As intervenções que fazem as pessoas ficarem de lado para dormir são a melhor maneira de tratar a apneia obstrutiva do sono?

O que é apneia obstrutiva do sono?

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio do sono em que as paredes da garganta relaxam e se estreitam durante o sono. Isto provoca pausas na respiração. As pausas podem durar de alguns segundos a alguns minutos e podem acontecer muitas vezes durante a noite. Isto interrompe o sono da pessoa. O ronco alto, os engasgos e outros sons produzidos pela pessoa com AOS podem incomodar as pessoas que dormem junto dela. As pessoas com a AOS podem ficar muito cansadas durante o dia ou até mesmo cair no sono. Isto pode ser perigoso. Nas crianças, a apneia do sono pode causar problemas na escola ou hiperatividade.

O que é AOS posicional?

A AOS que melhora com a mudança de posição da pessoa enquanto dorme é conhecida como apneia do sono posicional (AOSP). As pessoas tendem a ter episódios de apneia quando deitam de costas (supino). Os episódios de apneia podem diminuir ou desaparecer quando a pessoa se deita de lado.

Qual é o tratamento padrão da AOS?

O tratamento padrão é o uso de um dispositivo chamado pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) que fornece um jato de ar contínuo para as vias aéreas à medida que a pessoa respira, o que ajuda a evitar que a garganta se estreite durante o sono.

O que é terapia posicional?

A terapia posicional é uma intervenção que ajuda a manter a pessoa de lado durante o sono. Exemplos incluem colocar objetos nas costas da pessoa para impedi-lá de ficar de costas (como uma bola de tênis), travesseiros especiais, ou alarmes que vibram quando a pessoa fica de costas.

Como se mede a gravidade da AOS?

A gravidade da AOS é medida usando uma escala chamada Índice de Apneia-Hipopneia (AHI). O AHI refere-se ao número de vezes por hora de sono que a respiração pára ou fica mais superficial. O AHI é medido por meio de um exame chamado polissonografia, que é feito com a pessoa dormindo.

A gravidade da AOS pode ser medida indiretamente usando um questionário chamado Epworth Sleepiness Scale (ESS). Este questionário avalia o grau de sonolência da pessoa durante o dia.

Qual foi o objetivo desta revisão?

Comparar a terapia posicional versus terapia com CPAP, bem como com controle inativo (sem terapia posicional ou terapia de mentira).

Resultados

Encontramos oito estudos com 323 participantes. Os estudos compararam a terapia posicional versus CPAP (72 participantes) e a terapia posicional versus controle inativo (251 participantes).

Os estudos que compararam a terapia posicional versus CPAP não encontraram diferença entre os grupos quanto ao ESS. O uso do CPAP, comparado à terapia posicional, produziu mais melhora no AHI (6,4 episódios de apneia a menos por hora com o CPAP). Em um pequeno estudo, as pessoas aderiram à terapia posicional por 2,5 horas a mais do que aderiram ao CPAP. Não encontramos nenhuma diferença na qualidade de vida ou qualidade de sono entre os dois grupos.

Os estudos mostram que a terapia posicional parece ser melhor que o controle inativo na ESS e AHI (a ESS foi 1,58 menor com a terapia posicional e houve 7,38 menos eventos por hora no AHI com a terapia posicional). Outro estudo observou efeitos adversos em 10% dos participantes. Os efeitos adversos mais frequentes foram distúrbios do sono e dores nas costas e no peito. Um estudo relatou que não houve diferença na qualidade de vida e qualidade de sono entre a terapia posicional e o controle inativo.

Todos esses estudos duraram pouco tempo e incluíram um pequeno número de participantes.

Conclusões

1. A terapia posicional foi menos eficaz do que o CPAP para reduzir o Índice de Apneia-Hipopneia (AHI). As pessoas podem usar a terapia posicional por mais tempo do que o CPAP durante a noite. Não foram observadas diferenças nos outros desfechos.

2. A terapia posicional demonstrou ser melhor que o controle inativo para a Epworth Sleepiness Scale (ESS) e AHI.

Conclusão dos autores: 

Os resultados da revisão indicam que o CPAP tem um efeito maior na melhora do AHI do que a terapia posicional em pacientes com AOS, e que a terapia posicional foi melhor do que o controle inativo na ESS e AHI. A terapia posicional pode ter maior adesão do que o CPAP. Não encontramos diferenças significativas para outros desfechos clinicamente relevantes, tais como qualidade de vida ou função cognitiva. Todos os estudos foram de curta duração. Não há informações sobre os efeitos a longo prazo das terapias. Isto é importante, pois a maioria dos desfechos de qualidade de vida só será evidente quando as terapias forem usadas durante um período de tempo mais longo. A qualidade da evidência foi baixa a moderada.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

As modalidades de terapia para apneia obstrutiva do sono (AOS) incluem modificações comportamentais e de estilo de vida, terapia posicional, aparelhos orais, cirurgia e terapia com pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Embora o CPAP tenha eficácia comprovada no tratamento da AOS, a adesão à terapia com CPAP está abaixo do ideal. A terapia posicional (manter as pessoas dormindo de lado) é menos invasiva e, portanto, espera-se que tenha melhor aderência. Esta revisão avaliou a eficácia da terapia posicional versus CPAP, e da terapia posicional versus nenhuma terapia posicional. Os dispositivos para terapia posicional incluem cintas lombares ou abdominais, mochilas semi-rígidas, travesseiros de corpo, uma bola de tênis presa à parte de trás da roupa de dormir e sensores elétricos com alarmes que indicam mudança de posição.

