Acupuntura e tratamentos relacionados para os sintomas da síndrome do túnel do carpo

Pergunta da revisão

A acupuntura e os tratamentos relacionados melhoram os sintomas da síndrome do túnel do carpo em adultos?

Introdução

A síndrome do túnel do carpo (CTS) é uma condição que pode causar dor, dormência, formigamento e fraqueza na mão. Ela se desenvolve quando o nervo mediano, que se estende do braço até a mão, é comprimido ao passar por uma estrutura que se encontra no punho, chamada túnel do carpo. O trabalho de uma pessoa pode ser um fator relacionado ao desenvolvimento da CTS e pode ser um problema adicional em pessoas com outras doenças, como a artrite inflamatória. A CTS pode ser tratada com exercícios para as mãos, imobilização com talas, medicamentos para dor e injeções. A CTS grave pode ser tratada com cirurgia. As pessoas com CTS às vezes escolhem acupuntura e tratamentos relacionados à acupuntura para tratar os seus sintomas. A acupuntura usa agulhas para perfurar a pele e estimular pontos de acupuntura no corpo. Estes pontos de acupuntura encontram-se ao longo do meridiano, que acredita-se ser um caminho de energia ao longo do corpo. Os tratamentos relacionados à acupuntura utilizam diferentes métodos para estimular os pontos de acupuntura. Por exemplo, a acupuntura a laser utiliza lasers ao invés de agulhas.

Características do estudo

Encontramos 12 estudos que avaliaram 869 pessoas com CTS. Nestes estudos, havia 148 homens e 579 mulheres (1 estudo não especificava o sexo). A idade dos participantes variou entre 18 e 85 anos. O número de pessoas em cada estudo variou entre 26 e 181. Os sintomas da CTS já estavam presentes há meses ou anos nos participantes. Os estudos compararam a acupuntura tradicional com agulha ou acupuntura a laser versus tratamentos simulados/placebo (tratamento de mentira) ou outros tratamentos ativos, como bloqueio dos nervos com corticoides, corticoides orais, ibuprofeno, talas noturnas, fisioterapia, e vitamina B12.

Principais resultados e certeza da evidência

Pode haver pouca ou nenhuma diferença entre a acupuntura tradicional ou a acupuntura a laser comparadas com tratamento simulado/placebo para o tratamento dos sintomas da CTS. Não podemos dizer se a acupuntura e intervenções relacionadas são mais eficazes do que outros métodos para o tratamento dos sintomas da CTS. Os estudos que encontramos tinham poucos participantes e pode ter havido problemas na forma como eles foram realizados. Não havia muitas informações sobre cada comparação. Os estudos encontraram alguns efeitos colaterais da acupuntura, tais como dor e hematomas. Nenhum destes efeitos foi grave. No entanto, nem todos os estudos forneceram informações sobre os efeitos colaterais. Os estudos atuais não fornecem informações suficientemente boas para termos certeza sobre os efeitos da acupuntura e das intervenções relacionados à acupuntura para o tratamento da CTS. Precisamos de estudos maiores e de melhor qualidade para compreender os efeitos da acupuntura e intervenções relacionadas sobre os sintomas da CTS.

Esta revisão está atualizada até 13 de novembro de 2017 para bases de dados pesquisadas em inglês e até 30 de abril de 2018 para bases de dados chinesas e coreanas.

Conclusão dos autores: 

A acupuntura tradicional e a acupuntura a laser podem produzir pouco ou nenhum efeito nos sintomas da CTS no curto prazo, quando comparadas com placebo ou acupuntura simulada. Existe incerteza se a acupuntura e intervenções relacionadas (isoladas ou associadas a AINES mais vitaminas) seriam mais ou menos efetivas para o alívio dos sintomas da CTS do que o uso de bloqueio de nervos com corticoides, corticoides via oral, ibuprofeno, vitamina B12 ou talas. Isso se deve ao fato da qualidade da evidência ser baixa ou muito baixa e da maioria dos estudos ter feito apenas avaliações no curto prazo. Os estudos incluídos avaliaram diversas intervenções, tinham delineamentos diversos, e os participantes tinham pouca diversidade étnica e heterogeneidade clínica. São necessários ensaios clínicos randomizados de alta qualidade para avaliar rigorosamente os efeitos da acupuntura e intervenções relacionadas sobre os sintomas da CTS. Existe evidência de qualidade moderada a muito baixa de que a acupuntura não foi associada a nenhum evento adverso grave. Foram relatados desconforto, dor, parestesia local e hematomas temporários na pele. Entretanto, nem todos os estudos forneceram dados sobre eventos adversos.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A síndrome do túnel do carpo (CTS) é um distúrbio neuropático compressivo ao nível do punho. A acupuntura e outros métodos que estimulam os pontos de acupuntura, como a eletroacupuntura, a acupuntura auricular, a acupuntura a laser, a moxabustão e a acupressão, são usados no tratamento da CTS. A acupuntura tem sido recomendada como um tratamento potencialmente útil para a CTS, mas sua efetividade permanece incerta. Utilizamos a metodologia Cochrane para avaliar as evidências provenientes de ensaios clínicos randomizados e quasi-randomizados sobre acupuntura para a melhora dos sintomas em pessoas com CTS.

