Tratamentos psicológicos para pessoas com perturbação da personalidade antissocial

Contexto

As pessoas com perturbação da personalidade antissocial (AsPD) podem comportar-se de uma forma prejudicial para si próprias ou para os outros e que é contra à lei. Podem ser desonestos e agir de forma agressiva sem pensar. Muitos também abusam de drogas e álcool. Certos tipos de tratamento psicológico, como as terapias da fala ou do pensamento, podem ajudar as pessoas com AsPD. Estes tratamentos têm como objetivo alterar o comportamento da pessoa, mudar o seu pensamento ou ajudá-la a gerir os seus sentimentos de raiva, a automutilação, o abuso de drogas e álcool ou o seu comportamento negativo.

Esta é uma atualização de uma revisão publicada em 2010.

Questão da revisão

Quais são os efeitos das terapias da fala ou do pensamento para adultos (18 anos ou mais anos) com AsPD, em comparação com o tratamento habitual (TAU, do inglês treatment-as-usual), lista de espera ou nenhum tratamento?

Caraterísticas dos estudos

Procurámos estudos relevantes publicados até 5 de setembro de 2019. Encontrámos 19 estudos relevantes para 18 intervenções psicológicas diferentes. Foi apresentada informação de 10 estudos que envolveram 605 adultos (18 ou mais anos) com um diagnóstico de AsPD, a viver em comunidade, no hospital ou na prisão. Oito intervenções relataram os principais resultados da revisão (agressão, reincidência, funcionamento geral/social e eventos adversos), mas poucas tinham dados sobre os participantes com AsPD. Os estudos compararam uma intervenção psicológica com a TAU, que é por vezes referida como "manutenção padrão" (SM).

A maioria dos estudos foi realizada no Reino Unido ou na América do Norte e foi financiada por bolsas de grandes conselhos de investigação. Foram incluídos mais participantes do sexo masculino (75%) do que do sexo feminino (25%), com uma idade média de 35,5 anos. A duração dos estudos variou entre 4 semanas e 156 semanas. A maioria dos estudos (10 dos 19) utilizou métodos com falhas, o que significa que não podemos ter a certeza dos seus resultados e, por conseguinte, não podemos tirar conclusões definitivas. 

Resultados principais

De seguida, apresentamos os resultados de cada comparação, sempre que existiam dados disponíveis para um resultado primário.

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) + TAU versus TAU. Não houve diferença entre TCC + TAU e TAU para agressão física ou funcionamento social, mas a evidência é incerta.

Aconselhamento sobre estilo de vida impulsivo (ILC) + TAU versus TAU. Não houve diferença entre ILC + TAU e TAU para a agressão ou os eventos adversos de morte ou encarceramento, mas a evidência é muito incerta.

Gestão de contingências (CM) + SM versus SM. CM + SM, em comparação com SM, pode melhorar ligeiramente o funcionamento social.

Programa "Condução em estado de embriaguez" (DWI) + prisão versus encarceramento. Não se registou qualquer diferença entre DWI + encarceramento e encarceramento nas taxas de reincidência (nova detenção), mas as provas foram muito incertas.

Terapia do esquema (ST) versus TAU. As provas são muito incertas quanto ao efeito da TS em comparação com a TAU na reincidência. Existem algumas provas de que, em comparação com a TAU, a TS pode melhorar um aspeto do funcionamento social: o tempo até à saída sem escolta. Não houve diferença entre ST e TAU para eventos adversos gerais classificados globalmente como resultados negativos, mas a evidência é muito incerta.

Terapia de resolução de problemas sociais (SPS) + psicoeducação (PE) versus TAU . Não houve diferença entre SPS + PE e TAU para o nível de funcionamento social dos participantes, mas a evidência é muito incerta.

Terapia comportamental dialética (DBT) versus TAU. Foi sugerido que, em comparação com o TAU, a DBT pode reduzir o número de dias de auto-mutilação, mas as provas são muito incertas.

Gestão do risco psicossocial (programa PSRM (Psychosocial Risk Management) "Resettle") versus TAU . Não se registou qualquer diferença entre a PSRM e a TAU no que se refere ao número de delitos comunicados um ano após a libertação da prisão ou ao risco de morte durante o estudo, embora a evidência seja muito incerta.

Conclusões

A revisão demonstra que não existem provas suficientes de boa qualidade para recomendar ou rejeitar qualquer tratamento psicológico para pessoas com um diagnóstico de AsPD.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Rosário Ribeiro da Cunha, Universidade CEU San Pablo. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

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