Intervenções para aumentar e manter a vacinação infantil em países de baixa e média renda

Qual foi o objetivo desta revisão?

O objetivo desta revisão da Cochrane foi avaliar o efeito de diferentes estratégias para aumentar o número de crianças vacinadas em países de baixa e média renda, de forma que as doenças infecciosas possam ser prevenidas. Os pesquisadores da Cochrane coletaram e analisaram todos os estudos relevantes para tentar responder essa questão e encontraram 14 estudos sobre esse assunto.

As estratégias para aumentar a vacinação infantil funcionam?

Algumas medidas que podem fazer com que mais crianças sejam vacinadas são: dar informações aos pais e membros da comunidade sobre a vacinação; entregar lembretes especialmente desenhados para tomar as vacinas; visitas regulares para incentivar a vacinação infantil, com ou sem incentivos às famílias (como recompensas, por exemplo); fazer visitas domiciliares para identificar crianças não vacinadas e encaminhá-las para as clínicas de vacinação e, finalmente, integrar os serviços de vacinação com outros serviços de saúde no mesmo local. Entretanto, apenas oferecer aos pais dinheiro para vacinar seus filhos não funciona para aumentar a vacinação. A maioria dos estudos analisados nessa revisão era de baixa qualidade, então será necessário realizar mais pesquisas sobre o assunto, que sejam de boa qualidade.

O que foi avaliado nesta revisão?

Milhões de crianças em países de baixa e média renda ainda morrem de doenças que poderiam ser prevenidas com vacinas. Existem vários motivos para isso. Os governos têm tentado diferentes estratégias para aumentar o número de crianças que são vacinadas.

Quais são os resultados desta revisão?

Os autores da revisão encontraram 14 estudos, dos seguintes países: Geórgia, Gana, Honduras, Índia, Mali, México, Nicarágua, Nepal, Paquistão, Zimbábue. Os estudos compararam grupos que recebendo essas estratégias a grupos que só receberam os cuidados rotineiros de saúde. Os resultados desses estudos foram os seguintes.

Dar informações e discutir vacinação com os pais ou com outros membros da comunidade em reuniões nos vilarejos ou em domicílio provavelmente faz com que mais crianças recebam as três doses da vacina que protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche. Esta evidência foi de qualidade moderada.

Dar informação aos pais sobre a importância das vacinações durante as visitas às clínicas e entregar um lembrete da vacinação especialmente criado para isso, assim como a integração dos serviços de vacinação com outros serviços de saúde pode aumentar o número de crianças que tomam as três doses da vacina contra a difteria, o tétano e a coqueluche. Esta evidência foi de baixa qualidade.

Oferecer dinheiro aos pais com a condição de que vacinem suas crianças aparentemente não aumenta ou aumenta muito pouco o número de crianças que recebem todas as vacinas. Esta evidência também foi de baixa qualidade.

Usar equipes de pessoas que fazem visitas mensais fixas (sempre na mesma data) aos vilarejos para vacinar as crianças pode aumentar o número de crianças que recebem todas as vacinas (ou seja, aumentar a cobertura vacinal). Esta evidência foi de baixa qualidade.

Esta revisão está atualizada até quando?

Os autores da revisão procuraram por estudos que haviam sido publicados até maio de 2016.

Conclusão dos autores: 

