Mirtazapina como tratamento adjuvante na esquizofrenia.

Questão de revisão:

Será que a adição de mirtazapina, um fármaco anti-depressivo, ao tratamento-padrão é um tratamento eficaz e seguro nas pessoas com esquizofrenia?

Contexto:

A esquizofrenia é uma doença mental grave. Os doentes afetados exibem tipicamente comportamento social anormal e uma incapacidade de julgar o que é real. Existem três tipos principais de sintomas. Sintomas positivos são aqueles em que o doente ouve vozes ou vê coisas que não existem, bem como crenças falsas e inabaláveis (ideias delirantes). Exemplos de sintomas negativos são a falta de motivação e o evitamento de atividades sociais. Os sintomas cognitivos incluem uma redução da habilidade para se concentrar ou dificuldade em utilizar informação para tomar decisões. A esquizofrenia pode ser extremamente debilitante, afetando grandemente o funcionamento social dos doentes e a sua habilidade para viver com independência.

A medicação anti-psicótica constitui o principal tratamento para a esquizofrenia e é eficaz no tratamento dos sintomas positivos da esquizofrenia, embora frequentemente não trate completamente os sintomas negativos. Medicamentos adicionais (adjuvantes) são usualmente utilizados junto com os anti-psicóticos para auxiliar no tratamento dos sintomas negativos. Os fármacos anti-depressivos, tais como a mirtazapina, podem ser usados como tratamento adjuvante. A mirtazapina pode ter o potencial de melhorar os sintomas negativos da esquizofrenia, mas tem igualmente o potencial de causar efeitos colaterais desagradáveis. Evidência que sumarize os benefícios e perigos da mirtazapina para os doentes com esquizofrenia é necessária.

Investigação:

O Information Specialist of Cochrane Schizophrenia pesquisou o seu registo especializado para ensaios clínicos que aleatoriamente alocaram pessoas com esquizofrenia para receber ou mirtazapina ou outro tratamento em adição ao tratamento-padrão. A última pesquisa foi conduzida em maio de 2018 e encontrou um total de 35 referências para potenciais ensaios. Investigámos cuidadosamente os artigos full-text destas referências para decidir a sua inclusão ou exclusão nesta revisão.

Resultados:

Nove ensaios controlados aleatorizados cumpriram os requisitos da revisão e providenciaram dados utilizáveis. Os participantes nos respetivos estudos receberam ou mirtazapina mais tratamento-padrão ou o tratamento-padrão mais placebo.

Os resultados demonstraram que adicionar mirtazapina ao tratamento-padrão pode melhorar ligeiramente o estado mental global, mas não parece, especificamente, ter um efeito clinicamente importante nos sintomas negativos. Adicionar mirtazapina ao tratamento-padrão pode melhorar ligeiramente os sintomas de acatisia, um efeito colateral dos anti-psicóticos em que a pessoa se sente marcadamente inquieta e incapaz de permanecer parada. Nenhum efeito foi encontrado para o estado global ou para o abandono do estudo mais cedo do que o previamente estabelecido, e não se encontraram dados disponíveis para a qualidade de vida ou a admissão hospitalar. Adicionalmente, alguns resultados mostraram que a mirtazapina estava associada a um mais alto risco de ganho de peso e sedação. Todavia, estes resultados foram baseados em evidência que foi maioritariamente de muito baixa qualidade.

Conclusões:

A mirtazapina pode ter alguns efeitos positivos em pessoas com esquizofrenia. Contudo, estes resultados são baseados principalmente em evidência de muito-baixa qualidade e estamos incertos acerca destes efeitos. Conclusões firmes no que concerne à eficácia e segurança da mirtazapina enquanto tratamento adjuvante em pessoas com esquizofrenia não podem ser obtidas sem investigação de qualidade mais elevada.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Ricardo Manuel Delgado, Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.

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