Fluoxetina para adultos com sobrepeso ou obesidade

Pergunta da revisão
Quais são os efeitos do tratamento com fluoxetina em adultos com sobrepeso ou obesidade?

Introdução
A fluoxetina é um medicamento comumente prescrito para o tratamento da depressão, e tem como efeito colateral a redução do apetite. Assim, suspeita-se que a fluoxetina possa ser usada como tratamento para pessoas com sobrepeso ou obesidade. Neste grupo de pessoas, a administração de fluoxetina é um tratamento off-label, o que significa que não está licenciada para o tratamento da obesidade.

Características dos estudos
Encontramos 19 ensaios clínicos randomizados (estudos clínicos nos quais as pessoas são aleatoriamente distribuídas em um de dois ou mais grupos de tratamento) que avaliaram principalmente mulheres que receberam diferentes doses de fluoxetina. Um total de 1.280 participantes com sobrepeso ou obesidade receberam fluoxetina, enquanto 936 participantes receberam placebo ou outro medicamento antiobesidade. Os participantes nos estudos incluídos foram acompanhados por períodos que variaram de três semanas e um ano.

Principais Resultados
Para o nosso principal grupo de comparação – fluoxetina em comparação com placebo – e para todas as doses de fluoxetina houve uma perda de peso de 2,7 kg a favor da fluoxetina. No entanto, permanecemos incertos quanto à possibilidade de um estudo adicional voltar a demonstrar um benefício para a fluoxetina. Dos 627 participantes que receberam fluoxetina, 399 deles (63,6%) apresentaram um efeito colateral, em comparação com 352 dos 626 participantes (56,2%) no grupo placebo. A incidência de tontura, sonolência, fadiga, insônia e náusea foi aproximadamente o dobro após o tratamento com fluoxetina em comparação ao placebo. Um total de 15 de 197 participantes (7,6%) que receberam fluoxetina em comparação com 12 de 196 participantes (6,1%) que receberam placebo apresentaram depressão. Os estudos não relataram morte por qualquer causa, qualidade de vida relacionada à saúde e impactos socioeconômicos.

Essas evidências estão atualizadas até Dezembro de 2018

Certeza da evidência
A certeza geral nas evidências foi considerada baixa ou muito baixa, principalmente devido a escassez de estudos que avaliaram cada desfecho específico e do pequeno número de participantes incluídos nos estudos.

Conclusão dos autores: 

Evidências de baixa certeza sugerem que o uso off-label da fluoxetina pode resultar em redução de peso em comparação ao placebo. No entanto, evidências de baixa certeza sugerem um aumento no risco de tontura, sonolência, fadiga, insônia e náusea após o tratamento com fluoxetina.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A fluoxetina é um inibidor da recaptação da serotonina indicado para depressão maior. Também se acredita que ela afete o controle de peso: isso parece acorrer por meio de mudança no apetite, resultando em uma diminuição na ingestão de alimentos e a normalização de padrões alimentares atípicos. No entanto, a relação entre os benefícios e riscos deste medicamento para uso off-label é incerta.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos da fluoxetina em adultos com sobrepeso ou obesidade.

Métodos de busca: 

Pesquisamos na Cochrane Library, MEDLINE, Embase, LILACS, no Portal de Pesquisa ICTRP e ClinicalTrials.gov e no Portal de Pesquisa ICTRP da Organização Mundial da Saúde (OMS). A última busca foi realizada em dezembro de 2018 em todas as bases de dados e não houve restrições de idioma.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) que compararam a administração de fluoxetina versus placebo, outros agentes antiobesidade, terapia não farmacológica ou ausência de tratamento em adultos com sobrepeso ou obesidade, sem depressão, doença mental ou padrões alimentares anormais.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores da revisão avaliaram de forma independente os resumos e títulos dos estudos de acordo com os critérios de elegibilidade. A triagem para inclusão, extração de dados e avaliação do risco de viés foram realizadas por um revisor e posteriormente verificadas por outro. Avaliamos os estudos quanto a certeza geral das evidências utilizando a ferramenta GRADE. Contatamos autores dos ensaios clínicos para informações adicionais. Realizamos metanálises de efeitos randômicos e calculamos o risco relativo (RR) com intervalos de confiança de 95% (IC95%) para desfechos dicotômicos e a diferença média (DM) com IC95% para desfechos contínuos.

