Estimulantes de apetite para pessoas com fibrose cística

Pergunta da revisão

Fizemos buscas por evidências sobre os efeitos benéficos e adversos do uso de estimulantes de apetite em pessoas com anorexia relacionada à fibrose cística.

Introdução

A perda de apetite em pessoas com fibrose cística preocupa tanto as pessoas com a doença quanto suas famílias. Os estimulantes de apetite têm sido usados para ajudar pessoas com fibrose cística que têm pouco apetite a aumentar as quantidades de comida que ingerem, com o objetivo de ganhar peso e melhorar sua saúde geral. No entanto, há preocupações de que os estimulantes de apetite possam causar efeitos colaterais. Esta é uma atualização de uma revisão original previamente publicada.

Data da busca

Fizemos buscas por evidências pela última vez em 23 de maio de 2022.

Características dos estudos

Foram incluídos quatro estudos (70 participantes), dois dos quais foram realizados em crianças e dois em crianças e adultos. Os estudos analisaram os efeitos dos medicamentos (acetato de megestrol e cloridrato de ciproheptadina) em comparação com um placebo (um comprimido que não continha medicamento) para estimular o apetite. Os estudos duraram entre três e seis meses.

Resultados principais

Descobrimos que estes medicamentos podem melhorar o peso e o apetite em curto prazo (até seis meses). Nenhum efeito foi observado na função pulmonar. Todos os estimulantes de apetite podem ter efeitos adversos que podem piorar a fibrose cística, como efeitos no controle de açúcar no sangue, fadiga, humor, retenção de líquidos, fígado e falta de ar. Entretanto, infelizmente o relato insuficiente de efeitos colaterais impediu uma compreensão completa de seus efeitos. Os estudos incluídos eram muito pequenos para mostrar se o acetato de megestrol e o cloridrato de ciproheptadina podem melhorar o peso e o apetite com segurança.

Há evidências que sugerem que os estimulantes de apetite podem melhorar o peso e a falta de apetite em adultos e crianças com fibrose cística. Entretanto, acreditamos que mais pesquisas são necessárias para identificar formas apropriadas de medir o apetite e, em seguida, coletar dados de pacientes suficientes para descobrir se estimulantes do apetite podem melhorar o apetite com segurança na fibrose cística.

Certeza (qualidade/confiança) na evidência

Temos baixa certeza que os resultados tenham sido capazes de mostrar a verdadeira efetividade dos estimulantes de apetite. Chegamos a esta conclusão porque, apesar de acharmos que a maioria das pessoas que participaram dos estudos tinham a mesma chance de estar no grupo de estimulante de apetite ou placebo, e que ninguém poderia dizer a diferença entre o estimulante de apetite ou o placebo, achamos que podem ter existido alguns vieses devido ao pequeno número de participantes nos estudos e porque em dois estudos alguns participantes desistiram sem que fossem dadas razões claras. Outra possível fonte de viés é que três estudos não relataram todos os desfechos que os autores tinham planejado previamente.

Conclusão dos autores: 

Aos seis meses, os estimulantes do apetite melhoraram apenas dois dos desfechos desta revisão: peso (ou escore z do peso) e apetite relatado subjetivamente em adultos e crianças. O relato insuficiente dos efeitos colaterais impediu uma avaliação completa de seu impacto. Embora os dados possam sugerir o uso potencial de estimulantes do apetite no tratamento da anorexia em adultos e crianças com fibrose cística, isto é baseado em evidências de baixa certeza, provenientes de um pequeno número de estudos. Portanto, não podemos tirar conclusões firmes. Os médicos precisam estar cientes dos potenciais efeitos adversos dos estimulantes de apetite e monitorar ativamente qualquer indivíduo para os quais tenham prescrito estes medicamentos.

São necessárias futuras pesquisas para determinar medidas substitutas relevantes para o apetite e para definir o que constitui ganho de peso de qualidade. Os futuros estudos sobre estimulantes de apetite devem usar uma medida validada de sintomas, com o uso de um instrumento específico da doença para medir a falta de apetite. Esta revisão destaca a necessidade de estudos multicêntricos, com poder adequado e bem desenhados, para avaliar agentes para aumentar o apetite em pessoas com fibrose cística com segurança e estabelecer o modo ideal de tratamento.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A perda crônica de apetite na fibrose cística afeta tanto os indivíduos quanto as famílias. Os estimulantes de apetite têm sido usados para ajudar pacientes com fibrose cística com anorexia crônica a atingir o índice de massa corporal (IMC) e o estado nutricional ideais. No entanto, estes podem ter efeitos adversos no estado clínico. Esta é uma atualização de uma revisão original previamente publicada.

