Intervenções médicas para prevenir a rejeição precoce do enxerto após transplante hepático

Qual foi o objetivo desta revisão Cochrane?

O transplante do fígado é a principal opção de tratamento para pessoas com doença hepática avançada grave. Quando órgãos ou tecidos são transplantados de uma pessoa (dador) para outra (recetor), o corpo do recetor identifica o órgão doado (ou enxerto) como um corpo estranho e inicia uma resposta contra ele, de forma semelhante ao mecanismo natural de defesa do corpo contra infecções (resposta imunitária). Isto pode, por vezes, levar à rejeição ou falência do fígado do dador, o que pode resultar na morte do recetor do órgão. Várias intervenções médicas (regimes imunossupressores) são utilizadas quer isoladamente quer em combinação para prevenir a rejeição. A combinação de intervenções utilizadas nos primeiros meses após o transplante hepático (regime imunossupressor de indução) é frequentemente diferente da combinação utilizada para o resto da vida do paciente (imunossupressão de manutenção). Não é claro qual o regime imunossupressor de indução após o transplante hepático que é mais eficaz.

Os autores da revisão recolheram e analisaram todos os estudos de investigação relevantes para responder a esta questão e encontraram 25 ensaios clínicos aleatorizados (estudos em que os participantes são atribuídos aleatoriamente a um de dois grupos). Durante a análise dos dados, os autores utilizaram métodos padrão da Cochrane, que permitem a comparação de dois tratamentos de cada vez. Os autores também utilizaram técnicas avançadas que permitem a comparação de múltiplos tratamentos simultaneamente (geralmente referidas como "meta-análise de rede (ou indirecta)").

Data da pesquisa bibliográfica
Julho de 2019

Mensagens principais
Apenas um dos 25 estudos foi conduzido sem falhas e a maioria dos estudos era pequeno em termos do número de participantes incluídos. Devido a isto, existe uma incerteza elevada ou muito elevada nos resultados da análise obtida com esta revisão. Em geral, um medicamento chamado basiliximab pode reduzir para metade o número de mortes e falhas de enxertos em pessoas submetidas a transplante hepático, em comparação com o regime de imunossupressão de indução padrão com glucocorticoides.

A fonte de financiamento não foi clara em nove estudos. Organizações comerciais financiaram 14 dos estudos. Não houve preocupações quanto à fonte de financiamento para os dois restantes ensaios.

O que foi estudado nesta revisão?

Esta revisão estudou adultos de qualquer sexo, idade e origem étnica, que foram submetidos a transplantes de fígado por várias razões. Os participantes receberam diferentes agentes imunossupressores de indução ou não receberam agentes imunossupressores de indução. Os autores da revisão excluíram estudos em pessoas submetidas a outros transplantes de órgão (como o transplante renal) para além do transplante hepático, e estudos em que as pessoas já tinham desenvolvido rejeição de enxerto. A idade média dos participantes nos estudos, aquando da reportagem de dados, variou de 48 a 62 anos. Os imunossupressores de indução administrados incluíam glucocorticosteroides, globulina anti-timócito, basiliximab, ou dacluzimab, isoladamente ou em combinação com glucocorticosteroides. Os autores da revisão quiseram recolher e analisar dados sobre morte, falência dos enxertos, qualidade de vida, eventos adversos graves e não graves, falência renal, tempo para retransplantação do fígado e rejeições de enxerto.

Quais foram os principais resultados desta revisão?

Os 25 estudos incluíram um pequeno número de participantes no total (3271 participantes). Os dados dos estudos eram escassos. Vinte e três estudos com 3017 participantes no total providenciaram dados para análises. O seguimento dos participantes nos ensaios variou de 3 a 76 meses: o seguimento médio nos ensaios foi de 12 meses. Esta revisão mostrou que:
- 7 em cada 100 pessoas morreram e 12 em cada 100 pessoas desenvolveram falência do enxerto;
- em comparação com a imunossupressão de indução padrão com glucocorticosteroides, o basiliximab pode reduzir para metade o número de mortes e falha do enxerto; no entanto, esta informação baseia-se em pequenos estudos com falhas. Portanto, existe muita incerteza quanto ao efeito do basiliximab;
- a evidência é incerta quanto aos efeitos de diferentes imunossupressores de indução em outros resultados clínicos, incluindo rejeições de enxertos;
- nenhum dos ensaios relatou qualidade de vida relacionada com a saúde;
- são necessários ensaios futuros bem concebidos.

Notas de tradução: 

Traduzido por: João Pedro Bandovas, Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, com o apoio da Cochrane Portugal.

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