Hormônio de crescimento para fertilização in vitro (FIV)

Pergunta da revisão

Os pesquisadores da Cochrane revisaram as evidências sobre a administração de hormônio de crescimento como um tratamento adicional às mulheres submetidas à FIV, em comparação com a não administração deste tratamento para essas mulheres.

Introdução

Durante um ciclo de FIV, as mulheres precisam receber gonadotrofina para estimular os ovários a produzir óvulos. Teoricamente, o uso do hormônio de crescimento como tratamento adicional pode melhorar a resposta com gonadotrofina. Avaliamos os benefícios e riscos do uso do hormônio de crescimento em comparação com o tratamento sem hormônio de crescimento em mulheres submetidas à FIV. As "más respondedoras" no tratamento de FIV são geralmente mulheres mais velhas com baixa reserva ovariana ou mulheres que tiveram tratamento anterior de FIV com menos de cinco óvulos coletados apesar de uma dose máxima de medicação de estimulação. Mulheres mais jovens com boa reserva ovariana e boa resposta ovariana (> 5 óvulos coletados) após a estimulação ovariana são consideradas respondentes normais.

Características dos estudos

Encontramos 16 ensaios controlados randomizados com 1352 mulheres. Este tipo de estudo atribui as pessoas aleatoriamente em dois grupos. Neste caso, um grupo recebeu FIV mais hormônio de crescimento e o outro grupo recebeu apenas FIV. As evidências são atuais até 11 de novembro de 2020.

Resultados principais

Em mulheres que respondem normal, com uso de GH adjuvante, o efeito sobre a taxa de nascimento vivo é muito incerto; se a chance de nascimento vivo sem hormônio de crescimento for assumida como 15%, a chance de nascimento vivo com hormônio de crescimento seria entre 6% e 43%. Não havia evidências suficientes para se chegar a uma conclusão sobre as taxas clínicas de gravidez, o número de mulheres com pelo menos um óvulo recuperado, a transferência de embriões alcançada e o número de óvulos recuperados em respondedoras normais. A evidência também é muito incerta sobre o efeito do hormônio de crescimento nas unidades médias de gonadotropina usadas em respondedoras normais.

A evidência é muito incerta sobre o efeito do hormônio de crescimento na taxa de nascidos vivos, com base em oito estudos. Se a chance de um nascido vivo sem hormônio de crescimento for considerada de 11%, a chance de um nascido vivo com hormônio de crescimento seria entre 13% e 25%. O hormônio do crescimento resulta em um leve aumento nas taxas de gravidez em pessoas que respondem mal, com base em 11 estudos com evidências de baixa certeza. Os resultados sugerem, se a taxa de gravidez sem hormônio de crescimento for suposta ser de 15%, com o uso de hormônio de crescimento, a taxa de gravidez em mulheres que respondem mal seria entre 19% e 31%. As evidências sugerem que o hormônio de crescimento resulta em pouca ou nenhuma diferença no número de mulheres com pelo menos um oócito recuperado, com base em duas experiências com evidências de baixa certeza. Se a chance de recuperar pelo menos 1 óvulo em mulheres que responderam mal foi de 81%, com o hormônio de crescimento a chance está entre 87% e 99%. Há um leve aumento no número médio de oócitos recuperados com o uso do hormônio de crescimento para as más respondedoras, com base em 12 estudos com evidências de baixa certeza. A evidência é muito incerta sobre o efeito do hormônio de crescimento na transferência embrionária alcançada, com base em quatro estudos. Se a chance de conseguir a transferência embrionária for assumida como sendo de 77%, a chance com o uso do hormônio de crescimento estará entre 78% e 94%. O uso do hormônio de crescimento resulta na redução das unidades médias de gonadotropinas usadas para estimulação em mulheres que respondem mal, com base em oito estudos com evidências de baixa certeza.

