Mensagens-chave
- A metformina pode ser eficaz na prevenção do ganho de peso causado pelos antipsicóticos.
- Os antagonistas H2 e os moduladores monoaminérgicos podem ser um pouco eficazes na prevenção do ganho de peso causado pelos antipsicóticos.
- Estudos futuros devem incluir mais pessoas e avaliá-las por mais tempo.
O que são antipsicóticos?
Antipsicóticos são medicamentos usados para tratar sintomas de psicose, tais como alucinações, delírios e agitação. Eles são frequentemente usados para tratar pessoas com esquizofrenia. Exemplos de antipsicóticos são haloperidol (Haldol), clorpromazina (Thorazine), olanzapina (Zyprexa) e risperidona (Risperdal).
Esquizofrenia e ganho de peso
As pessoas com esquizofrenia têm o dobro da probabilidade da população geral de estar acima do peso, talvez devido a uma dieta pobre e a um estilo de vida inativo. O excesso de peso pode levar a outras condições de saúde, tais como doenças cardíacas, derrame e diabetes.
Infelizmente, um efeito indesejado dos antipsicóticos é o ganho de peso. As vezes, pessoas com esquizofrenia recebem medicamentos junto com antipsicóticos (medicamentos "adicionais") para evitar este ganho de peso adicional. Esses medicamentos adicionais podem impedir que as pessoas passem fome ou podem ajudá-las a se sentirem cheias. Normalmente, são medicamentos desenvolvidos para outros fins, tais como metformina, que é um medicamento para tratar diabetes, e fluoxetina, que é um antidepressivo.
O que queríamos saber?
Queríamos descobrir se os medicamentos adicionais para evitar o ganho de peso causado pelos antipsicóticos eram eficazes em pessoas com esquizofrenia.
O que nós fizemos?
Procuramos estudos que examinassem qualquer medicamento dado junto com os antipsicóticos para prevenir o ganho de peso em pessoas com esquizofrenia. Os participantes dos estudos podiam ser de qualquer idade ou sexo, mas tinham que ter um diagnóstico de esquizofrenia ou de algum transtorno esquizofreniforme. Eles tiveram que ser escolhidos aleatoriamente para receber o medicamento de prevenção de ganho de peso, ou um placebo (um medicamento falso) ou nenhum medicamento adicional (tratamento padrão).
Comparamos e resumimos os resultados dos estudos. Além disso, classificamos a certeza da evidência (grau de certeza nas evidências) com base em fatores como o número de participantes e a qualidade dos métodos usados nos estudos.
O que nós encontramos?
Encontramos 17 estudos com 1388 pessoas que examinaram os efeitos de medicamentos adicionais para evitar o ganho de peso causado por antipsicóticos. Os medicamentos adicionais foram metformina, topiramato, antagonistas H2, moduladores monoaminérgicos, moduladores monoaminérgicos mais betaistina, melatonina, e samidorfano. Os estudos foram de curta duração, com duração entre 6 e 24 semanas. E eram pequenos, com apenas 63 pessoas em média - o menor incluía apenas 14 pessoas, o maior 561 pessoas.
Estudos feitos até o momento sugerem isso:
- metformina pode ser eficaz na prevenção do ganho de peso e é bem tolerada em comparação ao tratamento padrão (5 estudos, 232 participantes);
- Antagonistas H2, tais como nizatidina, famotidina e ranitidina, ou moduladores monoaminérgicos, tais como reboxetina e fluoxetina, podem ser potencialmente eficazes na prevenção do ganho de peso causado por antipsicóticos;
- O topiramato provavelmente não é eficaz na prevenção do ganho de peso causado pelos antipsicóticos.
Quais são as limitações das evidências?
Nossa confiança nas evidências é limitada porque encontramos apenas um pequeno número de estudos para cada medicamento adjuvante. Os estudos incluíram poucas pessoas, e duraram pouco tempo.
Até que ponto estas evidências estão atualizadas?
Estas evidências estão atualizadas até Fevereiro de 2021.
Ler o resumo científico
O ganho de peso induzido por antipsicóticos é um problema extremamente comum em pessoas com esquizofrenia e está associado ao aumento da morbidade e mortalidade. Intervenções farmacológicas adjuvantes podem ser necessárias para ajudar a manejar o ganho de peso induzido por antipsicóticos. Esta revisão divide e atualiza uma Revisão Cochrane anterior que se concentrava tanto em abordagens farmacológicas quanto em abordagens comportamentais para este problema.
Objetivos
Determinar a efetividade das intervenções farmacológicas para prevenir o ganho de peso induzido por antipsicóticos em pessoas com esquizofrenia.
Métodos de busca
O especialista em informação da Cochrane Schizophrenia pesquisou o Cochrane Schizophrenia's Register of Trials em 10 de Fevereiro de 2021. Não há limitações de idioma, data, tipo de documento ou status de publicação para a inclusão da referência no registro.
