Quais são os benefícios e malefícios do ibuprofeno no controle da dor após uma operação em crianças?

Principais mensagens

• O ibuprofeno provavelmente reduz a intensidade da dor logo após uma operação em até duas horas em comparação com um placebo (medicamento de mentira) e em comparação com o paracetamol. A evidência quando comparada a outros medicamentos e considerando um prazo mais extenso, revela-se incerta ou insuficiente.

• No geral, não temos certeza sobre os efeitos indesejados do ibuprofeno, especialmente os efeitos indesejados graves, uma vez que os estudos da revisão raramente os mediram.

• Estudos futuros deverão examinar o ibuprofeno em comparação com medicamentos habitualmente utilizados e medir os benefícios e os efeitos indesejados tanto para a utilização a curto como a longo prazo.

Por que o controle da dor é importante?

É comum que as crianças sintam dor após uma operação (dor pós-operatória). A dor causa sofrimento e agitação e pode atrasar a recuperação. Uma forma de controlar a dor em crianças é usar diferentes medicamentos, por exemplo, o ibuprofeno. O ibuprofeno é um tipo de medicamento denominado “anti-inflamatório não esteroidal” (AINE) que pode reduzir a inflamação e a dor.

O que queríamos descobrir?

Queríamos descobrir se o ibuprofeno é um tratamento eficaz para a dor e se causa efeitos indesejados em comparação com outros tratamentos para a dor. E também, a forma mais eficaz de administrar ibuprofeno às crianças.

O que nós fizemos?

Procuramos estudos que comparassem o ibuprofeno a outras opções de tratamento para a dor pós-operatória, bem como estudos que analisassem diferentes formas de administrar ibuprofeno a crianças. Resumimos os resultados e avaliamos nossa confiança nas evidências.

O que nós encontramos?

Encontramos 43 estudos com 4.265 crianças com dor pós-operatória. Usamos dados de 3.935 crianças nesta revisão. O maior estudo incluiu 741 crianças e o menor, 23 crianças. Os estudos foram realizados em muitos países ao redor do mundo; mais comumente nos EUA (12 estudos). A idade das crianças variou de 2,2 meses a 17 anos. Estudos utilizaram o ibuprofeno para controlar a dor pós-operatória em 10 tipos diferentes de cirurgia, destacando-se principalmente os procedimentos odontológicos, abordados em 21 estudos; seguidos por cirurgias otorrinolaringológicas, que incluem ouvido, nariz e garganta, relatadas em 11 estudos.

Resultados principais

Em comparação com o placebo (um medicamento de mentira), o ibuprofeno provavelmente reduz a intensidade da dor em menos de duas horas após a operação e pode reduzir a intensidade da dor até 24 horas. Não temos certeza sobre as diferenças para quaisquer efeitos indesejados. Nenhum estudo relatou efeitos indesejáveis ​​graves, como incapacidade duradoura ou hospitalização.

Comparado ao paracetamol , o ibuprofeno provavelmente reduz a intensidade da dor em menos de duas horas após a operação e provavelmente reduz a intensidade da dor em até 24 horas. Não temos certeza sobre as diferenças para quaisquer efeitos indesejados. Nenhum estudo relatou efeitos indesejáveis ​​graves, como incapacidade duradoura ou hospitalização. Comparado ao paracetamol, o ibuprofeno provavelmente faz pouca diferença nas chances de sangramento.

Comparado à morfina , o ibuprofeno provavelmente leva a uma redução de quaisquer efeitos indesejados relatados.

Comparado ao cetorolaco , o ibuprofeno pode levar a uma redução dos efeitos indesejados gerais.

Nenhum estudo relatou intensidade de dor ou efeitos indesejados graves, como incapacidade duradoura ou hospitalização por morfina ou cetorolaco.

Não encontramos estudos que comparassem diferentes vias de administração do ibuprofeno.

Quais são as limitações das evidências?

Não temos certeza sobre a evidência geral do uso de ibuprofeno na dor pós-operatória em crianças, principalmente porque não houve estudos grandes o suficiente para ter certeza sobre quaisquer diferenças no ibuprofeno quando comparado a outras alternativas. Além disso, apenas alguns estudos forneceram dados sobre benefícios importantes e efeitos indesejados em crianças que sofrem de dor após a cirurgia, especialmente a longo prazo.

Até que ponto estas evidências estão atualizadas?

A evidência está atualizada até agosto de 2023.

Conclusão dos autores: 

Apesar de identificar 43 ECRs, permanecemos incertos sobre o efeito do ibuprofeno em comparação ao placebo ou comparadores ativos para alguns desfechos críticos e nas comparações entre diferentes doses, horários e vias de administração de ibuprofeno. Isto se deve, em grande parte, à ineficácia na comunicação de desfechos importantes, como eventos adversos graves, bem como à inadequada condução ou relato dos estudos, o que diminuiu nossa confiança nos resultados, juntamente com a presença de estudos pequenos e com poder estatístico insuficiente.

Comparado ao placebo, o ibuprofeno provavelmente resulta na redução da dor em menos de duas horas após a intervenção; no entanto, a eficácia pode ser menor entre duas e 24 horas. Comparado ao paracetamol, o ibuprofeno provavelmente resulta na redução da dor até 24 horas após a intervenção. Não pudemos explorar se havia um efeito diferente em diferentes tipos de cirurgias ou procedimentos.

