É possível identificar com precisão os principais gânglios linfáticos drenantes em mulheres com cancro endometrial de forma a diagnosticar se o cancro se alastrou aos gânglios linfáticos?

A questão
As mulheres que têm cancro endometrial (cancro resultante do revestimento do útero) podem ter células cancerosas espalhadas nos gânglios linfáticos na pélvis e/ou na área para-aórtica (principal vaso sanguíneo na cavidade abdominal superior) e necessitam de tratamentos de radioterapia adicional, com ou sem quimioterapia, após a histerectomia inicial. Estudos anteriores analisaram o efeito da remoção do maior número possível de gânglios linfáticos pélvicos (linfadenectomia), mas não demonstraram um benefício na sobrevivência. Além disso, a linfadenectomia causa frequentemente problemas como linfedema (inchaço das pernas) e linfocistos (colecções de líquido linfático). A biopsia do gânglio linfático sentinela (GLS) (BGLS) envolve a identificação do primeiro GLS a drenar o tumor, utilizando um corante ou um marcador radioativo, ou ambos. Os GLSs são removidos e examinados ao microscópio para verificar a existência de células cancerígenas. As decisões de tratamento adicionais podem mudar em função destes resultados.

O que torna esta revisão importante?
Vários estudos utilizaram corantes ou agentes rastreáveis para identificar GLSs em mulheres com cancro do útero. Não é claro se todos estes agentes são suficientemente precisos para prever quais as mulheres com cancro que se propagam aos gânglios linfáticos e se é melhor injetar corante no colo do útero ou no músculo do útero. Esta revisão resume a evidência e produz estimativas globais da precisão relativa dos testes disponíveis.

Como foi conduzida a revisão?
Incluímos estudos que testaram a precisão do(s) agente(s) marcador(es) para identificar o GLS contra o método padrão de remoção de todos os gânglios pélvicos, com ou sem gânglios linfáticos para-aórticos. Restringimos os estudos aos que examinaram os GLSs tomando múltiplas fatias do nó e coloração para células cancerosas utilizando marcadores de anticorpos (imuno-histoquímica (IHC)) antes do estudo ao microscópio (ultra-estadiamento).

Quais são as principais conclusões?
Incluímos 33 estudos (2237 mulheres) que avaliaram as técnicas utilizadas para identificar o GLS a drenar do útero. Essas incluíram: 11 apenas o corante azul; quatro apenas o tecnécio-99m (uma substância radioactiva); 9 o corante verde de indocianina (ICG) que fluoresce sob luz infravermelha próxima; 12 que utilizaram uma combinação de corante azul e tecnécio-99m e 1 que utilizou uma combinação de ICG e tecnécio-99 mas onde os marcadores foram injetados no colo do útero ou diretamente no músculo do útero, ou uma combinação. Globalmente, os relatórios metodológicos foram fracos, o que limitou a nossa capacidade de avaliar a qualidade dos estudos.

Os testes têm dois atributos.

1. A capacidade dos testes para encontrar o GLS (taxa de detecção) variou, com o teste de corante azul a detetar apenas o SLN em 77,8% das mulheres, em comparação com 80,9% apenas com o tecnécio-99m, 86,3% para o corante azul combinado/tecnologia-99m, 92,4% apenas para a ICG, 96,7% para a ICG/tecnologia azul e 100% para a ICG/tecnologia-99m. Se não forem detetados gânglios sentinelas, não podem ser examinados para células cancerígenas; por conseguinte, estas mulheres podem precisar de ser submetidas a linfadenectomia ou tratadas com base nos fatores de risco do cancro dentro do útero.

2. Se estavam presentes células cancerígenas nos gânglios linfáticos, o BGLS identificou um gânglio linfático com cancro no seu interior ou falhou um gânglio linfático que continha cancro? A isto chama-se a sensibilidade do teste e a capacidade do teste de evitar um resultado falso-negativo. Se for encontrado um GLS, todos os testes podem identificar o cancro nos nódulos pélvicos/para-aórticos com boa precisão (mais de 90% dos nódulos com cancro serão identificados com precisão com qualquer um dos testes). Neste cenário, não pode ocorrer um resultado falso-positivo, uma vez que o exame histológico do GLS é inalterado pelos resultados de quaisquer nódulos adicionais removidos na linfadenectomia sistemática.

O que significam estes resultados?
Todos os diferentes métodos foram capazes de identificar um GLS, embora as técnicas que utilizavam ICG, isoladamente ou em combinação com corantes azuis ou tecnécio-99m, possam ser mais susceptíveis de encontrar um nódulo. Se fosse encontrado um nódulo, este provavelmente seria o que continha células cancerígenas; se o GLS não contivesse quaisquer células cancerígenas (GLS negativo), a hipótese de outros nódulos conterem células cancerígenas era inferior a 10%. No entanto, estes testes limitaram-se a mulheres que provavelmente teriam uma doença em fase inicial e apenas um pequeno volume de células cancerosas dentro dos gânglios linfáticos. Quando os gânglios ou canais linfáticos contêm muitas células cancerosas, isto pode bloquear os canais linfáticos, afetando a drenagem linfática, e pode ter sido uma razão para não se encontrar GLS em alguns dos estudos.

Esta revisão apenas se debruçou sobre a precisão de se poder identificar um GLS e não nos diz se este oferece uma vantagem adicional de sobrevivência às mulheres com cancro do útero em fase inicial. São necessários outros tipos de ensaios clínicos para nos mostrar se a realização de uma BGLS, para orientar a necessidade de tratamento adicional, melhora a sobrevivência em comparação com a fundamentação das decisões de tratamento em fatores de risco determinados apenas a partir do exame do útero. Isto seria importante saber, uma vez que estudos anteriores não demonstraram uma vantagem de sobrevivência na remoção de todos os gânglios linfáticos pélvicos.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.

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