Vacinas para prevenir gripe sazonal e suas complicações nos idosos

Objetivo da revisão

O foco desta revisão Cochrane, publicada originalmente em 2006, foi resumir os achados dos estudos que avaliaram os efeitos de vacinar idosos (pessoas com 65 anos ou mais) durante a estação de gripe com a vacina contra o vírus da influenza. Usamos os dados de estudos randomizados que compararam vacinar os participantes com a vacina de gripe versus uma falsa vacina ou não dar nada a eles. As vacinas de gripe testadas nos estudos continham vírus inativados, ou seja, os vírus haviam sido tratados com uma substância química que provoca sua morte. A vacina era administrada através de injeções. Nosso interesse era avaliar os efeitos das vacinas na redução do número de idosos com gripe confirmada, no número de idosos que tiveram sintomas sugestivos de gripe, (como dor de cabeça, febre, tosse, e dor muscular)- isso é chamado de doença semelhante à gripe, ou ILI- e no número de idosos que tiverem eventos adversos devido à vacinação. Também procuramos verificar os impactos que a gripe ou a ILI provocaram, como internações, complicações e morte. Vamos atualizar esta revisão futuramente somente quando novos estudos ou vacinas forem disponíveis.

Por motivos históricos, mantivemos os dados observacionais de 67 estudos incluídos em versões prévias desta revisão. Porém, não atualizamos esses dados porque não influenciaram as conclusões da revisão.

O que foi estudado nesta revisão?

Existem mais de 200 vírus que causam a ILI e podem provocar os mesmos sintomas (febre, dor de cabeça, dores, tosse, e coriza). Sem testes laboratoriais, os médicos não conseguem saber qual dos vírus é o responsável. Geralmente os vírus sobrevivem por alguns dias e raramente conduzem a doenças mais graves. Na melhor das hipóteses, as vacinas são efetivas somente contra os vírus da influenza A e B, que representam cerca de 5% de todos os vírus circulantes. A vacina inativada é preparada tratando os vírus da influenza com um agente químico específico que ´mata´ os vírus. As preparações finais podem conter os vírus inteiros (vacina inteiras) ou partes ativas deles (vacinas parciais ou de subunidades). Geralmente, essas vacinas são administradas através de uma injeção. As cepas virais contidas na vacina normalmente são as cepas que se espera que circulem nas estações epidêmicas seguintes (duas cepas A e uma ou duas cepas B). Esse tipo de vacinação (vacina sazonal) segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde. A vacina pandêmica contém apenas a cepa do vírus que é responsável pela pandemia (por exemplo a cepa A H1N1 na pandemia de 2009-2010).

Mensagens-chave

As vacinas inativadas podem reduzir a proporção de idosos que têm gripe e ILI. Há poucos dados a respeito de mortes, e não encontramos nenhum dado a respeito de internações devido à complicações. Porém, a variação nos resultados dos estudos significa que nós não podemos ter certeza a respeito de quão grande é a diferença que estas vacinas trarão em diferentes estações.

Resultados principais

Encontramos oito ensaios clínicos randomizados (envolvendo um total de mais de 5000 pessoas). Quatro desses estudos avaliaram possíveis danos associados à vacinação. Os estudos foram realizados com pessoas que viviam em suas próprias casas (na comunidade) e em casas de repouso para idosos (asilos) na Europa e nos EUA entre 1965 e 2000.

Os idosos que receberem a vacina da gripe tiveram uma redução no risco de ter gripe durante uma única estação, de 6% para 2,4%. Isso significa que, para evitar um caso de gripe, seria necessário vacinar 30 pessoas com a vacina de gripe com vírus inativado. Vacinar os idosos também reduziu o risco de ter ILI, de 6% para 3,5%. Isso significa que seria necessário vacinar 42 pessoas para evitar um caso de ILI. Houve poucos dados sobre pneumonia e mortalidade. Os dados foram insuficientes para se ter certeza sobre o efeito das vacinas na mortalidade. Nenhum caso de pneumonia ocorreu no estudo que avaliou este desfecho. Não houve nenhuma informação sobre internação. Não temos informação suficiente para avaliar os eventos adversos febre e náusea nesta população.

O impacto de vacinar idosos contra gripe é modesto, independente do desenho do estudo, dos desfechos avaliados, da população ou do local onde os participantes residem.

Esta revisão está atualizada até quando?

As evidências foram atualizadas até 31 de dezembro de 2016.

Conclusão dos autores: 

Vacinar idosos pode reduzir seu risco de ter gripe (de 6% para 2,4%), e provavelmente reduz seu risco de ILI (de 6% para 3,5%), durante uma única estação, em comparação com aqueles que não receberam a vacinação. Nós não estamos certos a respeito de quão grande é a diferença que estas vacinas trazem em estações diferentes. Houve poucos casos de morte e não há dados a respeito de internação. Não houve nenhum caso de pneumonia no estudo que avaliou esse desfecho. Não temos informação suficiente para avaliar os eventos adversos febre e náusea nesta população.

