Mensagens-chave
- As dietas de baixo índice glicémico e de baixa carga glicémica resultam provavelmente em pouca ou nenhuma diferença no peso, em comparação com as dietas de índice ou carga glicémica mais elevados ou quaisquer outras dietas.
- Não temos a certeza dos efeitos destas dietas na qualidade de vida das pessoas, nos efeitos secundários e na morte.
O que é uma dieta de baixo índice glicémico ou de baixa carga glicémica?
As dietas de baixo índice glicémico e de baixa carga glicémica consistem em alimentos que produzem um pico de açúcar no sangue mais suave ou mais tardio. Isto pode fazer com que o corpo produza menos insulina, o que pode levar à perda de peso.
O que queríamos descobrir?
Quisemos avaliar os efeitos de seguir estas dietas em pessoas com excesso de peso ou obesidade. Verificámos os efeitos sobre o peso, a qualidade de vida, os efeitos secundários e a morte.
O que fizemos?
Procurámos estudos que comparassem os efeitos destas dietas em adultos com excesso de peso ou obesidade com outras dietas, incluindo dietas de alto índice glicémico ou de alta carga glicémica (dietas que produziriam um pico mais elevado de açúcar (glucose) no sangue). Os estudos tinham de ter um período de seguimento de, pelo menos, 8 semanas.
O que encontrámos?
Incluímos 10 estudos com 1.210 pessoas (4,1% dos participantes eram crianças e 1,9% eram adultos com mais de 65 anos). Metade dos estudos foram realizados nos EUA e um estudo foi realizado em cada um dos seguintes países: Austrália, Irão, México, Nova Zelândia e Espanha.
Resultados principais
Dietas de baixo índice glicémico ou carga glicémica em comparação com dietas de índice glicémico ou de carga glicémica mais elevados
As dietas de baixo índice glicémico ou de baixa carga glicémica resultam, provavelmente, em pouca ou nenhuma diferença na alteração do peso corporal. Os resultados indicaram que uma dieta com baixo índice glicémico ou baixa carga glicémica pode melhorar o humor, mas o efeito real é, provavelmente, muito diferente da estimativa do efeito. Nenhum dos participantes registou efeitos indesejáveis ou prejudiciais. Nenhum dos estudos relatou a ocorrência de mortes.
Dietas de baixo índice glicémico ou de baixa carga glicémica em comparação com quaisquer outras dietas
As dietas de baixo índice glicémico ou de baixa carga glicémica resultam, provavelmente, em pouca ou nenhuma diferença na alteração do peso corporal em comparação com outras dietas. Os participantes nos estudos relataram efeitos indesejáveis, incluindo distúrbios alimentares, pedras nos rins e diverticulite (infeção ou inflamação de bolsas que se podem formar nos intestinos; as bolsas são chamadas divertículos). Estes efeitos podem ou não ter sido causados pela intervenção. Nenhum dos estudos para esta comparação apresentou dados sobre a qualidade de vida ou mortes dos participantes.
Quais são as limitações da evidência?
Estávamos mais seguros em relação aos resultados relacionados com o peso, mas havia maiores incertezas em relação a outros resultados. Nem todos os estudos relataram o que aconteceu em relação à qualidade de vida e às mortes dos participantes, e a maioria dos estudos eram muito pequenos. Além disso, os participantes em muitos estudos sabiam que dietas tinham recebido, o que pode ter influenciado a forma como viveram durante o estudo e como os resultados do estudo foram medidos.
Quão atualizada se encontra esta revisão?
A evidência encontra-se atualizada até maio de 2022.
Ler o resumo científico
A obesidade é cada vez mais prevalente, mas, ainda assim, o controlo nutricional continua controverso. Foi sugerido que as dietas de baixo índice glicémico (IG) ou de baixa carga glicémica (CG) podem estimular uma maior perda de peso do que as dietas de IG/CG mais elevadas ou outras dietas para redução de peso. A versão anterior desta revisão, publicada em 2007, encontrou principalmente estudos de intervenção de curto prazo. Desde então, ficaram disponíveis ensaios controlados aleatorizados (ECAs) com um acompanhamento a mais longo prazo, o que justifica uma atualização desta revisão.
Objetivos
Avaliar os efeitos de dietas de baixo índice glicémico ou de baixa carga glicémica na perda de peso em pessoas com excesso de peso ou obesidade.
Métodos de busca
Pesquisámos a CENTRAL, a MEDLINE, uma outra base de dados e dois registos de ensaios clínicos desde o seu início até 25 de maio de 2022. Não aplicamos nenhuma restrição quanto ao idioma.
Critério de seleção
Incluímos ECAs com uma duração mínima de oito semanas que comparavam dietas de baixo IG/CG com dietas de alto IG/CG ou quaisquer outras dietas, em pessoas com excesso de peso ou obesidade.
Coleta dos dados e análises
Seguimos as recomendações metodológicas padrão da Cochrane. Efetuámos duas comparações principais: dietas de baixo IG/CG versus dietas de alto IG/CG e dietas de baixo IG/CG versus qualquer outra dieta. Os nossos principais resultados incluíram alterações no peso corporal e no índice de massa corporal, eventos adversos, qualidade de vida relacionada com a saúde, e mortalidade. Usámos a metodologia GRADE para avaliar a certeza da evidência para cada resultado.