A alta heterogeneidade nas análises do número médio de oócitos recuperados e as unidades médias de GH utilizadas sugerem efeitos bastante diferentes, inclusive nos protocolos de ensaio (populações, dose de GH e cronograma), portanto, estes resultados devem ser interpretados com cautela.

Temos dúvidas quanto ao efeito do hormônio de crescimento sobre os eventos adversos em pessoas normais ou que respondem mal, pois 6 dos 16 ensaios incluídos não relataram este resultado.

Qualidade da evidência

As evidências foram de baixa a muito baixa certeza; as principais limitações foram relatos pobres dos métodos dos estudos, dados imprecisos e variabilidade entre os estudos.

Conclusão dos autores: 

O uso de GH adjuvante nos protocolos de tratamento de FIV tem efeito incerto sobre as taxas de nascidos vivo e o número médio de oócitos recuperados em respondedoras normais. Entretanto, aumenta ligeiramente o número de oócitos recuperados e as taxas de gravidez em más respondedoras, enquanto há um efeito incerto nas taxas de nascidos vivos neste grupo. Os resultados, no entanto, precisam ser interpretados com cautela, pois os ensaios incluídos foram pequenos e poucos em número, com viés e imprecisão significativos. Além disso, a dose e o regime de GH usado em ensaios foi variável. Portanto, são necessárias mais pesquisas para definir plenamente o papel do GH como terapia adjuvante na FIV.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Em um esforço para melhorar os desfechos dos ciclos de fertilização in vitro (FIV), o uso do hormônio de crescimento (GH) tem sido considerado como tratamento adjuvante na estimulação ovariana. Melhorar os desfechos da FIV é especialmente importante para as mulheres com infertilidade que são consideradas "más respondedoras". Comparamos os desfechos da FIV com o GH adjuvante versus nenhum tratamento adjuvante no uso rotineiro e, especificamente, em mulheres que respondem mal.

Objetivos: 

Avaliar a eficácia e a segurança do hormônio de crescimento como coadjuvante da FIV em comparação com a FIV padrão para mulheres com infertilidade

Métodos de busca: 

Pesquisamos os seguintes bancos de dados (até novembro de 2020): Cochrane Gynaecology and Fertility (CGF) Group specialised register, CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL, banco de dados Epistemonikos e registros de ensaios, juntamente com a verificação de referência e contato com autores de estudos e especialistas da área para identificar ensaios adicionais.

Critério de seleção: 

Incluímos todos os ensaios controlados randomizados (ECRs) de tratamento adjuvante de GH na FIV, em comparação com nenhum tratamento adjuvante para mulheres com infertilidade. Excluímos ensaios em que tratamentos adjuvantes adicionais foram utilizados com GH. Também excluímos ensaios comparando diferentes protocolos de FIV.

Coleta dos dados e análises: 

Seguimos os métodos padrões recomendados pela Cochrane para realizar revisões sistemáticas. Dois autores de revisão realizaram de forma independente a avaliação do risco de viés e a extração de dados relevantes. O desfecho primário da revisão foi a taxa de nascidos vivos. Os desfechos secundários foram taxa de gravidez clínica, oócitos recuperados, transferência de embriões, unidades de gonadotropina utilizadas e eventos adversos, ou seja, gravidez ectópica, gravidez múltipla, síndrome de hiperestimulação ovariana (SHEO), anomalias congênitas e edema.

Principais resultados: 

Incluímos 16 ECRs (1352 mulheres). Dois ECRs (80 mulheres) estudaram GH em uso rotineiro, e 14 ECRs (1272 mulheres) estudaram GH em más respondedoras. As evidências eram de baixa a muito baixa certeza, sendo as principais limitações o risco de invés, a imprecisão e a heterogeneidade.

Hormônio de crescimento adjuvante em comparação com nenhum adjuvante: uso rotineiro para fertilização in vitro (FIV)

A evidência é muito incerta sobre o efeito do GH na taxa de nascido vivo por mulher randomizada para uso rotineiro em FIV (odds ratio (OR) 1,32, intervalo de confiança de 95% (IC) 0,40 a 4,43; I2 = 0%; 2 testes, 80 participantes; muito baixa certeza da evidência). Se a chance de nascimento vivo sem GH adjuvante for assumida como sendo de 15%, a chance de nascimento vivo com GH estaria entre 6% e 43%.

