Principais mensagens
Não encontramos nenhum estudo que comparasse o uso de CPAP com cuidados de suporte para tratar a apneia da prematuridade.
Encontramos quatro estudos comparando diferentes tipos de CPAP. Os estudos eram pequenos e os profissionais de saúde sabiam qual tratamento cada bebê estava recebendo, o que pode ter influenciado os cuidados prestados. Portanto, não sabemos, a partir desses estudos, se há alguma diferença entre os diferentes tipos de CPAP para reduzir a apneia em bebês prematuros.
O que é apneia da prematuridade?
Bebês que nascem antes do tempo (prematuros) podem ter pausas mais longas na respiração. Quando isso acontece, chamamos de apneia da prematuridade. Essas pausas podem ocorrer porque o sistema que controla a respiração ainda é imaturo ou porque os músculos que mantêm as vias respiratórias abertas ainda estão fracos. Nos casos mais graves, o coração do bebê pode bater mais devagar e os níveis de oxigênio no sangue caem. Se essas pausas acontecerem com frequência, podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro do bebê. Quando o bebê apresenta apneia, os cuidados iniciais costumam incluir estímulos, como tocar suavemente ou movimentar os braços e pernas do bebê, oferecer oxigênio ou fazer as duas coisas.
O que é CPAP?
CPAP é um tipo de suporte de ventilação não invasiva para ajudar o bebê a respirar. Ele fornece uma pressão contínua de ar por meio de uma peça no nariz. Isso não substitui a respiração, mas facilita que o bebê respire sozinho. Essa pressão extra ajuda a manter as vias respiratórias abertas, o que torna a respiração mais fácil.
O que queríamos descobrir?
Queríamos saber se o uso do CPAP em bebês prematuros pode ajudar a reduzir os episódios de apneia ou a necessidade de tratamentos mais invasivos, como a ventilação mecânica (quando uma máquina respira pelo bebê). Também queríamos saber se um tipo específico de CPAP é superior aos demais.
O que fizemos?
Procuramos estudos com bebês prematuros em que os pesquisadores decidiram usar CPAP para tratar a apneia. Incluímos estudos que comparavam CPAP com cuidados básicos (como estímulos ou oxigênio) e estudos que comparavam diferentes formas de aplicar o CPAP.
O que encontramos?
Não encontramos nenhum estudo que comparasse CPAP com cuidados de suporte. Encontramos quatro estudos pequenos, com um total de 138 bebês. Eles compararam diferentes tipos de CPAP. Em três comparações, havia apenas um estudo em cada. Um dos estudos não trouxe dados úteis. O tempo de uso do CPAP nesses estudos variou de 4 a 48 horas. Com base nesses quatro estudos, ainda não sabemos se um tipo de CPAP é melhor que outro. Isso porque os estudos eram pequenos, os resultados eram imprecisos e os profissionais de saúde sabiam qual tratamento cada bebê estava recebendo, o que pode ter influenciado os resultados.
Até quando as evidências incluídas estão atualizadas?
As evidências desta revisão estão atualizadas até 6 de setembro de 2022.
Ler o resumo científico
A apneia da prematuridade (ApP) é caracterizada por uma pausa na respiração com duração igual ou superior a 20 segundos, ou inferior a 20 segundos quando acompanhada de bradicardia e hipóxia, em recém-nascidos prematuros. Estudos sugerem uma associação entre a gravidade da apneia e atrasos no desenvolvimento neurológico. A pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) é uma forma de assistência ventilatória não invasiva. Ela demonstrou ser relativamente segura e eficaz na prevenção e no tratamento da dificuldade respiratória em recém-nascidos prematuros. No entanto, ainda não está claro se o uso de CPAP é seguro e eficaz para prevenir e tratar a ApP.
Objetivos
1. Avaliar os efeitos do uso de CPAP sobre a ApP em recém-nascidos prematuros, em comparação com cuidados de suporte ou ventilação mecânica.
2. Avaliar os efeitos de diferentes sistemas de administração de CPAP sobre a ApP em recém-nascidos prematuros.
Métodos de busca
As buscas foram realizadas em setembro de 2022 nas seguintes bases de dados: Cochrane Library, MEDLINE, Embase e CINAHL. Também buscamos registros de ensaios clínicos e verificamos as listas de referências dos estudos incluídos.