Principais resultados
Nesta revisão atualizada, incluímos 10 estudos (1.210 participantes); nove eram estudos recém-identificados. Incluímos apenas um estudo da versão anterior desta revisão, depois de revistos os critérios de inclusão. Identificámos cinco estudos como "a aguardar classificação" e um estudo como "em curso". Dos 10 estudos incluídos, sete compararam dietas de baixo IG/CG (233 participantes) com dietas de alto IG/CG (222 participantes) e três estudos compararam dietas de baixo IG/CG (379 participantes) com qualquer outra dieta (376 participantes). Um estudo incluiu crianças (50 participantes); um estudo incluiu adultos com mais de 65 anos (24 participantes); os restantes estudos incluíram adultos (1.136 participantes). A duração das intervenções variou de oito semanas a 18 meses. Todos os ensaios tinham um risco de viés indeterminado ou elevado em vários domínios.
Dietas de baixo IG/CG versus dietas de alto IG/GL
As dietas de baixo IG/CG provavelmente resultam em pouca ou nenhuma diferença na alteração do peso corporal em comparação com as dietas de alto IG/CG (diferença média (DM) -0,82 kg, intervalo de confiança (IC) de 95% -1,92 a 0,28; I 2 = 52%; 7 estudos, 403 participantes; evidência de qualidade moderada). As evidências em quatro estudos que relataram alterações no índice de massa corporal (IMC) indicaram que as dietas com baixo teor de IG/CG podem resultar em pouca ou nenhuma diferença na alteração do IMC em comparação com as dietas com alto teor de IG/CG (MD -0,45 kg/m 2 , IC 95% -1,02 a 0,12; I 2 = 22%; 186 participantes; baixo grau de certeza da evidência) no final dos períodos de estudo. Um estudo que avaliou o humor dos participantes indicou que as dietas de baixo IG/CG podem melhorar o humor, em comparação com as dietas de alto IG/CG, mas o grau de certeza da evidência é muito indeterminado (MD -3,5, IC 95% -9,33 a 2,33; 42 participantes; evidência de qualidade muito baixa). Dois estudos que avaliaram os eventos adversos não relataram quaisquer eventos desta natureza; considerámos que este resultado tem um grau muito baixo de certeza da evidência. Nenhum estudo avaliou a mortalidade por todas as causas.
Para os resultados secundários, as dietas com baixo teor de IG/CG podem resultar em pouca ou nenhuma diferença na massa gorda, em comparação com as dietas com maior teor de IG/CG (MD -0,86 kg, IC 95% -1,52 a -0,20; I 2 = 6%; 6 estudos, 295 participantes; baixo grau de certeza da evidência). Da mesma forma, as dietas com baixo IG/CG podem resultar em pouca ou nenhuma diferença no nível de glucose no sangue em jejum, em comparação com as dietas com maior IG/CG (MD 0,12 mmol/L, IC 95% 0,03 a 0,21; I 2 = 0%; 6 estudos, 344 participantes; baixo grau de certeza da evidência).
Dietas de baixo IG/CG versus qualquer outra dieta
As dietas de baixo IG/CG provavelmente resultam em pouca ou nenhuma diferença na alteração do peso corporal em comparação com outras dietas (MD -1,24 kg, IC 95% -2,82 a 0,34; I 2 = 70%; 3 estudos, 723 participantes; evidência de qualidade moderada). A evidência sugere que as dietas de baixo IG/CG provavelmente resultam em pouca ou nenhuma diferença na alteração do IMC, em comparação com outras dietas (MD -0,30 kg a favor das dietas de baixo IG/CG, IC 95% -0,59 a -0,01; I 2 = 0%; 2 estudos, 650 participantes; grau moderado de certeza da evidência). Foram registados dois eventos adversos num estudo: um não estava relacionado com a intervenção e o outro, um distúrbio alimentar, poderá estar relacionado com a intervenção. Outro estudo registou 11 eventos adversos, incluindo hipoglicemia após um teste oral de tolerância à glucose. O mesmo estudo registou sete eventos adversos graves, incluindo cálculos renais e diverticulite. Considerámos que este resultado tem um baixo grau de certeza da evidência. Nenhum estudo avaliou a qualidade de vida relacionada com a saúde ou a mortalidade por todas as causas.
Relativamente aos resultados secundários, nenhum dos estudos apresentou dados sobre a massa gorda. As dietas de baixo IG/CG provavelmente não reduzem o nível de glucose no sangue em jejum, em comparação com outras dietas (MD 0,03 mmol/L, 95% CI -0,05 a 0,12; I 2 = 0%; 3 estudos, 732 participantes; evidência de qualidade moderada).
Conclusão dos autores
As evidências atuais indicam que pode haver pouca ou nenhuma diferença para todos os principais resultados entre dietas de baixo IG/CG e dietas de alto IG/CG ou qualquer outra dieta. Não existe informação suficiente para tirar conclusões definitivas sobre o efeito das dietas com baixo teor de IG/CG em pessoas com excesso de peso ou obesidade. A maioria dos estudos tinha um tamanho de amostra pequeno, com apenas alguns participantes em cada grupo de comparação. Classificámos o grau de certeza da evidência como moderado a muito baixo. São necessários mais estudos bem concebidos e com a potência adequada. Devem seguir um protocolo de intervenção normalizado, adotar uma medição objetiva dos resultados, uma vez que a ocultação pode ser difícil de conseguir, e fazer esforços para minimizar a perda de participantes durante o seguimento. Além disso, são necessários estudos em pessoas de uma grande variedade de etnias e com uma grande variedade de hábitos alimentares, bem como estudos em países de baixo e médio rendimento.
Traduzido por: Maria Dulce Estêvão, Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.