Exercícios aeróbicos para adultos com fibromialgia

Esta revisão resume os efeitos do exercício aeróbico para adultos com fibromialgia

O que são exercícios aeróbicos?

Os exercícios aeróbicos, como caminhar e nadar, aumentam a respiração e os batimentos cardíacos em relação aos valores em repouso. Os exercícios aeróbicos trazem vários benefícios, como o fortalecimento do coração, a melhora da circulação e a diminuição da pressão arterial, além de ajudarem a controlar a taxa de açúcar no sangue e a manter o peso.

A fibromialgia pode causar que tipo de problemas?

As pessoas com fibromialgia têm dor crônica generalizada no corpo e muitas vezes reclamam de fadiga (sensação de cansaço), rigidez muscular, depressão e problemas para dormir.

Características do estudo

Procuramos por pesquisas que houvessem sido publicadas até junho de 2016 e encontramos 13 estudos (envolvendo 839 indivíduos). A maioria dos estudos (61,5%) incluiu apenas participantes do sexo feminino. A idade média dos participantes foi de 41 anos (mínimo de 32 e máximo de 56 anos). De acordo com os critérios de inclusão/exclusão, a maioria dos participantes não fazia exercícios antes de iniciar o estudo.

Os estudos compararam um grupo que fazia exercícios aeróbicos versus um grupo controle (pessoas que ficavam numa lista de espera ou recebiam tratamento usual ou praticavam suas atividades diárias usuais) durante um período de 6 até 24 semanas. Em média, as sessões de exercícios ocorriam duas a três vezes por semana e cada sessão durava 35 minutos. Os exercícios consistiam em caminhar, andar de bicicleta, correr e fazer exercícios aeróbicos de baixo impacto e aquáticos. A intensidade do treino variou ao longo do estudo. Os participantes começavam com intensidade leve e aumentavam a intensidade dos treinos à medida que o estudo progredia. Todos os programas foram supervisionados.

Principais resultados ao final da intervenção

Priorizamos a comparação entre fazer exercício aeróbico versus não fazer nenhum exercício. Apresentamos todos os detalhes dessa comparação a seguir. Existe evidência de certeza moderada que, comparado ao controle, o exercício aeróbico melhora a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) e evidência de baixa certeza que esse tipo de exercício melhora a função física e diminui a dor, fadiga e rigidez. O número de pessoas que abandonou o grupo de exercícios aeróbicos foi semelhante ao do grupo controle. Eventos adversos menores foram relatados, mas houve inconsistências no relato desses eventos nos estudos.

Quatro estudos avaliaram os efeitos a longo prazo, entre 24 até 208 semanas depois do fim da intervenção. Eles relataram que os participantes que fizeram exercícios tiveram benefícios na dor e função física. Não foram identificados outros efeitos.

Melhores estimativas do que aconteceu nas pessoas com fibromialgia que fizeram exercícios aeróbicos comparadas com as pessoas do grupo controle

Cada um dos desfechos abaixo foi medido em uma escala de 0 a 100, em que os escores mais baixos foram melhores.

QVRS após 12 a 24 semanas: As pessoas que se exercitaram foram 7% melhor (ou 7 pontos, variando de 3 a 13 pontos) e deram um escore de 48 pontos para sua QVRS versus 56 pontos no grupo controle.

Dor após 6 a 24 semanas: As pessoas que se exercitaram foram 11% melhor (ou 11 pontos, variando de 4 a 18 pontos) e deram um escore de 56 pontos para sua dor versus 65 pontos no grupo controle.

Fadiga depois de 14 a 24 semanas: As pessoas que se exercitaram foram 6% melhor (ou 6 pontos, variando de 12 a mais até 0,3 pontos a menos) e deram um escore de 63 pontos para sua fadiga versus 68 pontos no grupo controle.

Rigidez após 16 semanas: As pessoas que se exercitaram foram 8% melhor (ou 8 pontos, variando de 1 a 15 pontos) e deram um escore de 61 pontos para sua rigidez versus 69 pontos no grupo controle.

Função física depois de 8 a 24 semanas: As pessoas que se exercitaram foram 10% melhor (ou 10 pontos, variando de 15 a 5 pontos) e deram um escore de 37 pontos para sua função física versus 46 pontos no grupo controle.

Outros resultados:

Abandono do grupo de intervenção

Um total de 20 de cada 100 pessoas abandonaram, por qualquer motivo, o grupo aeróbico em comparação com 17 em cada 100 no grupo controle (3% mais, variando de 3% menos até 12% mais).

Eventos adversos

Não temos informações precisas sobre eventos adversos associados com exercício aeróbico. Alguns estudos descrevem aumento da dor ou fadiga, e um dos 496 participantes do grupo de exercícios aeróbicos sofreu uma fratura de estresse em um osso do pé (metatarso). Isso pode ter acontecido por acaso.

Certeza/confiança (qualidade) na evidência

A evidência mostra que o exercício aeróbio pode melhorar a QVRS, a dor, a rigidez e a função física, e provavelmente leva a um número similar de pessoas que abandonam cada grupo. O exercício aeróbico não parece melhorar a fadiga. A certeza na evidência foi considerada baixa ou moderada devido ao pequeno número de pessoas incluídas nos estudos, algumas questões envolvendo o desenho do estudo e baixa confiança nos resultados.