Objetivos: 

Avaliar os benefícios e malefícios da acupuntura e intervenções relacionadas com a acupuntura versus tratamentos simulados (intervenção de mentira) ou outros tratamentos ativos para o manejo da dor e outros sintomas da CTS em adultos.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas no Cochrane Neuromuscular Specialised Register, CENTRAL, MEDLINE, Embase, AMED, CINAHL Plus, DARE, HTA, e NHS EED em 13 de novembro de 2017. Além disso, fizemos buscas em seis bases de dados médicas coreanas e três chinesas desde a origem das bases até 30 de abril de 2018. Também fizemos buscas por estudos em andamento em plataformas de registro de ensaios clínicos.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios randomizados e quasi-randomizados que avaliaram os efeitos da acupuntura e intervenções relacionadas nos sintomas da CTS em adultos. Os estudos elegíveis especificaram os critérios para realizar o diagnóstico de CTS. Incluímos desfechos avaliados pelo menos três semanas após a randomização. Os estudos incluídos compararam acupuntura e intervenções relacionadas versus tratamentos simulados/placebo ou versus outras intervenções ativas, como bloqueios dos nervos, corticoides orais, uso de talas, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), cirurgia e fisioterapia.

Coleta dos dados e análises: 

Os autores da revisão seguiram os métodos padrão da Cochrane.

Principais resultados: 

Incluímos 12 estudos com 869 participantes. Dez estudos relataram o desfecho primário melhora clínica geral no acompanhamento a curto prazo (até 3 meses após a randomização). A maioria dos estudos não pôde ser combinada em uma meta-análise devido à presença de heterogeneidade clínica. O risco geral de viés foi alto ou incerto em todos os estudos.

Sete estudos forneceram informações sobre eventos adversos. Os eventos adversos não graves incluíram hematomas na pele com o uso da eletroacupuntura e dor local após a inserção da agulha. Não foram relatados eventos adversos graves.

Um estudo (N = 41) comparou acupuntura versus acupuntura simulada/placebo e não encontrou diferenças claras entre as intervenções. Neste estudo, não houve diferença entre usar ou não a acupuntura nos escores na escala de Gravidade dos Sintomas (SSS) do Boston Carpal Tunnel Questionnaire (BCTQ) três meses após o tratamento (diferença média (DM) -0,23, intervalo de confiança (IC) de 95% -0,79 a 0,33) e na Escala do Estado Funcional (FSS) do BCTQ (DM -0,03, IC 95% -0,69 a 0,63); evidência de baixa certeza (qualidade). A única desistência ocorreu devido à dor durante a acupuntura. Outro estudo que comparou acupuntura versus acupuntura simulada/placebo (N = 111) não forneceu dados utilizáveis.

Dois estudos avaliaram acupuntura a laser versus acupuntura a laser simulada. Em um estudo (N = 60) com baixo risco de viés, houve uma melhor pontuação na Avaliação Global de Funcionamento (GSS) quatro semanas após o tratamento (DM 7,46, IC 95% 4,71 a 10,22; em uma escala de 0 a 50) e uma taxa de resposta mais alta (risco relativo (RR) 1,59, IC 95% 1,14 a 2,22) no grupo que recebeu a intervenção ativa; evidência de baixa certeza. Não foram relatados eventos adversos graves em nenhum dos grupos. O outro estudo (N = 25) não avaliou a melhora geral dos sintomas.

Um estudo (N = 77) comparou acupuntura convencional versus esteroides orais. Este estudo encontrou uma maior melhora na pontuação da GSS (escala 0 a 50) 13 meses após o tratamento com acupuntura (DM 8,25, IC 95% 4,12 a 12,38) e uma taxa de pacientes que responderam ao tratamento mais alta (RR 1,73, IC 95% 1,22 a 2,45) no grupo que recebeu acupuntura; evidência de qualidade muito baixa. Não houve diferença clara entre os grupos nas mudanças na GSS avaliadas duas semanas ou quatro semanas após o tratamento. Ocorreram eventos adversos em 18% dos participantes do grupo que recebeu corticosteroides orais e em 5% daqueles tratados com acupuntura (RR 0,29, IC 95% 0,06 a 1,32). Um estudo comparou eletroacupuntura versus esteroides orais. Neste estudo, houve uma diferença clinicamente insignificante na mudança no escore BCTQ quatro semanas após o tratamento (DM -0,30, IC 95% -0,71 a 0,10; N = 52).

Na metanálise de dois estudos que testaram acupuntura versus vitamina B12, o RR para taxa de resposta foi 1,16 (IC 95% 0,99 a 1,36; N = 100; evidência de qualidade muito baixa). Nenhum evento adverso grave ocorreu em nenhum dos grupos.

Um estudo em que todos os participantes usaram talas noturnas comparou acupuntura tradicional versus ibuprofeno. Neste estudo, os participantes do grupo acupuntura tiveram uma menor pontuação no escore de sintomas pela SSS do BCTQ (DM -5,80, IC 95% -7,95 a -3,65; N = 50) um mês após o tratamento; evidência de qualidade muito baixa. Cinco pessoas tiveram eventos adversos com ibuprofeno e nenhuma com acupuntura.

Um estudo que comparou eletroacupuntura versus talas noturnas não encontrou diferença clara entre os grupos na SSS do BCTQ (DM 0,14, IC 95% -0,15 a 0,43; N = 60); evidência de qualidade muito baixa. Seis pessoas do grupo da eletroacupuntura tiveram eventos adversos e nenhuma no grupo das talas. Um estudo avaliou os efeitos da eletroacupuntura associada a talas noturnas versus somente talas noturnas. Neste estudo, não houve diferença entre os grupos na SSS do BCTQ em 17 semanas (DM -0,16, IC 95% -0,36 a 0,04; N = 181; evidência de baixa certeza). Nenhum evento adverso grave ocorreu em nenhum dos grupos.

Um estudo que comparou acupuntura associada a AINEs e vitaminas versus apenas AINEs e vitaminas não mostrou diferença clara entre os grupos na SSS do BCTQ em quatro semanas (DM -0,20, IC 95% -0,86 a 0,46; evidência de qualidade muito baixa). Não houve relato de eventos adversos.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Luany Janaira Gois Vidal e Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato:tradutores.cochrane.br@gmail.com

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