Critério de seleção
Incluímos todos os ensaios clínicos randomizados e quase randomizados nos quais os pesquisadores determinaram que o uso de CPAP era necessário para o tratamento da ApP em recém-nascidos prematuros (nascidos com menos de 37 semanas de gestação). Também incluímos estudos cruzados, desde que dados suficientes estivessem disponíveis para análise.
Coleta dos dados e análises
Seguimos as recomendações metodológicas da Cochrane e do grupo Cochrane Neonatal. Pelo menos dois autores da revisão avaliaram de forma independente o risco de viés e extraíram os dados. Um terceiro autor resolveu as divergências. Utilizamos a abordagem GRADE para avaliar a certeza das evidências nos seguintes desfechos: 1) falha do CPAP; 2) episódios de apneia; 3) efeitos adversos do CPAP.
Principais resultados
Incluímos quatro estudos de centro único realizados na Malásia, Espanha, Alemanha e América do Norte, com 138 recém-nascidos prematuros, com idade gestacional média/mediana entre 26 e 28 semanas. Dois estudos seguiram o modelo de ensaio clínico randomizado em grupos paralelos e dois seguiram o modelo de estudo cruzado. Nenhum estudo comparou CPAP com cuidados de suporte. Todos compararam diferentes formas de administração de CPAP. Dois estudos compararam dispositivos de fluxo variável com CPAP administrado por ventilador; um estudo comparou dois dispositivos de fluxo variável; outro comparou um dispositivo de fluxo variável com o CPAP tipo bolha (bubble CPAP). As intervenções duraram entre 6 e 48 horas, com pressões entre 4 e 6 cm H 2 O. Avaliaremos todos os estudos como de alto risco de viés devido à falta de cegamento de participantes e equipe. Dois estudos também apresentaram alto risco de viés no cegamento da avaliação dos desfechos. Identificamos risco elevado de efeito de transição em dois estudos que não descreveram adequadamente o período de washout. Um dos estudos utilizou um método de análise considerado inadequado para estudos cruzados.
Comparação 1. CPAP associado a cuidados de suporte versus cuidados de suporte isolados
Não identificamos nenhum estudo para inclusão nesta comparação.
Comparação 2. CPAP administrado por diferentes tipos de dispositivos
2a. CPAP de fluxo variável versus CPAP por ventilador
Dois estudos foram incluídos nessa comparação. Não temos muita certeza se há alguma diferença na incidência de falha do CPAP, definida como a necessidade de ventilação mecânica (risco relativo (RR) 0,16, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,01 a 2,90; 1 estudo, 26 participantes; muito baixa certeza da evidência). A evidência também é muita incerteza se há alguma diferença na frequência dos episódios de apneia (diferença média (DM) por intervalo de quatro horas -0,10, IC de 95% -1,30 a 1,10; 1 estudo, 26 participantes; muito baixa certeza da evidência). Além disso, não temos certeza se há alguma diferença em eventos adversos. Nenhum estudo relatou desfechos relacionados ao desenvolvimento neurológico.
2b. CPAP de fluxo variável versus CPAP tipo bolha
Incluímos um estudo nessa comparação, mas ele não relatou os desfechos previamente definidos por esta revisão.
2c. CPAP de fluxo variável do tipo Infant Flow versus CPAP de fluxo variável do tipo Medijet
Não temos muita certeza se há alguma diferença na incidência de falha do CPAP (RR 2,62, IC 95% 0,91 a 7,53; 1 estudo, 80 participantes; muito baixa certeza da evidência). A frequência de apneia não foi relatada, e não sabemos se houve diferença nos eventos adversos. Nenhum estudo relatou desfechos relacionados ao desenvolvimento neurológico.
Comparação 3. CPAP versus ventilação mecânica
Não identificamos estudos que atendessem a essa comparação.
Conclusão dos autores
A evidência disponível é limitada, e ainda é muito incerto se algum tipo de CPAP é mais eficaz do que outros dispositivos CPAP, cuidados de suporte ou ventilação mecânica na prevenção e no tratamento da apneia da prematuridade. Os dispositivos analisados incluíram dois tipos de CPAP de fluxo variável: CPAP tipo bolha e o CPAP por ventilador. Cada comparação se baseou em dados de apenas um estudo. Existem fundamentos teóricos para acreditar que esses dispositivos possam ter efeitos diferentes sobre a apneia, o que reforça a necessidade de novos ensaios clínicos.
Tradução do Cochrane Brazil (André Silva de Sousa). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com