Tratamento com oxigênio no ambiente pré-hospitalar para o agravamento súbito da doença pulmonar obstrutiva crônica

Introdução

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição crônica caracterizada por uma redução progressiva do fluxo de ar para os pulmões. As pessoas com DPOC podem ter episódios repentinos de agravamento dos sintomas (por exemplo, aumento persistente da falta de ar e mudanças no volume e na consistência do muco nos pulmões). Como resultado, os níveis de oxigênio no sangue podem diminuir. Quando os pacientes com estes sintomas estão sendo transportados para o hospital, eles geralmente recebem tratamento com oxigênio. Entretanto, fornecer muito oxigênio a esses pacientes pode causar um aumento no nível de gás carbônico no sangue. Este aumento no nível de gás carbônico no sague pode levar a uma redução da frequência respiratória e até interromper sua capacidade de respirar.

Pergunta da revisão

Esta revisão teve como objetivo investigar se o uso de oxigênio em concentrações (quantidades) baseadas nas necessidades dos pacientes, seria menos prejudicial, mais prejudicial ou não faria diferença quando comparado com o uso de oxigênio em altas concentrações (alto fluxo).

Características do estudo

Para investigar esta questão, procuramos ensaios clínicos randomizados (ECR). Nestes estudos, os participantes têm chances iguais de receber o tratamento testado ou o tratamento de comparação. Estávamos interessados em estudos que comparassem diferentes taxas de fluxo (concentrações) de oxigênio, fornecido em uma ambulância, a pessoas sendo transferidas para o hospital devido ao agravamento súbito dos sintomas da DPOC.

Resultados principais

Foi encontrado apenas um estudo que abordou a pergunta desta revisão. Este estudo randomizou (sorteou) os participantes para receber o oxigênio titulado (oxigênio em concentrações adaptadas às necessidades do paciente, suficientes para manter os níveis de oxigênio no sangue entre 88% e 92%) ou o oxigênio a altos fluxos (oxigênio em uma concentração consistentemente alta: entre oito e dez litros por minuto).

Houve menos mortes (duas pessoas) no grupo que recebeu oxigênio titulado (individualizado), em comparação com o grupo que recebeu altos fluxos de oxigênio (11 pessoas).

Certeza (qualidade) da evidência

Devido à inclusão de apenas um estudo e ao pequeno número de mortes que ocorreram, nossa confiança no tamanho da diferença entre os efeitos dos dois tratamentos é limitada. Portanto, consideramos as evidências como sendo de baixa certeza (confiabilidade).

Ponto principal

Os resultados do único estudo incluído sugerem que o uso de concentrações de oxigênio individualizadas em pessoas que estão sendo transportadas para o hospital com piora súbita da DPOC reduz o risco de morte em comparação com o uso de concentrações consistentemente altas de oxigênio. Entretanto, o corpo (conjunto) de evidências é muito pequeno para afirmar com confiança que o oxigênio titulado (individualizado) é menos prejudicial e mais eficaz do que o oxigênio fornecido a altos fluxos para estas pessoas.

Este resumo para leigos está atualizado até setembro de 2019.

Conclusão dos autores: 

No estudo incluído, o grupo que recebeu oxigênio titulado teve menor mortalidade pré/intra-hospitalar em comparação com o que recebeu oxigênio a altos fluxos. Entretanto, a escassez de evidências limita a confiabilidade desses achados e a sua generalização para outros ambientes. Mais ECRs robustos e bem delineados são necessários para investigar melhor o efeito da oxigenoterapia no ambiente pré-hospitalar em pessoas com exacerbação aguda da DPOC.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo. Pessoas com DPOC podem apresentar episódios de exacerbação, com deterioração aguda dos sintomas. Durante estas exacerbações, as pessoas estão propensas a desenvolver hipoventilação alveolar. Estes eventos de redução da ventilação podem ser parcialmente causados pela administração de altas concentrações inspiradas de oxigênio.

Objetivos: 

Determinar o efeito de diferentes concentrações inspiradas de oxigênio ("alto fluxo" comparado com "fluxo controlado") no ambiente pré-hospitalar em pessoas com exacerbações agudas da DPOC.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas no Cochrane Airways Group Specialised Register, nas listas de referências de artigos e em bases de registro de estudos primários. Entramos em contato com os autores dos ensaios clínicos randomizados (ECR) identificados para tentar obter detalhes de outros estudos relevantes publicados e não publicados. A busca mais recente foi realizada em 16 de setembro de 2019.

Critério de seleção: 

Incluímos ECRs que compararam o uso da oxigenoterapia em diferentes concentrações ou oxigenoterapia versus placebo no ambiente pré-hospitalar para o tratamento de exacerbações agudas da DPOC.

Coleta dos dados e análises: 

Dois revisores, trabalhando de forma independente, avaliaram a qualidade dos estudos e extraíram os dados. O desfecho primário foi a mortalidade por todas as causas e por causas respiratórias.

Principais resultados: 

A busca identificou um total de 824 citações. Dentre as citações rastreadas, um estudo foi incluído e dois estão aguardando classificação. O estudo incluído tinha um total de 214 participantes adultos, com exacerbação aguda da DPOC, que receberam atendimento de paramédicos a caminho do hospital. A idade média dos participantes era de 68 anos.

Houve menor mortalidade pré/intra-hospitalar no grupo que recebeu oxigênio titulado (duas mortes no grupo de oxigênio titulado versus 11 mortes no grupo que recebeu alto fluxo de oxigênio), risco relativo (RR) 0,22; intervalo de confiança (IC) 95% 0,05 a 0,97; 214 participantes). Isto se traduz em um efeito absoluto de 21 mortes por 1000 participantes no grupo que recebeu oxigênio titulado versus 94 mortes por 1000 participantes no grupo de alto fluxo. O número de pacientes necessários a tratar (NNT) com o uso da oxigenoterapia titulada para que um resultado benéfico adicional seja alcançado é de 14; IC 95% 12 a 355. Além da mortalidade, nenhum outro evento adverso foi relatado no estudo incluído.

Os resultados relacionados à necessidade de ventilação mecânica invasiva ou não invasiva ou utilização hospitalar foram variáveis entre os grupos (amplos ICs). Também foram observados amplas variações nos resultados entre os grupos relacionados à gasometria arterial (embora tenha havido infidelidade ao protocolo no estudo incluído nas medidas de gasometria arterial). Não foram relatados dados sobre a qualidade de vida, função pulmonar ou dispneia. De um modo geral, o risco de viés no estudo incluído era amplamente incerto. Entretanto, havia alto risco de viés devido à falta de cegamento dos participantes e equipe (viés de desempenho) e devido à perda de participantes durante o acompanhamento (viés de atrito). Consideramos as evidências como sendo de baixa certeza (qualidade), de acordo com os critérios do GRADE.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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