Principais resultados: 

Identificamos 1.036 registros, examinamos 52 artigos em texto completo e incluímos 19 ECRs completos (um estudo está aguardando avaliação). No total,de 2.216 participantes foram incluídos nos estudos, dos quais 1.280 foram randomizados para receber fluoxetina (60 mg/d, 40 mg/d, 20 mg/d e 10 mg/d) enquanto 936 participantes foram alocados aleatoriamente em diversos grupos de comparação incluindo placebo, agentes antiobesidade como dietilpropiona, fenproporex, mazindol, sibutramina, metformina, fenfluramina, dexfenfluramina, fluvoxamina, 5-hidroxitriptofano; sem tratamento; e gel de ômega-3. Nos 19 ECRs incluídos, identificamos um total de 56 braços de estudo. Quinze estudos eram ECRs paralelos e quatro eram ECRs cruzados (cross-over). Os participantes dos ensaios incluídos foram acompanhados por períodos que variaram de três semanas e um ano. A certeza da evidência foi baixa ou muito baixa: a maioria dos estudos apresentou um alto risco de viés em um ou mais domínios do risco de viés.

Para nosso grupo de comparação principal – fluoxetina versus placebo – e considerando todas as dosagens e durações de tratamento com fluoxetina, a DM foi de -2,7 kg (IC 95% -4 a -1,4; P < 0,001; 10 estudos, 956 participantes; baixa certeza da evidência). O intervalo de predição de 95% variou entre -7,1 kg a 1,7 kg. A DM na redução do índice de massa corporal (IMC) em todas as dosagens de fluoxetina em comparação com o placebo foi de -1,1 kg/m² (IC 95% -3,7 a 1,4; 3 estudos, 97 participantes; muito baixa certeza da evidência). Apenas nove estudos controlados por placebo relataram eventos adversos. Um total de 399 dos 627 participantes (63,6%) que receberam fluoxetina, em comparação com 352 de 626 participantes (56,2%) que receberam placebo, apresentaram um evento adverso. A meta-análise de efeitos randômicos mostrou um aumento no risco de ter pelo menos um evento adverso de qualquer tipo nos grupos de fluoxetina em comparação com placebo (RR 1,18, IC 95% 0,99 a 1,42; P = 0,07; 9 estudos, 1.253 participantes; baixa certeza da evidência). O intervalo de predição de 95% variou entre 0,74 e 1,88. Após o tratamento com fluoxetina, observou-se um aumento aproximadamente dobrado na incidência de eventos adversos como tonturas, sonolência, fadiga, insônia e náuseas, em comparação com o placebo. Um total de 15 de 197 participantes (7,6%) que receberam fluoxetina em comparação com 12 de 196 participantes (6,1%) que receberam placebo apresentaram depressão. O RR para todas as doses de fluoxetina em comparação com placebo foi de 1,20 (IC 95% 0,57 a 2,52; P = 0,62; 3 estudos, 393 participantes; muito baixa certeza da evidência). A mortalidade por todas as causas, a qualidade de vida relacionada a saúde e os impactos socioeconômicos não foram relatados nos estudos incluídos.

As comparações da fluoxetina com outros agentes antiobesidade (3 estudos, 234 participantes), gel ômega-3 (1 estudo, 48 participantes) e ausência de tratamento (1 estudo, 60 participantes) apresentaram resultados inconclusivos (muito baixa certeza da evidência).

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Aline Rocha e Maurício Reis Pedrosa). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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