Não havia evidências suficientes para chegar a uma conclusão sobre taxas clínicas de gravidez por mulher randomizada, número de mulheres com pelo menos um oócito recuperado por mulher randomizada e transferência de embriões alcançada por mulher randomizada; os dados relatados eram inadequados para análise.

A evidência é muito incerta sobre o efeito do GH no número médio de oócitos recuperados em respondedoras normais (diferença média (DM) -0,02, 95% IC -0,79 a 0,74; I2 = 0%; 2 ensaios, 80 participantes;muito baixa certeza da evidência).

A evidência é muito incerta sobre o efeito do GH nas unidades médias de gonadotropina utilizadas em respondedoras normais (DM 13,57, 95% IC -112,88 a 140,01; I2 = 0%; 2 ensaios, 80 participantes; muito baixa certeza da evidência).

Temos dúvidas sobre o efeito do GH em eventos adversos em respondedoras normais.

Hormônio de crescimento adjuvante em comparação com nenhum adjuvante: uso em más respondedoras para fertilização in vitro (FIV)

A evidência é muito incerta sobre o efeito do GH sobre a taxa de nascidos vivos por mulher aleatorizada (OR 1,77, 95% IC 1,17 a 2,70; I2 = 0%; 8 tentativas, 737 participantes; muito baixa certeza da evidência). Se a chance de nascidos vivo sem GH adjuvante for assumida como sendo de 11%, a chance de nascimento vivo com GH estaria entre 13% e 25%. O GH adjuvante resulta em um leve aumento nas taxas de gravidez em pessoas que respondem mal (OR 1,85, 95% IC 1,35 a 2,53; I2 = 15%; 11 testes, 1033 participantes;baixa certeza da evidência). Os resultados sugerem que, se a taxa de gravidez sem GH adjuvante for assumida como 15%, com GH a taxa de gravidez em pessoas que respondem mal seria entre 19% e 31%. As evidências sugerem que o GH resulta em pouca ou nenhuma diferença no número de mulheres com pelo menos um oócito recuperado (OR 5,67, 95% IC 1,54 a 20,83; I2 = 0%; 2 ensaios, 148 participantes; baixa certeza da evidência). Se a chance de recuperar pelo menos um oócito em pessoas que responderam mal foi de 81%, com GH a chance está entre 87% e 99%. Há um pequeno aumento no número médio de oócitos recuperados com o uso do GH para as más respondedoras (DM 1,40, 95% IC 1,16 a 1,64; I2 = 87%; 12 ensaios, 1153 participantes; baixa certeza da evidência). A evidência é muito incerta sobre o efeito do GH na transferência embrionária alcançada (OR 2,32, 95% IC 1,08 a 4,96; I2 = 25%; 4 ensaios, 214 participantes;muito baixa certeza da evidência). Se a chance de conseguir a transferência de embriões for assumida como 77%, a chance com GH será de 78% a 94%. O uso de GH resulta na redução das unidades médias de gonadotropinas utilizadas para estimulação em pessoas com baixa resposta (DM -1088,19, 95% IC -1203,20 a -973,18; I2 = 91%; 8 ensaios, 685 participantes; baixa certeza da evidência).

A alta heterogeneidade nas análises do número médio de oócitos recuperados e das unidades de GH utilizadas sugere efeitos bastante diferentes de acordo com as diferenças, inclusive nos protocolos de ensaio (populações, dose de GH e cronograma), portanto, estes resultados devem ser interpretados com cautela.

Temos dúvidas sobre o efeito do GH em eventos adversos em más respondedoras, pois seis dos 14 ensaios incluídos não relataram este resultado.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil ( Aline Rocha e Victória Sálua Cavaleti). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Tools
Information