Porque é que esta revisão é importante?
A fraca resistência óssea é comum nas pessoas com paralisia cerebral (PC). As causas incluem: redução das atividades de suporte de peso que aumentam a resistência óssea, como caminhar ou correr, particularmente entre as pessoas que necessitam de dispositivos de assistência à mobilidade; redução da ingestão de vitaminas e minerais que aumentam a resistência óssea, incluindo cálcio e vitamina D; e aumento da utilização de medicamentos que impedem a formação óssea, como os medicamentos anti-convulsivos. Isto leva a um elevado risco de fraturas ósseas, mesmo com traumatismos muito ligeiros. As crianças com PC que não conseguem andar correm um risco particularmente elevado de ter uma fraca resistência óssea e fraturas nos ossos das pernas. Os bifosfonatos são um grupo de medicamentos que são utilizados para melhorar a resistência óssea. Os bifosfonatos são normalmente utilizados em adultos com fraca resistência óssea. No entanto, há uma falta de evidência para a sua utilização em crianças.
A que questões pretende esta revisão responder?
Em primeiro lugar, qual é o efeito do tratamento com bifosfonatos em comparação com placebo (comprimido falso) ou sem tratamento em diferentes medidas de resistência óssea em crianças até aos 18 anos com PC? As medidas incluem marcadores sanguíneos da saúde óssea, frequência de fraturas, dor óssea e qualidade de vida.
Em segundo lugar, existem efeitos secundários negativos?
Quais foram os estudos incluídos nesta revisão?
Examinámos as evidências disponíveis para a utilização do tratamento com bifosfonatos em crianças com PC até setembro de 2020. Encontramos dois estudos que compararam o uso de bifosfonatos com placebo ou nenhum tratamento para melhorar a força óssea em crianças com PC. Estes dois ensaios incluíram um total de 34 participantes com PC de níveis semelhantes de gravidade. Os participantes em ambos os estudos tinham 16 anos de idade ou menos, e havia um número igual de rapazes e raparigas em cada ensaio. Ambos os ensaios incluíram crianças que não conseguiam andar. Os dois ensaios utilizaram diferentes tipos de tratamentos com bifosfonatos, administrados durante seis meses num estudo e 12 meses no outro. Não foi possível efetuar uma comparação mais aprofundada destes tratamentos devido à falta de informação publicada num ensaio.
Um ensaio foi apoiado por fundações de investigação, académicas e hospitalares, tendo as empresas farmacêuticas doado componentes dos suplementos de cálcio e vitaminas. O outro estudo não comunicou as suas fontes de financiamento.
O que a revisão encontrou?
Os resultados de ambos os ensaios fornecem alguma evidência de que administrar tratamento com bifosfonatos a crianças com PC durante pelo menos seis meses pode melhorar a sua força óssea. A força deste efeito só pôde ser medida num ensaio com 12 participantes. Isto sugere uma melhoria média de 18% na resistência óssea, medida pela densidade mineral óssea (DMO). No entanto, devido ao número muito pequeno de participantes em ambos os ensaios, à grande variação nos resultados e a alguns problemas com a forma como os ensaios foram conduzidos, esta conclusão é incerta.
Cada estudo relatou os resultados das alterações nos marcadores sanguíneos da resistência óssea de uma forma diferente, o que significa que temos provas inconclusivas e não podemos tirar conclusões sobre os efeitos do tratamento com bifosfonatos.
Nenhum dos ensaios relatou quaisquer riscos significativos ou resultados adversos graves entre as crianças submetidas a tratamento com bifosfonatos.
Nenhum dos ensaios examinou a questão de saber se o tratamento com bifosfonatos tinha um efeito nas alterações da densidade óssea real, nem na taxa de fraturas das crianças com PC.
Conclusões dos autores
Temos uma confiança limitada quanto ao facto de o tratamento com bifosfonatos poder melhorar a saúde óssea em crianças com PC.
São necessários mais estudos para avaliar os benefícios e os riscos do tratamento com bifosfonatos em crianças com PC. Estudos futuros sobre o bifosfonato devem examinar os efeitos do bifosfonato combinado com outras novas opções de tratamento.
Tradução e revisão final por: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.