Tratamentos conservadores (não farmacológicos e não cirúrgicos) para crianças que têm incontinência urinária diurna

Contexto

Muitas crianças continuam a ter perdas diurnas de urina (incontinência urinária) muito tempo depois de a maioria se ter tornado seca, algumas na adolescência. Quando não existe uma causa conhecida, é referida como incontinência urinária funcional diurna. A perda diurna de urina pode ser um problema prático para a criança e seus cuidadores, levando a gastos adicionais com lavandaria, pensos absorventes ou roupa interior, mobiliário molhado ou manchado e dificuldades em frequentar a escola ou viajar. Pode também levar a stress emocional, baixa assiduidade e desempenho escolar, dificuldades com atividades sociais e a fazer amigos, e até mesmo depressão e problemas comportamentais. Encontrar um tratamento eficaz pode melhorar a qualidade de vida das crianças e seus cuidadores.

Pergunta de revisão

As crianças, os seus cuidadores, médicos e enfermeiros podem querer evitar tratamentos que envolvam medicamentos ou cirurgia, pelo menos até terem tentado tratamentos mais conservadores. Nesta revisão os investigadores reuniram os resultados de estudos realizados em todo o mundo para conjugar a evidência e avaliar quais os tratamentos mais eficazes na gestão da incontinência urinária diurna em crianças.

Quão atualizada é esta revisão?

A evidência está atualizada até 11 de Setembro de 2018.

Caraterísticas do estudo e resultados principais

A revisão incluiu 27 estudos envolvendo 1803 crianças.

Doze estudos declararam financiamento de fontes externas. Um destes foi financiado pela Astellas Pharma, enquanto outro estudo forneceu gratuitamente lotes especiais de placebo e medicamento, bem como materiais gratuitos para testes de absorvente, de outra empresa.

Qualidade da evidência

A Cochrane Reviews avalia a "certeza" ou fiabilidade da evidência utilizando métodos padronizados que consideram a forma como os estudos foram concebidos, realizados e relatados, as diferenças entre os estudos ou as populações, e os resultados combinados dos estudos. A maioria dos estudos incluídos nesta revisão eram pequenos e muitos foram mal concebidos e não foram relatados claramente. A maioria da evidência foi considerada de muito baixa qualidade, o que significa que pouco pode ser dito com certeza sobre a eficácia dos tratamentos.

Resultados principais

A estimulação nervosa eléctrica transcutânea (TENS) pode ser mais eficaz do que não tratar em termos de cessar ou reduzir os episódios de perdas diurnas.

Não sabemos se a uroterapia (programas comportamentais em que as crianças - e por vezes os cuidadores - são ensinados sobre o funcionamento da bexiga, posturas e métodos corretos nos sanitários, horário miccional, e planeamento do que e quanto beber) é mais eficaz quando complementada com treino muscular do pavimento pélvico (PFMT), educação de esvaziamento com feedback, ou alarmes definidos para lembrar as crianças quando devem ir à casa de banho.

Não sabemos se o feedback que mostra às crianças como os seus músculos estão a funcionar ou como a sua bexiga está a esvaziar melhora a eficácia da TENS com uroterapia em comparação com a PFMT com feedback e uroterapia. Também não sabemos se o PFMT e a uroterapia mais feedback melhora a eficácia do PFMT e da uroterapia por si só.

Não sabemos se o treino muscular do pavimento pélvico (PFMT) ou a estimulação nervosa eléctrica transcutânea (TENS) são mais eficazes do que os anticolinérgicos (medicamentos que podem reduzir os sinais emitidos pelo cérebro que levam à contração e esvaziamento da bexiga).

Não temos a certeza de que a educação para o esvaziamento vesical com a urofluxometria (um teste que mede o volume de urina) e o feedback aumente o número de crianças continentes em comparação com os anticolinérgicos.

Não foram notificados eventos adversos graves relacionados com os tratamentos em estudo. A maioria dos acontecimentos adversos e efeitos secundários eram de gravidade ligeira ou moderada e ocorreram em crianças que receberam intervenções farmacêuticas. Estes incluem efeitos secundários comuns, tais como náuseas, dores abdominais, boca seca, sonolência e dores de cabeça.

Conclusões dos autores

Há falta de evidência de investigação de boa qualidade que possa ajudar as crianças, os seus cuidadores, médicos e enfermeiros a tomar decisões sobre estes tratamentos. Investigações mais bem desenhas podem fornecer evidência, muito necessária, sobre a eficácia de intervenções promissoras em crianças com incontinência urinária diurna, tais como TENS, PFMT e alarmes em relógios (ou telemóveis) para lembrar as crianças dos horários para ir a casa de banho. No entanto, espera-se que esta revisão chame a atenção para a necessidade de investigação sobre tratamentos eficazes para a incontinência diurna em crianças.

Notas de tradução: 

Tradução por Mariana Morgado, Serviço de Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

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