As intervenções que podem melhorar a cobertura vacinal infantil nos países de baixa e média renda são: oferecer aos pais e a outros membros da comunidade informações sobre vacinas; educação em saúde nas clínicas associada ao uso de lembretes especiais de vacinação; visitas regulares de vacinação com ou sem incentivos domiciliares; visitas domiciliares e a integração da vacinação com outros serviços de saúde. A maior parte dessa evidência foi de baixa qualidade. Isso significa que é muito provável que o efeito real dessas intervenções possa ser bastante diferente do que foi apresentado. Portanto, existe a necessidade de que se realizem mais ensaios clínicos randomizados para avaliar os efeitos dessas estratégias para melhorar a cobertura vacinal infantil em países de baixa e média renda.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A vacinação é uma estratégia poderosa de saúde pública para aumentar a sobrevivência das crianças, porque previne diretamente doenças importantes e também oferece uma plataforma para outros serviços de saúde. Entretanto, todos os anos, milhões de crianças do mundo inteiro, principalmente nos países de baixa e média renda, deixam de receber todas doses recomendadas como parte do calendário de vacinação nacional. Esta é uma atualização de uma revisão Cochrane publicada originalmente em 2011. Seu foco específico são intervenções para melhorar a cobertura vacinal infantil nos países de baixa e média renda.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade de estratégias para aumentar e manter altas taxas de cobertura vacinal infantil nos países de baixa e média renda.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados eletrônicas: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) 2016, Issue 4, parte da The Cochrane Library, em www.cochranelibrary.com incluindo o Registro Especializado do Grupo Cochrane Effective Practice and Organisation of Care (EPOC), em 12 de maio de 2016; no MEDLINE In-Process and Other Non-Indexed Citations; MEDLINE Daily e na base MEDLINE desde 1946 até 2016; no OvidSP (busca realizada em 12 de maio de 2016); no CINAHL, desde 1981 até 2016; no EbscoHost (em 12 de maio de 2016); no Embase, de 1980 a 2014 Semana 34; no OvidSP (busca em 2 de setembro de 2014);no LILACS, VHL (em 2 de setembro de 2014); na Sociological Abstracts de 1952 até 2016; no ProQuest (em 2 de setembro de 2014). Procuramos por citações para todos os estudos incluídos no Science Citation Index e no Social Sciences Citation Index, de 1975 até 2016; no Emerging Sources Citation Index de 2015 até 2016, e no ISI Web of Science (em 2 de julho de 2016). Por fim, também procuramos por trabalhos em duas plataformas de registros de ensaios: o ICTRP e o ClinicalTrials.gov (em 5 de julho de 2016).

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) e não randomizados, estudos controlados do tipo antes e depois e séries temporais interrompidas. Esses estudos deveriam ter sido conduzidos em países de baixa e média renda, e envolver crianças (até os quatro anos de idade), seus cuidadores e profissionais de saúde.

Coleta dos dados e análises: 

Os autores, de forma independente, avaliaram as referências identificadas através das buscas, revisaram os textos completos dos artigos que tinham potencial de serem incluídos na revisão, avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos e extraíram os dados em duplicata. As discrepâncias entre os revisores foram resolvidas por consenso. Os autores então realizaram metanálises de efeitos randômicos e usaram o GRADE para avaliar a qualidade das evidências.

Principais resultados: 

Encontramos 14 estudos que preencheram os critérios de inclusão, sendo 10 ECRs de conglomerados e 4 individuais. Esses estudos foram conduzidos na Geórgia, em Gana, Honduras, Mali, México, Nicarágua, Nepal e Zimbábue (um estudo em cada país), na Índia (dois estudos) e no Paquistão (quatro estudos). Um estudo foi avaliado como tendo risco de viés incerto e os 13 restantes tinham alto risco de viés. As intervenções propostas nesses trabalhos eram educação comunitária em saúde (três estudos), educação em saúde implementada em instituição de saúde (três estudos), incentivos domiciliares (três estudos), visitas locais para vacinações regulares (um estudo), supervisão de apoio (um estudo), campanhas informativas (um estudo) e integração dos serviços de vacinação junto com o tratamento preventivo intermitente da malária (um estudo).

Encontramos evidência de qualidade moderada de que a educação em saúde em encontros na comunidade ou nas residências melhora a cobertura vacinal das três doses da vacina tríplice, conhecida como DPT3, que protege contra difteria, tétano e coqueluche (risco relativo, RR, de 1,68; com intervalo de confiança de 95%, 95% CI, de 1,09 a 2,59). Encontramos evidência de baixa qualidade mostrando que a educação em saúde oferecida em instituição de saúde associada ao uso de um novo tipo de lembrete de vacinação pode melhorar a cobertura vacinal DPT3 (RR 1,50; 95% CI 1,21 a 1,87). Incentivos monetários tiveram pouco ou nenhum efeito na cobertura vacinal completa (RR 1,05; 95% CI 0,90 a 1,23, evidência de baixa qualidade). Visitas regulares podem aumentar a cobertura vacinal (RR 3,09; 95% CI 1,69 a 5,67, evidência de baixa qualidade) e esse efeito pode melhorar consideravelmente quando a visita for combinada com incentivos domiciliares (RR 6,66; 95% CI 3,93 a 11,28, evidência de baixa qualidade). Visitas domiciliares para identificar crianças não vacinadas e encaminhá-las para postos de saúde, podem melhorar a cobertura vacinal das três doses da vacina oral contra a poliomielite (RR 1,22; 95% CI 1,07 a 1,39, evidência de baixa qualidade). Encontramos evidência de baixa qualidade de que a integração da vacinação a outros serviços pode melhorar a cobertura vacinal DTP3 (RR 1,92; 95% CI 1,42 a 2,59).

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Patricia Logullo)

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