Será que limitar a quantidade de fluidos administrados a um adulto durante a cirurgia é tão bom para guiar a fluidoterapia quanto usar monitorização hemodinâmica, que mede continuamente alterações na pressão arterial ou velocidade de fluxo sanguíneo nas a

Pergunta de revisão

O nosso objetivo foi rever a evidência de estudos clínicos controlados aleatorizados (ECA) sobre se a limitação da quantidade de fluidos administrados a adultos durante a cirurgia será tão boa quanto a monitorização hemodinâmica para guiar a fluidoterapia. Os ECA são estudos clínicos em que pessoas são aleatoriamente colocados em um de dois ou mais grupos de tratamento. A monitorização hemodinâmica é contínua, medindo batimento a batimento as alterações na pressão arterial e na velocidade do fluxo arterial nas artérias.

Contexto

Durante as cirurgias, são administrados aos adultos fluidos adicionais nas veias (por via intravenosa) para colmatar as suas necessidades normais de fluidos e suplementar qualquer perda de fluidos durante a cirurgia por hemorragia ou por outras razões, tais como, por exemplo, a transpiração. Ainda não se sabe de forma clara que quantidade de fluidos deve ser administrada aos adultos durante uma cirurgia. No passado, uma grande quantidade de fluidos era administrada durante as cirurgias porque se pensava que havia perdas significativas quer por vaporização durante a cirurgia a partir de cavidades abertas, pulmões e pele, quer por acumulação em tecidos operados. Outra razão seria o tempo prolongado de jejum antes da cirurgia. Muitos novos estudos têm contestado estas conclusões, e recentemente foram desenvolvidas técnicas que utilizam monitorização hemodinâmica para guiar sobre a quantidade de fluidos que é realmente necessária durante a cirurgia. Esta técnica chama-se fluidoterapia dirigida por objetivos (GDFT). Outro conceito é o de que simplesmente administrar menos fluidos do que o recomendado no passado pode resultar no mesmo benefício. Esta técnica chama-se fluidoterapia restritiva (RFT). A RFT é mais barata e mais fácil de utilizar por não requerer equipamento adicional.

Caraterísticas do estudo

A evidência encontra-se atualizada até 11 de outubro de 2019. Incluímos estudos que aleatoriamente atribuíram adultos a grupos de intervenção, comparando as duas técnicas descritas acima. Encontrámos seis estudos incluindo um total de 562 participantes. Cinco estudos envolveram cirurgia abdominal, e um envolveu cirurgia ortopédica. Nenhum estudo envolveu cirurgia de emergência nem doentes que sofriam de condições médicas graves antes da cirurgia.

Resultados principais

O número de mortes foi ligeiramente inferior no grupo GDFT em comparação com o grupo RFT, mas tal pode ser devido ao acaso. Não foi observada qualquer diferença na frequência de complicações major entre os dois grupos. Além disso, não foram observadas diferenças entre os grupos RFT e GDFT nos seguintes resultados: duração da hospitalização, complicações relacionadas com a cirurgia (relacionadas diretamente com o local da cirurgia, por exemplo problemas com a cicatrização da ferida), complicações não relacionadas com a cirurgia (relacionadas com problemas com outros órgãos, como por exemplo coração ou pulmões), insuficiência renal e qualidade da recuperação cirúrgica.

Qualidade da evidência

Considerámos a qualidade da evidência para esta revisão como muito baixa porque as conclusões foram baseadas em números muito pequenos de participantes nos estudos incluídos. Além disso, a qualidade dos estudos incluídos é baixa, e os estudos foram realizados apenas em grupos selecionados de doentes que não refletem a população real de pessoas submetidas a cirurgia. Isto significa que novos estudos poderão muito provavelmente alterar os resultados desta revisão. Esta revisão não permite saber se os resultados seriam os mesmos para adultos que têm outros problemas de saúde graves antes da cirurgia, ou para adultos submetidos a outros tipos de cirurgia para além da cirurgia abdominal e ortopédica.

Notas de tradução: 

Tradução por Beatriz Leal, Serviço de Anestesiologia, Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, com o apoio da Cochrane Portugal.

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