revisão Cochrane interessará a:

- pessoas que decidem políticas e influenciam as decisões sobre a prescrição de medicamentos antidepressivos a crianças e adolescentes;

- pessoas que prescrevem estes medicamentos a crianças e adolescentes;

- crianças e adolescentes com depressão; e

- aqueles que os suportam e prestam cuidados (incluindo os seus pais, prestadores de cuidados e os clínicos que prestam tratamento).

O que pretendíamos descobrir?

Queríamos saber como funcionam as novas formulações (chamadas 'nova geração') de antidepressivos para melhorar a depressão em crianças e adolescentes dos 6 aos 18 anos de idade. Os antidepressivos de nova geração são aqueles que foram desenvolvidos recentemente. São por vezes referidos como antidepressivos de "segunda" e "terceira geração"; não incluem formulações mais antigas (antidepressivos tricíclicos ou inibidores de monoaminoxidase).

Queríamos saber como estes antidepressivos afetam:

- os sintomas de depressão;

- recuperação: já não satisfaz os critérios de diagnóstico de perturbação depressiva major;

- resposta ou remissão: pontuação numa escala indicando uma redução importante da depressão ou que já não sofrem de depressão;

- capacidade de funcionar na vida diária;

- resultados relacionados com o suicídio; e

- se causam quaisquer efeitos indesejados em crianças e adolescentes.

O que fizemos?

Procurámos estudos que testaram a nova geração de antidepressivos em crianças ou adolescentes (ou ambos) que tinham sido diagnosticados com uma perturbação depressiva major. Identificámos 26 estudos deste tipo. Avaliámos então a fiabilidade desses estudos, e sintetizámos os resultados ao longo dos estudos.

O que é que a evidência desta revisão nos diz?

A maioria dos antidepressivos mais recentes provavelmente reduzem melhor os sintomas da depressão do que um placebo (um tratamento 'fictício' que não contém qualquer medicamento mas que parece idêntico ao medicamento a ser testado). No entanto, a redução é pequena e pode não ser sentida como importante pelas crianças e adolescentes, pelos seus pais e cuidadores, ou clínicos. Quando se comparam medicamentos diferentes uns contra os outros pode haver apenas diferenças pequenas e insignificantes entre a maioria deles para a redução dos sintomas.

Os nossos resultados refletem o que acontece em média aos indivíduos, mas alguns indivíduos podem experimentar uma resposta superior. Isto pode levar a recomendações para o uso de antidepressivos para alguns indivíduos, em algumas circunstâncias. Os nossos resultados sugerem que a sertralina, o escitalopram, a duloxetina e a fluoxetina podem ser utilizados se a medicação estiver a ser considerada.

O impacto dos medicamentos nos sintomas da depressão deve ser acompanhado de perto por quem os prescreve, especialmente porque o pensamento e comportamento relacionados com o suicídio podem estar aumentados nos que tomam estes medicamentos. A monitorização apertada dos comportamentos relacionados com o suicídio é vital nos que são tratados com antidepressivos de nova geração.

O que deve acontecer a seguir?

Os estudos que forneceram esta evidência excluíram as crianças e adolescentes que:

- já estavam a pensar em suicídio e queriam acabar com a própria vida (ou seja, tinham ideação suicida);

- fizeram auto-mutilações;

- tinham outras condições de saúde mental; e

- tinham dificuldades psicossociais.

A investigação futura deve procurar compreender o impacto destes medicamentos em crianças e adolescentes com estes problemas, que são mais típicos daqueles que solicitam serviços clínicos.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Joana Botelho Vieira e Maria João Lobarinhas, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Cochrane Portugal.

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