Objetivos: 

Buscar e avaliar sistematicamente as evidências sobre os efeitos benéficos dos estimulantes de apetite no manejo da anorexia relacionada à fibrose cística e sintetizar os relatos de quaisquer efeitos colaterais.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas no Cystic Fibrosis Trials Register do Cochrane Cystic Fibrosis and Genetic Disorders Group e em plataformas de registros de estudos on-line. Fizemos buscas manuais nas listas de referências e entramos em contato com especialistas locais e internacionais para identificar estudos relevantes.

Última busca do Cystic Fibrosis Trials Register: 23 de maio de 2022.

Última busca das plataformas de registros de estudos online: 10 de maio de 2022.

Critério de seleção: 

Ensaios clínicos controlados randomizados e quase randomizados sobre estimulantes de apetite em comparação com placebo, controle, nenhum tratamento ou diferentes estimulantes de apetite, ou em comparação com os mesmos estimulantes de apetite em diferentes doses ou regimes, que foram usados por pelo menos um mês em adultos e crianças com fibrose cística.

Coleta dos dados e análises: 

Os autores da revisão, trabalhando de forma independente, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Usamos a abordagem GRADE para avaliar a certeza nas evidências e realizamos metanálises.

Principais resultados: 

Incluímos quatro estudos (70 participantes) que compararam estimulantes de apetite (cloridrato de ciproheptadina e acetato de megestrol) com placebo. O número de adultos ou crianças em cada estudo nem sempre foi relatado. Avaliamos a certeza na evidência como baixa, devido ao pequeno número de participantes, à presença de relatos de desfecho incompletos ou seletivos e ao risco incerto de viés de seleção.

Em relação aos nossos desfechos primários, uma metanálise de dois estudos (42 participantes) mostrou que os estimulantes de apetite podem produzir um aumento maior no peso (kg) em três meses (diferença média (DM) 1,25 kg, intervalo de confiança (lC) de 95% 0,45 a 2,05) e um estudo (17 participantes) mostrou um resultado semelhante em seis meses (DM 3,80 kg, IC 95% 1,27 a 6,33) (baixa certeza em ambas as evidências). Os resultados também mostraram que o escore z de peso pode aumentar com estimulantes de apetite em comparação com placebo em três meses (DM 0,61, IC 95% 0,29 a 0,93; 3 estudos; 40 participantes; P <0,001) e em seis meses (DM 0,74, IC 95% 0,26 a 1,22; 1 estudo; 17 participantes). Não encontramos evidência de diferença entre os efeitos do cloridrato de ciproheptadina em comparação com o do acetato de megestrol para nenhum dos desfechos.

Apenas um estudo (25 participantes) relatou dados analisáveis para composição corporal (IMC), com resultados que favoreceram o cloridrato de ciproheptadina em comparação com o placebo; um outro estudo (16 participantes) concordou narrativamente com este resultado.

Todos os quatro estudos relataram dados a respeito da função pulmonar em durações que variam entre dois e nove meses. Considerando dados analisáveis, dois estudos (42 participantes) descobriram que os estimulantes de apetite podem fazer pouca ou nenhuma diferença no volume expiratório forçado em um segundo (VEF1) % do previsto em três meses, e um estudo (17 participantes) encontrou resultados semelhantes em seis meses . Dois outros estudos com duração de três meses concordaram narrativamente com estes resultados.

Informações limitadas foram relatadas sobre os desfechos secundários. Dois estudos (23 participantes) relataram resultados que mostraram que os estimulantes de apetite podem aumentar o apetite em comparação com o placebo em três meses (odds ratio 45,25, IC 95% 3,57 a 573,33; baixa certeza na evidência).

Apenas um estudo relatou dados sobre qualidade de vida. Este estudo descobriu que a ciproheptadina reduziu a fadiga em dois participantes, em comparação com em nenhum participante que recebeu placebo. Um estudo (25 participantes) não encontrou diferença na ingestão calórica entre pessoas que usaram estimulante de apetite ou placebo em três meses. O relato insuficiente de efeitos adversos impediu uma avaliação completa de seu impacto. Dois estudos (33 participantes) relataram que não houve diferença na necessidade de antibióticos adicionais entre os particpantes que usaram estimulantes de apetite e os que usaram placebo em três meses.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina P. Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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