Critério de seleção
Incluímos todos os ensaios clínicos controlados e randomizados (ECRs) que avaliaram qualquer intervenção farmacológica adjuvante para prevenir o ganho de peso em pessoas com esquizofrenia ou com transtornos esquizofreniformes que usam medicamentos antipsicóticos.
Coleta dos dados e análises
Pelo menos dois revisores extraíram os dados de forma independente e avaliaram a qualidade dos estudos incluídos. Para desfechos contínuos, combinamos na análise as diferenças médias (DM) no final do estudo e os dados de mudança. Para desfechos dicotômicos, calculamos o risco relativo (RR). Avaliamos o risco de viés para os estudos incluídos e utilizamos o GRADE para julgar o grau de certeza nas evidencias e criar um resumo das tabelas de resultados. Os desfechos primários para esta revisão foram mudança no peso clinicamente importante, mudança no índice de massa corporal (IMC) clinicamente importante, abandono precoce do estudo, adesão ao tratamento e frequência de náuseas. Os estudos incluídos raramente relataram estes desfechos, portanto, acrescentamos dois novos desfechos post hoc, média do peso final/mudança do peso e média do IMC final/mudança do IMC.
Principais resultados
Dezessete ECRs, com um total de 1388 participantes, preencheram os critérios de inclusão para a revisão. Cinco estudos investigaram metformina, três topiramato, três antagonistas H2, três moduladores monoaminérgicos, um modulador monoaminérgico associado a betaistina, um melatonina e um samidorfano. O elemento de comparação em todos os estudos foi placebo ou nenhum tratamento (ou seja, apenas o tratamento padrão). Sintetizamos todos os estudos em uma metanálise quantitativa. A maioria dos estudos relatou inadequadamente seus métodos de sigilo de alocação e cegamento dos participantes e da equipe. O risco de viés resultante e, muitas vezes, o tamanho reduzido das amostras limita a certeza geral nas evidências. Apenas um estudo com reboxetina relatou o desfecho primário, o número de participantes com mudança de peso clinicamente importante. Menos pessoas no grupo de tratamento experimentaram ganhos de peso de mais de 5% e mais de 7% de seu peso corporal do que aquelas do grupo placebo (> 5% de ganho de peso RR 0,27, intervalo de confiança (IC) 95% 0,11 a 0,65; 1 estudo, 43 participantes, > 7% de ganho de peso RR 0,24, IC 95% 0,07 a 0,83, 1 estudo, 43 participantes, muito baixa certeza na evidência). Nenhum estudo relatou os desfechos primários, "mudança no IMC clinicamente importante", ou "adesão ao tratamento". No entanto, vários estudos relataram "média do peso final/alteração do peso" ou "média do IMC final/alteração do IMC".
Metformina pode ser eficaz na prevenção do ganho de peso (DM -4,03 kg, IC 95% -5,78 a -2,28, 4 estudos, 131 participantes, baixa certeza na evidência); e na prevenção do aumento do IMC (DM -1,63 kg/m2, IC 95% -2,96 a -0,29, 5 estudos, 227 participantes, baixa certeza na evidência). Outros agentes que podem ser um pouco eficazes na prevenção do ganho de peso incluem antagonistas H2, tais como nizatidina, famotidina e ranitidina (DM -1,32 kg, IC 95% -2,09 a -0,56, 3 estudos, 248 participantes, baixa certeza na evidência) e moduladores monoaminérgicos, tais como reboxetina e fluoxetina (peso: DM -1,89 kg, IC 95% -3,31 a -0,47; 3 estudos, 103 participantes, baixa certeza na evidência; IMC: DM -0,66 kg/m2, IC 95% -1,05 a -0,26; 3 estudos, 103 participantes; baixa certeza na evidência). O topiramato não pareceu eficaz na prevenção do ganho de peso (DM -4,82 kg, IC 95% -9,99 a 0,35; 3 estudos, 168 participantes; muito baixa certeza na evidência ) . Para todos os agentes, não houve diferença entre os grupos em termos de indivíduos que deixaram o estudo ou relatos de náuseas. No entanto, os resultados destes desfechos são incertos, dada a muito baixa certeza na evidência.
Conclusão dos autores
Há evidências de baixa certeza que sugerem que a metformina pode ser eficaz na prevenção do ganho de peso. A interpretação deste resultado e de outros agentes é limitada pelo pequeno número de estudos, pelo tamanho reduzido das amostras e pela curta duração dos estudos. No futuro, precisamos de estudos que tenham o poder adequado e com durações de tratamento mais longas para avaliar melhor a eficácia e a segurança das intervenções para manejar o ganho de peso.
Tradução do Cochrane Brazil (Rômulo Kunrath e Mayara Rodrigues). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com