O ibuprofeno provavelmente resulta em uma redução nos eventos adversos em comparação com a morfina e em pouca ou nenhuma diferença no sangramento quando comparado ao paracetamol. Continuamos em grande parte incertos sobre a segurança do ibuprofeno em comparação com outros medicamentos.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

As crianças muitas vezes necessitam de manejo da dor após a cirurgia para evitar o sofrimento. O manejo eficaz da dor tem impacto no tempo de recuperação e na qualidade de vida. O ibuprofeno, um medicamento anti-inflamatório não esteroidal (AINE) frequentemente usado em crianças, é usado para tratar dor e inflamação no período pós-operatório.

Objetivos: 

1) Avaliar a eficácia e segurança do ibuprofeno (qualquer dose) no tratamento da dor aguda pós-operatória em crianças em comparação com placebo ou outros comparadores ativos. 2) Comparar o ibuprofeno administrado em diferentes doses, vias (por exemplo, oral, intravenosa, etc.) ou estratégias (por exemplo, conforme necessário versus conforme programado).

Métodos de busca: 

Usamos métodos de pesquisa padrão da Cochrane. Pesquisamos nas bases de dados CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL e registros de ensaios clínicos em agosto de 2023.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECR) com crianças de até 17anos de idade, tratadas por dor aguda pós-operatória ou pós-procedimento, que compararam o ibuprofeno a placebo ou a qualquer comparador ativo. Incluímos ECRs que compararam diferentes vias de administração, doses de ibuprofeno e horários.

Coleta dos dados e análises: 

Aderimos aos métodos padrão da Cochrane para coleta e análise de dados. Nossos desfechos primários foram alívio da dor relatado pela criança, intensidade da dor relatada pela criança, eventos adversos e eventos adversos graves. Apresentamos os resultados utilizando risco relativo (RR) e diferenças médias padronizadas (DMP), com os intervalos de confiança (IC) associados. Usamos o GRADE para avaliar a certeza das evidências.

Principais resultados: 

Incluímos 43 ECRs que inscreveram 4.265 crianças (3.935 crianças incluídas nesta revisão). Classificamos o risco geral de viés no nível do estudo como alto ou pouco claro para 37 estudos que tiveram um ou vários julgamentos pouco claros ou de alto risco de viés em todos os domínios. Julgamos seis estudos como tendo baixo risco de viés em todos os domínios.

Ibuprofeno versus placebo (35 ECRs)

Nenhum estudo descreveu alívio da dor relatado pela própria criança ou por terceiros, nem registrou a ocorrência de eventos adversos graves. O ibuprofeno provavelmente reduz a intensidade da dor relatada pela criança em menos de duas horas após a intervenção cirúrgica em comparação ao placebo (DMP −1,12, IC 95% −1,39 a −0,86; 3 estudos, 259 crianças; evidência de qualidade moderada). O ibuprofeno pode reduzir a intensidade da dor relatada pela criança, de duas horas a menos de 24 horas após a intervenção (DMP −1,01, IC 95% −1,24 a −0,78; 5 estudos, 345 crianças; baixa certeza da evidência). O ibuprofeno pode resultar em pouca ou nenhuma diferença nos eventos adversos em comparação ao placebo (RR 0,79, IC 95% 0,51 a 1,23; 5 estudos, 384 crianças; baixa certeza da evidência).

Ibuprofeno versus paracetamol (21 ECRs)

Nenhum estudo descreveu alívio da dor relatado pela própria criança ou por terceiros, nem registrou a ocorrência de eventos adversos graves. O ibuprofeno provavelmente reduz a intensidade da dor relatada pela criança em menos de duas horas após a intervenção em comparação com o paracetamol (DMP −0,42, IC 95% −0,82 a −0,02; 2 estudos, 100 crianças; moderada certeza da evidência). O ibuprofeno pode reduzir ligeiramente a intensidade da dor relatada pela criança de duas a 24 horas após a intervenção (DMP −0,21, IC 95% −0,40 a −0,02; 6 estudos, 422 crianças; baixa certeza da evidência). O ibuprofeno pode resultar em pouca ou nenhuma diferença nos eventos adversos (0 eventos em cada grupo; 1 estudo, 44 ​​crianças; baixa certeza da evidência).

Ibuprofeno versus morfina (1 ECR)

Nenhum estudo relatou alívio da dor ou intensidade da dor relatada pela criança ou por terceiros, ou eventos adversos graves. O ibuprofeno provavelmente resulta em uma redução de eventos adversos em comparação com a morfina (RR 0,58, IC 95% 0,40 a 0,83; diferença de risco (DR) -0,25, IC 95% -0,40 a -0,09; número necessário para tratar para um resultado benéfico adicional (NNTB) 4; 1 estudo, 154 crianças; moderada certeza da evidência).

Ibuprofeno versus cetorolaco (1 ECR)

Nenhum estudo relatou alívio da dor ou intensidade da dor relatada pela própria criança, ou eventos adversos graves. O ibuprofeno pode resultar em uma redução de eventos adversos em comparação ao cetorolaco (RR 0,51, IC 95% 0,27 a 0,96; DR −0,29, IC 95% −0,53 a −0,04; NNTB 4; 1 estudo, 59 crianças; baixa certeza da evidência) .

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Aline Rocha). Contato:tradutores.cochrane.br@gmail.com

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