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Inibidores seletivos da recaptação da serotonina e noradrenalina para o tratamento da fibromialgia

Conclusão

A duloxetina e o milnaciprano podem reduzir o nível de dor em doentes com fibromialgia. No entanto, em alguns doentes a utilização destes ISRSNs pode levar à ocorrência de eventos adversos, tais como náusea e sonolência. Uma minoria dos doentes com fibromialgia medicados com duloxetina e/ou milnaciprano apresenta alívio sintomático sem qualquer evento adverso associado.

Contexto

Os doentes com fibromialgia sofrem frequentemente de dor crónica generalizada (mais de três meses de duração), bem como de alterações do sono, pensamento e fadiga. Estes doentes reportam frequentemente maus índices de qualidade de vida associada à saúde. Na ausência de uma cura para a fibromialgia (no presente), o tratamento visa aliviar os sintomas da doença e melhorar os índices de qualidade de vida associada à saúde.

A serotonina e a noradrenalina são compostos químicos produzidos pelo corpo humano, que desempenham (entre outras) funções importantes na regulação da dor, do sono e do humor. Têm sido reportadas baixas concentrações de serotonina em doentes com fibromialgia. Os ISRSNs são uma classe de fármacos antidepressivos que aumenta a concentração de serotonina e noradrenalina no sistema nervoso central (SNC).

Características dos estudos

Em Agosto de 2017 atualizámos a nossa pesquisa bibliográfica no que concerne a ensaios clínicos nos quais os ISRSNs foram utilizados para o tratamento de sintomas associados à fibromialgia, em doentes adultos. Encontrámos 8 novos estudos, publicados posteriormente à última versão desta revisão sistemática. No total, encontrámos 18 estudos com um total de 7903 participantes. Os diferentes estudos tiveram uma duração total que variou entre 4 e 27 semanas e compararam os efeitos da desvenlafaxina, duloxetina e milnaciprano com uma medicação falsa (um placebo). Avaliámos a qualidade da evidência científica dos diferentes estudos de acordo com uma escala de 4 níveis: muito baixa, baixa, moderada e elevada. Uma avaliação da qualidade da evidência científica como muito baixa significa que temos um grau de incerteza muito elevado em relação aos resultados apresentados. Uma avaliação da qualidade da evidência científica como elevada significa que estamos bastante confiantes em relação aos resultados apresentados.

Resultados chave e qualidade da evidência

A duloxetina e o milnaciprano mostraram-se superiores ao placebo na redução do nível de dor em pelo menos 50%, bem como na melhoria global do bem-estar (evidência científica de baixa qualidade). A duloxetina e o milnaciprano mostraram-se superiores ao placebo na melhoria dos índices de qualidade de vida associada à saúde, bem como na redução da fadiga (evidência científica de baixa qualidade). A duloxetina e o milnaciprano não foram superiores ao placebo na redução das alterações do sono (evidência científica de baixa qualidade). A taxa de desistências do estudo por ocorrência de eventos adversos foi superior no grupo de tratamento (duloxetina e/ou milnaciprano) quando em comparação com o grupo de controlo (placebo). A taxa de participantes que reportou a ocorrência de naúsea e/ou sonolência foi superior no grupo de tratamento (duloxetina e/ou milnaciprano) quando em comparação com o grupo de controlo (placebo). A duloxetina, o milnaciprano e o placebo não mostraram diferença no que concerne à frequência da ocorrência de eventos adversos graves (evidência científica de muito baixa qualidade).

Introdução

Síndrome da fibromialgia (SFM) é uma condição crônica clinicamente bem definida, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor crônica generalizada que muitas vezes co-existe com distúrbios do sono, disfunção cognitiva e fadiga. Os pacientes frequentemente relatam níveis de deficiência elevados e baixa qualidade de vida (QV). A terapia de droga centra-se na redução dos sintomas-chave e melhora da qualidade de vida.

Objetivos

Avaliar os benefícios e malefícios de inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs), comparado com o placebo no tratamento dos sintomas da SFM em adultos.