A qualidade da evidência de que vacinar reduz os riscos de gripe e ILI foi rebaixada devido a problemas de viés no desenho ou na condução dos estudos. A aplicabilidade desses resultados é limitada devido à falta de detalhes quanto aos métodos usados para confirmar a diagnóstico de gripe. A evidência disponível relativa a complicações é de baixa qualidade, insuficiente, ou antiga e não fornece orientações claras para as políticas de saúde pública quanto à segurança, eficácia, ou efetividade das vacinas de gripe em pessoas com 65 anos ou mais. As sociedades científicas deveriam investir em pesquisas envolvendo novas gerações de vacinas de gripe para os idosos.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

As consequências da influenza nos idosos (pessoas com 65 anos ou mais) são complicações, internações, e morte. O principal objetivo da vacinação da influenza no idoso é reduzir o risco de morte entre as pessoas mais vulneráveis. Esta é uma atualização da revisão publicada em 2010. Faremos novas atualizações desta revisão apenas quando surgirem novos ensaios clínicos ou vacinas. Por motivos históricos, mantivemos os dados de estudos observacionais incluídos em versões prévias desta revisão. Porém, não atualizamos esses dados porque não influenciaram as conclusões.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos (eficácia, efetividade, e segurança) das vacinas contra gripe nos idosos.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (the Cochrane Library 2016, Issue 11) que inclui o Cochrane Acute Respiratory Infections Group's Specialised Register; MEDLINE (de 1966 até 31 de dezembro 2016); Embase (de 1974 até 31 de dezembro 2016); Web of Science (de 1974 até 31 dezembro 2016); CINAHL (de 1981 até 31 de zembro 2016); LILACS (de 1982 até 31 de dezembro 2016); WHO International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP; em 1 de julho 2017);e no ClinicalTrials.gov (em 1 de julho 2017).

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) e quase randomizados que avaliaram a eficácia das vacinas contra a gripe (casos confirmados por laboratório) ou a efetividade das vacinas contra doenças semelhantes à gripe (ILI) ou a segurança das vacinas. Incluímos estudos que compararam qualquer tipo de vacina contra gripe dada independentemente, em qualquer dose, preparação, ou esquema temporal, versus placebo ou nenhuma intervenção. As versões anteriores desta revisão incluíram 67 estudos observacionais (coortes e casos-controles). Não atualizamos as buscas para encontrar esses tipos de desenhos de estudos.

Coleta dos dados e análises: 

Os autores da revisão, trabalhando de forma independente, avaliaram o risco de viés e extraíram os dados dos estudos. Usamos o GRADE para avaliar a qualidade da evidência para nossos desfechos primários: gripe, ILI, complicações (internações, pneumonia), e eventos adversos. Para ilustrar o efeito em termos absolutos, apresentamos os riscos do grupo controle de forma agregada. Usamos esses riscos para calcular o número necessário para vacinar para prevenir um evento, para os desfechos gripe e ILI.

Principais resultados: 

Encontramos oito ECRs (envolvendo mais de 5000 participantes) sendo que quatro estudos avaliaram eventos adversos. Os estudos foram realizados com pessoas que viviam em suas próprias casas (na comunidade) e em casas de repouso para idosos (asilos) na Europa e nos EUA entre 1965 e 2000. Devido ao risco de viés dos estudos, rebaixamos a qualidade da evidência para gripe e ILI, mas não para outros desfechos.

Vacinar idosos com a vacina da gripe, comparado com usar placebo, pode reduzir seu risco de ter gripe em uma única estação de 6% para 2,4%, risco relativo (RR) 0,42, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,27 a 0,66, evidência de baixa qualidade. Rebaixamos a qualidade da evidência devido à incertezas quanto ao diagnóstico da gripe. Vacinar idosos com a vacina da gripe, comparado com não vacinar, pode reduzir seu risco de ter ILI em uma única estação de gripe de 3,5% para 6%, RR 0,59, IC 95% 0,47 a 0,73; evidência de qualidade moderada. Estes resultados indicam que 30 pessoas precisariam ser vacinadas para prevenir um caso de gripe, e 42 precisariam ser vacinadas para prevenir um caso de ILI.

O estudo com dados de mortalidade e pneumonia não tinha poder estatístico suficiente para detectar diferenças nesses desfechos. Ocorreram 3 mortes entre os 522 participantes que foram vacinados e 1 morte entre os 177 participantes que receberam placebo. O RR para mortalidade foi 1,02, IC 95% 0,11 a 9,72, evidência de qualidade muito baixa. Nenhum caso de pneumonia ocorreu no estudo que avaliou este desfecho (evidência de qualidade muito baixa). Nenhum dado sobre internação foi reportado. Os intervalos de confiança sobre o efeito das vacinas em relação à febre e náusea foram grandes. Não temos informação suficiente sobre estes eventos em idosos: febre 1,6% no grupo placebo versus 2.5% no grupo vacinado (RR 1,57, IC 95% 0,92 a 2,71; evidência de qualidade moderada); náusea 2,4% no grupo placebo versus 4,2% no grupo vacinado (RR 1,75, IC 95% 0,74 a 4,12; evidência de baixa qualidade).

Notas de tradução: 

CD004876.pub4. Tradução do Cochrane Brazil (Élide Sbardellotto Mariano da Costa) – contato:tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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