Objetivos: 

Comparar a eficácia da terapia posicional versus CPAP e da terapia posicional versus controle inativo (intervenção de mentira ou nenhuma terapia posicional) em pessoas com AOS.

Métodos de busca: 

Identificamos estudos do Cochrane Airways' Specialised Register (que inclui as bases de dados CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL, AHMED e PsycINFO), e em duas plataformas de registros de ensaios clínicos (ClinicalTrials.gov e World Health Organization trials portal (ICTRP). Também realizamos buscas manuais em revistas especializadas em doenças respiratórias e anais dos principais eventos anuais da área. Pesquisamos em todas as bases de dados desde seu início até setembro de 2018, sem restrições quanto ao idioma ou tipo de publicação.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados que compararam terapia posicional versus CPAP e terapia posicional versus controle inativo.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos e extraíram os dados. Utilizamos um modelo de efeitos aleatórios na metanálise para estimar as diferenças médias e os intervalos de confiança. Avaliamos a qualidade (certeza) das evidências utilizando a abordagem GRADE.

Principais resultados: 

Incluímos oito estudos. Os estudos randomizaram 323 participantes para dois tipos de intervenções. A comparação entre terapia posicional versus CPAP incluiu 72 participantes, enquanto a comparação entre terapia posicional versus controle inativo incluiu 251 participantes. Três estudos usaram dispositivos de alarme com sensor de posição supina, enquanto cinco estudos usaram posicionamento físico como almofadas ou mochilas semi-rígidas especialmente projetadas.

Terapia posicional versus CPAP

Os três estudos incluídos nesta comparação foram ensaios clínicos randomizados do tipo “cross-over”. Não houve diferença no escore da Epworth Sleepiness Scale (ESS) entre CPAP versus terapia posicional em dois estudos. Existe evidência de baixa qualidade proveniente de dois estudos, que o CPAP gera uma redução maior no Índice de Apneia-Hipopneia (AHI) com uma diferença média (MD) de 6,4 eventos por hora (IC 95% 3,00 a 9,79) em comparação com a terapia posicional. Existe evidência de moderada qualidade proveniente de um estudo, que a adesão subjetiva é significativamente maior com a terapia posicional (MD 2,5 horas por noite, IC 95% 1,41 a 3,59).

Em relação aos desfechos secundários, existe evidência proveniente de um estudo para cada desfecho, que não há diferença significante entre os dois grupos quanto aos índices de qualidade de vida e de qualidade de sono. Existe evidência proveniente de um estudo que não há diferença entre os grupos quanto aos desfechos cognitivos avaliados por múltiplos parâmetros. Não havia dados suficientes para comentar outros desfechos secundários como índice de distúrbio respiratório (RDI) e frequência e duração da dessaturação noturna. Nenhum dos estudos apresentou resultados claros sobre efeitos adversos.

Terapia posicional versus controle inativo

Três estudos de terapia posicional versus nenhuma intervenção eram ensaios clínicos randomizados do tipo “cross-over”, enquanto dois estudos eram do tipo paralelo. Existe evidência de moderada qualidade que a terapia posicional melhora significativamente os escores da ESS (MD -1,58, IC 95% -2,89 a -0,29). Existe evidência de baixa qualidade que a terapia posicional leva a uma redução no AHI em comparação com o controle (MD -7,38 eventos por hora, IC 95% -10,06 a -4,7). Um estudo avaliou aderência. Existe evidência de baixa qualidade que o número de participantes que continua a usar o dispositivo em dois meses não é diferente entre os dois grupos (odds ratio (OR) 0,80, IC 95% 0,33 a 1,94). Existe evidência de baixa qualidade, proveniente do mesmo estudo, que não há diferença entre os dois grupos quanto à descontinuação do dispositivo (OR 1,25, IC 95% 0,5 a 3,03). Os efeitos adversos mais comuns,segundo o mesmo estudo, foram a dor nas costas, no peito e distúrbios do sono. Um estudo apresentou dados sobre qualidade de vida e outro estudo apresentou dados sobre qualidade do sono. Não houve diferença significativa entre os dois grupos quanto a esses desfechos. Um estudo avaliou desfechos cognitivos e não encontrou diferença entre os grupos. Não existe evidência sobre os outros desfechos secundários (RDI, frequência e duração da dessaturação noturna).

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (André Sousa e Ana Carolina Pereira Nunes Pinto) Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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