Ambiente hospitalar alternativo versus ambiente convencional para o parto

Nos países de média ou alta renda, a maioria das mulheres dá a luz em salas de parto. As intervenções médicas de rotina também vêm crescendo ao longo do tempo, o que vem suscitando muitas perguntas sobre os benefícios, a segurança, e os riscos dessas práticas para gestantes saudáveis. Os ambientes hospitalares convencionais para o parto se assemelham com outros tipos de ambientes hospitalares para doentes, onde a cama é o foco principal do ambiente e os equipamentos médicos ficam todos à vista. Para incentivar gestantes saudáveis a terem um trabalho de parto normal e um parto vaginal, foram criados diversos outros tipos de ambientes hospitalares para dar à luz. Alguns lembram “quartos comuns” que foram criados dentro das alas de pré-parto do hospital. Outros são centros de partos independentes. Recentemente foram criados quartos sensoriais e do tipo Snoezelen dentro das enfermarias obstétricas. Esses quartos não se parecem com quartos residenciais mas oferecem uma série de estímulos sensoriais e móveis planejados para ajudar a gestante a ficar calma, em controle da situação e para facilitar sua movimentação.

O objetivo principal desta revisão foi avaliar os efeitos da assistência obstétrica em ambientes hospitalares alternativos em comparação com ambientes hospitalares convencionais. Um total de 10 estudos envolvendo 11.795 mulheres foram incluídos, sendo que nenhum desses estudos foi realizado em unidades independentes fora dos hospitais. Quando comparado com ambientes hospitalares convencionais, os ambientes alternativos foram associados com uma menor probabilidade de intervenções médicas, maior probabilidade de parto vaginal espontâneo, maior satisfação materna, e maior probabilidade de amamentação no 1º-2º mês pós-parto, sem nenhum risco aparente para a mãe ou para o bebê. Porém, em muitos estudos, o tipo de assistência oferecida nos ambientes alternativos foi bastante diferente daquela oferecida nos ambientes convencionais (como por exemplo, equipes de profissionais que só atendiam naquele ambiente específico e maior disponibilidade de assistência contínua com um mesmo cuidador durante todo o trabalho de parto e parto). Portanto, fica difícil separar os efeitos específicos e independentes do ambiente hospitalar em si. Em conclusão, as gestantes e os gestores de saúde devem ser informados sobre os benefícios dos ambientes hospitalares alternativos criados para incentivar o trabalho de parto normal e o parto vaginal.

Conclusão dos autores: 

Os centros de partos dentro de hospitais estão associados a menores taxas de intervenções médicas durante o trabalho de parto e parto e a maiores níveis de satisfação, sem aumentar os riscos maternos ou perinatais.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Ambientes hospitalares alternativos vem sendo criados para assistir gestantes que preferem pouca ou nenhuma intervenção médica . Esses ambientes podem oferecer assistência durante todo o pré-natal até o parto ou apenas durante o trabalho de parto. Esses ambientes podem existir dentro dos hospitais ou dentro de unidades independentes. Os ambientes alternativos especialmente desenvolvidos para o trabalho de parto incluem ambientes que lembram quartos comuns de residências, quartos com estimulação sensorial e quartos tipo Snoezelen.

Objetivos: 

Primário: avaliar os efeitos da assistência obstétrica oferecida em ambientes hospitalares alternativos comparados com assistência em ambientes hospitalares convencionais. Secundário: avaliar se os efeitos dos ambientes são influenciados pela equipe de funcionários, pelas características arquitetônicas do ambiente, pelos modelos organizacionais ou pela localização geográfica.

Métodos de busca: 

A busca foi realizada na base de dados eletrônica Cochrane Pregnancy and Childbirth Group’s Trials Register (30 de Março de 2012).

Critério de seleção: 

Foram incluídos todos os estudos randomizados ou quasi-randomizados que compararam os efeitos de um ambiente hospitalar alternativo com um ambiente hospitalar convencional para assistência ao parto.

Coleta dos dados e análises: 

Esta revisão seguiu a metodologia habitual do grupo Pregnancy and Childbirth. Dois revisores independentes avaliaram a qualidade metodológica dos estudos e realizaram a extração dos dados. Os resultados são apresentados como risco relativo (RR) e seus intervalos de confiança de 95% (IC95).

Principais resultados: 

Dez estudos envolvendo 11.795 mulheres preencheram os critérios de inclusão. Nenhum dos estudos foi realizado em unidades independentes ou em quartos tipo Snoezelen. As pacientes atendidas em ambientes hospitalares alternativos tiveram uma probabilidade maior de: não receberem analgesia/anestesia intraparto (6 estudos, n = 8953; RR 1,18, IC 95% 1,05 – 1,33); de terem um parto vaginal espontâneo (8 estudos; n = 11.202; RR 1,03, IC 95% 1,01 – 1,05); de estarem amamentando na 6ª-8ª semana pós-parto (1 estudo, n = 1147; RR 1,04, IC 95% 1,02 – 1,06) e de terem opiniões muito positivas sobre a assistência recebida (2 estudos, n = 1207; RR 1,96, IC 95% 1,78 – 2,15). As pacientes do grupo atendido em ambientes alternativos tiveram uma probabilidade menor de: receberem analgesia peridural (8 estudos, n = 10,931; RR 0,80, IC 95% 0,74-0,87); receberem ocitocina para condução do trabalho de parto (8 estudos, n = 11.131; RR 0,77, IC 95% 0.67 – 0,88); terem um parto vaginal instrumental (8 estudos, n = 11.202; RR 0,89, IC 95% 0,79 – 0,99), e de terem uma episiotomia (8 estudos, n = 11.055; RR 0,83, IC 95% 0.77 – 0.90). Não foram identificados efeitos sobre outros desfechos adversos maternos ou neonatais. O fato da assistência ser oferecida pela mesma equipe de profissionais ou por equipes diferentes não afetou os desfechos de interesse. Não foi possível se chegar a conclusões sobre os efeitos da assistência contínua por um mesmo cuidador ou das características arquitetônicas sobre os desfechos de interesse. Em vários estudos incluídos nesta revisão, os ambientes alternativos tinham diferenças importantes na organização da assistência (como por exemplo, uma equipe específica para esse tipo de ambiente, ou maior disponibilidade de assistência contínua pelo mesmo cuidador), o que pode ter funcionado como um fator de confusão. Portanto fica difícil fazer inferências quanto aos efeitos independentes do ambiente físico em si.

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