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Feedback do cliente na terapia psicológica em crianças e adolescentes com problemas de saúde mental

Porque é que esta revisão é importante?

O feedback sistemático dos clientes aos psicoterapeutas pode melhorar os resultados da terapia psicológica. Normalmente, o feedback do cliente é fornecido regularmente ao longo do curso da terapia. Os clientes preenchem um questionário sobre como se sentem em relação à terapia e como se sentem em geral. O questionário é então pontuado e revisto pelo terapeuta. A ideia é que o terapeuta utilize o feedback para ajustar o processo terapêutico, com o objetivo de melhorar o ajuste cliente-terapeuta e cliente-terapia e, em última análise, o envolvimento do cliente, a resposta ao tratamento e os resultados. Existe evidência empírica da utilização do feedback do cliente em psicoterapia de adultos para melhorar os resultados e a resposta, mas o conhecimento sobre esta prática em crianças e adolescentes é limitado. Esta revisão pode proporcionar uma melhor compreensão do papel atual do feedback do cliente em psicoterapia para crianças e adolescentes, bem como direções futuras que promovam a prática baseada na evidência em psicoterapia de crianças e adolescentes.

Quem poderá estar interessado nesta revisão?

Psicoterapeutas que trabalham com crianças e adolescentes, decisores políticos, crianças e adolescentes com problemas de saúde mental, bem como os seus cuidadores e familiares.

A que questões pretende esta revisão responder?

Alguns estudos sugerem que o feedback do cliente tem um impacto positivo nos resultados da psicoterapia com adultos. Não sabemos se o feedback do cliente funciona com crianças e adolescentes.

Quais foram os estudos incluídos nesta revisão?

Para serem incluídos na revisão, os estudos tinham de ser ensaios controlados aleatorizados, em que as crianças e os adolescentes com problemas de saúde mental eram distribuídos aleatoriamente (apenas por acaso) para receberem psicoterapia com feedback do cliente ou psicoterapia normal. Fizemos buscas em bases de dados eletrónicas para encontrar todos os ensaios clínicos publicados até 3 de abril de 2018 e encontrámos seis (com um total de 1.097 crianças e adolescentes) que preenchiam os nossos critérios de inclusão.

O que é que a evidência desta revisão nos diz?

Existem poucas investigações sobre o feedback do cliente em terapias psicológicas para crianças e adolescentes com problemas de saúde mental. A maior parte deles foi realizada nos EUA com crianças mais velhas e adolescentes (11 a 18 anos de idade).

Não existe evidência clara que apoie a eficácia do feedback do cliente na terapia psicológica para crianças e adolescentes.

O que deve acontecer a seguir?

Não se pode excluir que o feedback do cliente tenha efeitos positivos nos resultados da psicoterapia em crianças e adolescentes. São necessários estudos de elevada qualidade para fornecer evidência suficiente. Estudos futuros devem incluir também crianças mais novas e devem ser realizados noutros países para além dos EUA.

Introdução

Os problemas de saúde mental da infância e da adolescência são uma preocupação séria e crescente em todo o mundo. A investigação sugere que a psicoterapia pode ter um impacto significativo e positivo nas crianças e adolescentes com problemas de saúde mental, como perturbações de ansiedade, depressão e distúrbios de conduta. As ferramentas de feedback do cliente servem como um método para monitorizar o progresso dos clientes e fornecer feedback dos clientes aos terapeutas durante o processo terapêutico. Estas ferramentas podem ajudar a melhorar a tomada de decisões dos médicos, permitindo-lhes adaptar os seus planos de tratamento à medida que a terapia progride, resultando numa redução das falhas de tratamento. A investigação demonstrou que as ferramentas de feedback do cliente têm um efeito positivo na psicoterapia dos adultos. Esta revisão aborda a questão de saber se as ferramentas de feedback na terapia da criança e do adolescente podem ajudar os terapeutas a tratar melhor os seus jovens clientes.

Objetivos

Avaliar os efeitos do feedback do cliente na terapia psicológica sobre os resultados da saúde mental da criança e do adolescente.

Métodos de busca

Pesquisámos o Cochrane Common Mental Disorders Controlled Trials Register (CCMDCTR, Studies and References), no Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), no Ovid MEDLINE (1946-), no Embase (1974-) e no PsycINFO (1967-) até 3 de abril de 2018. Não aplicámos à pesquisa qualquer restrição quanto à data, língua ou estado de publicação.

Critério de seleção

Incluímos ensaios controlados aleatorizados (ECAs) que compararam o feedback do cliente com a ausência de feedback do cliente em terapias psicológicas para crianças e adolescentes.

Coleta dos dados e análises

Dois autores de revisão avaliaram independentemente as referências para a elegibilidade da inclusão e extraíram os dados sobre os resultados, o risco de viés e as caraterísticas do estudo em formulários personalizados. Contactámos os autores dos estudos para obter os dados em falta. Analisámos os dados dicotómicos utilizando rácios de risco (RR) e calculámos os respetivos intervalos de confiança (IC) a 95%. Para os dados contínuos, calculámos as diferenças médias (MDs) ou as diferenças médias padronizadas (SMDs) se fossem utilizadas escalas diferentes para medir o mesmo resultado. Utilizámos um modelo de efeitos aleatórios para todas as análises.

Principais resultados

Incluímos na revisão seis ECAs publicados, realizados nos EUA (5 ECAs) e em Israel (1 ECA), com 1.097 crianças e adolescentes (11 a 18 anos de idade).

Estamos muito incertos sobre o efeito do feedback do cliente na melhoria dos sintomas, tal como relatado pelos jovens a curto prazo, porque considerámos a evidência como sendo de grau de certeza muito baixo devido ao elevado risco de viés e à inconsistência muito grave nas estimativas de efeito dos diferentes estudos. Da mesma forma, estamos muito incertos quanto ao efeito do feedback do cliente sobre a aceitabilidade do tratamento, devido ao elevado risco de viés, à imprecisão dos resultados e à forma indireta de medir o resultado (RR 1,08, IC 95% 0,73 a 1,61; 2 estudos, 237 participantes; grau de certeza muito baixo).

Em geral, a maioria dos estudos relatou e realizou a aleatorização e a ocultação da alocação de forma adequada. Nenhum dos estudos era cego ou tentou cegar os participantes e o pessoal e tinham um risco elevado de viés de desempenho, e apenas um estudo tinha avaliadores de resultados cegos. Todos os estudos apresentavam um risco elevado ou pouco claro de viés de atrito, principalmente devido à falta de transparência na comunicação do fluxo de participantes nos estudos.

Conclusão dos autores

Devido à escassez de dados de alta qualidade e à considerável inconsistência dos resultados de diferentes estudos, não existem atualmente evidência suficiente para chegar a conclusões definitivas sobre o papel do feedback do cliente em terapias psicológicas para crianças e adolescentes com problemas de saúde mental, sendo necessária mais investigação sobre este importante tópico.

Os estudos futuros devem evitar os riscos de vieses de desempenho, de deteção e de atrito, tal como se verificou nos estudos incluídos nesta revisão. São necessários estudos noutros países que não os EUA, bem como estudos que incluam crianças com menos de 10 anos.

Notas de tradução

Tradução e revisão final por: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

Citation
Bergman H, Kornør H, Nikolakopoulou A, Hanssen-Bauer K, Soares-Weiser K, Tollefsen TK, Bjørndal A. Client feedback in psychological therapy for children and adolescents with mental health problems. Cochrane Database of Systematic Reviews 2018, Issue 8. Art. No.: CD011729. DOI: 10.1002/14651858.CD011729.pub2.

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