Podcast: Os anticoagulantes previnem a formação de coágulos sanguíneos nas pessoas internadas com COVID-19?

Existem agora mais de duas dúzias de revisões Cochrane de tópicos de alta prioridade relevantes para a COVID-19, que estão sendo atualizadas à medida que novas evidências se tornam disponíveis. Em março de 2022, publicamos descobertas atualizadas sobre os efeitos dos anticoagulantes e pedimos ao autor principal, Ronald Flumignan, da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, que resumisse as evidências neste podcast.

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Luís: Olá, sou Luís Nakano, autor Cochrane e professor de cirurgia vascular e endovascular. Existem agora mais de duas dúzias de revisões Cochrane de tópicos de alta prioridade relevantes para a COVID-19, que estão sendo atualizadas à medida que novas evidências se tornam disponíveis. Em março de 2022, publicamos descobertas atualizadas sobre os efeitos dos anticoagulantes e pedimos ao autor principal, Ronald Flumignan, da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, que resumisse as evidências neste podcast.

Ronald: A COVID-19 normalmente afeta os pulmões e as vias aéreas de uma pessoa, mas, além desses problemas respiratórios, cerca de uma em cada seis pessoas que vão para o hospital com COVID-19 podem desenvolver coágulos sanguíneos em suas veias ou artérias. Os anticoagulantes impedem a formação desses coágulos, mas podem causar efeitos indesejados, como sangramento. Algumas diretrizes recomendam administrar esses medicamentos quando as pessoas são admitidas pela primeira vez no hospital com COVID-19, para evitar o desenvolvimento de coágulos sanguíneos, em vez de esperar para ver se os coágulos sanguíneos se desenvolvem antes de tratá-los com anticoagulantes. Queríamos saber se o uso dessa abordagem profilática ou preventiva de administrar anticoagulantes quando as pessoas são hospitalizadas com COVID-19 reduz o número de mortes. Também queríamos saber se essas pessoas precisavam de menos suporte com a respiração, se desenvolviam coágulos sanguíneos prejudiciais ou experimentavam sangramento ou quaisquer outros eventos indesejados, como náuseas, vômitos, problemas renais ou necessidade de amputação.
Pesquisamos estudos que avaliaram anticoagulantes administrados a pessoas hospitalizadas com COVID-19 para prevenir coágulos sanguíneos que compararam um anticoagulante com outro anticoagulante, com nenhum anticoagulante ou com placebo. Após nossa pesquisa mais recente em abril de 2021, a revisão agora inclui sete estudos com aproximadamente 16.000 pessoas com COVID-19 que estavam em unidades de terapia intensiva, enfermarias de hospitais ou departamentos de emergência. Os pacientes foram acompanhados por 15 a 90 dias e os estudos forneceram dados sobre óbitos, sangramentos, coágulos sanguíneos, tempo de internação e efeitos indesejados; mas havia pouca ou nenhuma informação sobre a necessidade de suporte respiratório, óbitos relacionados ao COVID-19 ou qualidade de vida.
Quatro estudos randomizados, com quase 4.700 participantes, compararam pessoas alocadas para doses mais altas versus doses mais baixas de anticoagulantes. Estes encontraram pouca ou nenhuma diferença nas taxas de mortalidade, mas as pessoas em doses mais altas eram mais propensas a apresentar sangramento menor em comparação com aquelas em doses mais baixas. As pessoas que receberam doses mais altas de anticoagulantes também tiveram embolia pulmonar reduzida, que é um coágulo de sangue no pulmão ou vaso sanguíneo que leva ao pulmão e sangramento maior ligeiramente aumentado, mas houve pouca ou nenhuma diferença entre as doses no tempo gasto no hospital, a taxa de trombose venosa profunda ou outros eventos indesejados.
Três estudos não randomizados, com quase 11.600 participantes, compararam pessoas que receberam ou não anticoagulantes. Esses estudos descobriram que as pessoas que receberam anticoagulantes tiveram uma taxa de mortalidade menor do que aquelas que não receberam anticoagulantes, mas essa evidência é muito incerta.
Em resumo, neste momento, estamos muito confiantes de que doses mais altas de anticoagulantes não alteram o risco de morte, mas aumentam o risco de sangramento em pessoas hospitalizadas com COVID-19. Além disso, embora nossa confiança nessa evidência seja muito menor, parece que as pessoas que recebem anticoagulantes podem ter uma taxa de mortalidade menor em comparação com aquelas que não recebem nenhum anticoagulante. No entanto, essas conclusões podem mudar no futuro, até porque nossas pesquisas também encontraram 62 estudos em andamento com aproximadamente 35.000 participantes e planejamos adicionar os resultados desses estudos à nossa revisão quando eles forem publicados.

Luís: Para saber mais sobre as evidências atuais da pesquisa e ficar atento às atualizações à medida que os resultados dos ensaios em andamento forem disponibilizados, você pode acessar a revisão online. Basta visitar a Biblioteca Cochrane ponto com e pesquisar 'anticoagulantes e COVID-19'.

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