Métodos de busca

Buscamos no Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), (The Cochrane Library 2012, Edição 9), MEDLINE (1966 a Setembro de 2012), EMBASE (1980 a Setembro de 2012), www.clinicalstudyresults.org (U.S.-marketed pharmaceuticals) (até Setembro de 2012) e www.clinicaltrials.gov (até Setembro de 2012) por ensaios clínicos publicados ou em andamento e examinamos as listas de referências dos artigos revisados.

Critério de seleção

Selecionamos ensaios clínicos controlados randomizados de qualquer formulação de IRSNs contra placebo para o tratamento da SFM em adultos.

Coleta dos dados e análises

Dois revisores extraíram independentemente os dados dos estudos incluídos, e avaliaram os riscos de viés dos estudos. Discrepâncias foram resolvidas por discussão.

Principais resultados

Dez estudos foram incluídos com um total de 6038 participantes. Cinco estudos investigaram a duloxetina contra placebo e cinco investigaram milnaciprano contra placebo. Um total de 3611 participantes foram incluídos em grupos de duloxetina ou de milnaciprano e 2427 participantes em grupos placebo. Os estudos tem um baixo risco de viés em geral. Duloxetina e milnaciprano tiveram um pequeno efeito incremental sobre o placebo na redução da dor (diferença média padronizada (DMP) -0,23; intervalo de confiança (IC) de 95% -0,29 a -0,18; 6,1% de melhoria relativa). Cento e noventa e dois participantes por 1000 com placebo relataram uma redução da dor pelo menos 50% em comparação com 280 por 1000 em IRSNs (razão de risco (RR) 1,49, IC 95% 1,35 a 1,64; número necessário para tratar o benefício (NNTB) 11, IC 95% 9 a 15). Duloxetina e milnaciprano não reduziram substancialmente a fadiga (DMP -0,14; IC 95% -0.19 a -0.08; 2,5% de melhoria relativa; NNTB 17, IC 95% 12 a 29), e não melhoraram substancialmente a qualidade de vida (DMP -0,20; IC 95% -0.25 a -0.14; 4,6% de melhoria relativa; NNTB 12, IC 95% 9 a 17) comparado com placebo. Não houve diferença estatisticamente significante entre ambos os grupos duloxetina ou milnaciprano e placebo na redução dos problemas do sono (DMP -0,07; IC 95% -0,16 a 0,03; 2,5% de melhoria relativa). Cento e sete participantes em 1000 com placebo desistiram devido a eventos adversos em comparado com 196 por 1000 em IRSNs. A taxa de abandono devido a eventos adversos nos grupos duloxetina e milnaciprano foi estatisticamente significante maior do que no grupo placebo (RR 1,83, IC 95% 1,53 a 2,18; número necessário para tratar o dano (NNTH) 11, IC 95% 9 a 13) . Não houve diferença estatisticamente significante em eventos adversos graves entre ambos os grupos duloxetina ou milnaciprano e placebo (RR 0,78, IC 95% 0,55 a 1,12).

Conclusão dos autores

Os IRSNs duloxetina e milnaciprano proveram um pequeno benefício adicional sobre o placebo na redução da dor. A superioridade da duloxetina e milnaciprano sobre o placebo na redução da fadiga e limitações do QV não foi substancial. Duloxetina e milnaciprano não foram superiores ao placebo na redução dos problemas de sono. As taxas de abandono devido a eventos adversos foram mais elevados para a duloxetina e milnaciprano do que para o placebo. Os sintomas mais frequentemente relatados que levam à interrupção da medicação foram náuseas, boca seca, constipação, dor de cabeça, sonolência/ tontura e insônia. As complicações raras de ambos os fármacos podem incluir comportamento suicida, danos no fígado, hemorragia anormal, pressão arterial elevada e hesitação urinária.

Notas de tradução

Tradução por: Guilherme Ferreira Dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa, Portugal; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; com o apoio da Cochrane Portugal.

Citation
Welsch P, Üçeyler N, Klose P, Walitt B, Häuser W. Serotonin and noradrenaline reuptake inhibitors (SNRIs) for fibromyalgia. Cochrane Database of Systematic Reviews 2018, Issue 2. Art. No.: CD010292. DOI: 10.1002/14651858.CD010292.pub2.

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