Conclusão dos autores: 

Existe evidência de certeza moderada que, fazer exercício aeróbico (comparado ao grupo controle), provavelmente melhora a QVRS e a taxa de abandono dos participantes por qualquer motivo. Existe evidência de baixa certeza que o exercício aeróbico diminui um pouco a intensidade da dor, melhora um pouco a função física e produz pouca diferença sobre a fadiga e a rigidez dos pacientes. Para três dos desfechos relatados (QVRS, função física e dor) houve significância clínica. Os efeitos a longo prazo do exercício aeróbico podem incluir pouca ou nenhuma diferença na dor, na função física e no abandono por qualquer motivo. Não temos certeza sobre os efeitos a longo prazo da intervenção sobre os outros desfechos. Rebaixamos a certeza na evidência devido ao pequeno número de ECR e de participantes e devido ao risco de viés incerto ou alto dos estudos (viés de desempenho, de seleção e de detecção). O exercício aeróbico parece ser bem tolerado (taxas de abandono semelhantes entre os grupos). Porém, como existe pouca evidência sobre eventos adversos, estamos incertos quanto à segurança desta intervenção.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Os exercícios são comumente recomendados para pessoas com fibromialgia. Esta revisão é uma de uma série de revisões sobre exercícios para pessoas com fibromialgia que substituirão a revisão "Exercícios para tratamento da síndrome da fibromialgia" publicada pela primeira vez em 2002.

Objetivos: 

• Avaliar os benefícios e danos dos exercícios aeróbicos para adultos com fibromialgia

• Avaliar as seguintes comparações específicas:
० Exercícios aeróbicos versus controle (como tratamento usual, lista de espera, atividade física habitual)
० Intervenções aeróbicas versus intervenções aeróbicas (por exemplo, correr vs andar rápido)
० Intervenções aeróbicas versus intervenções sem exercício (por exemplo, medicamentos, educação)

Não fizemos comparações específicas envolvendo exercícios aeróbicos versus outros tipos de exercícios (como exercício de resistência, hidroginástica, alongamento, exercícios mistos). Outras revisões sistemáticas fizeram ou farão essas comparações (Bidonde 2014; Busch 2013).

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Library, MEDLINE, Embase, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Physiotherapy Evidence Database (PEDro),Thesis and Dissertation Abstracts, Allied and Complementary Medicine Database (AMED), World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform (WHO ICTRP) e no ClinicalTrials.gov até junho de 2016, sem restrição de idioma. Também revisamos as listas de referências dos estudos encontrados para identificar estudos potencialmente relevantes.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) envolvendo adultos com diagnóstico de fibromialgia que compararam treino com exercícios aeróbicos (atividade física dinâmica que eleva a frequência respiratória e cardíaca para níveis submáximos por um período prolongado) versus nenhum exercício ou outra intervenção. Os desfechos principais foram a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), intensidade da dor, rigidez, fadiga, função física, abandono e eventos adversos.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos para inclusão, extraíram os dados, avaliaram o risco de viés e a certeza nas evidências para os principais desfechos usando o GRADE. Utilizamos um limiar de 15% para o cálculo de diferenças clinicamente relevantes entre os grupos.

Principais resultados: 

Incluímos 13 ECRs (839 pessoas). Os estudos tinham alto risco de viés de seleção, de desempenho e de detecção (devido à falta de cegamento para os desfechos auto-relatados) e baixo risco de viés de atrito e de relato. Priorizamos a comparação entre o exercício aeróbico versus nenhum exercício e apresentamos os detalhes completos dessa comparação a seguir.

Baseado em 8 estudos (com 456 participantes), existe evidência de baixa certeza/confiança que aponta que a intervenção reduz a intensidade da dor, a fadiga, a rigidez e melhora a função física. Também existe evidência de certeza moderada de que a intervenção aumenta a taxa de abandono e a QVRS nas avaliações feitas ao final da intervenção (6 a 24 semanas). Com exceção do abandono e dos eventos adversos, todos desfechos principais foram auto-relatados e foram expressos em uma escala de 0 a 100. Nessa forma de medida, os valores mais baixos são melhores e as diferenças médias (MD)/diferenças de médias padronizadas (SMD) negativas indicam melhoria da saúde. Os efeitos para o exercício aeróbico versus controle foram os seguintes: QVRS: média 56,08; 5 estudos; N = 372; MD -7,89, IC 95% -13,23 a-2,55; melhoria absoluta de 8% (3% a 13%) e melhoria relativa de 15% (5% a 24%);intensidade da dor: média 65,31; 6 estudos; N = 351; MD -11,06, 95% CI -18,34 a -3,77; melhoria absoluta de 11% (IC 95% 4% a 18%) e melhoria relativa de 18% (7% a 30%);rigidez: média 69; 1 estudo; N = 143; MD -7,96, IC 95% -14,95 a -0,97; diferença absoluta de melhoria de 8% (1% a 15%) e mudança relativa na melhoria de 11,4% (21,4% a 1,4%); função física: média 38,32; 3 estudos; N = 246; MD -10,16, IC 95% -15,39 a -4,94; mudança absoluta na melhoria de 10% (15% a 5%) e mudança relativa na melhoria de 21,9% (33% a 11%); e fadiga: média 68; 3 estudos; N = 286; MD -6,48, IC 95% -14,33 a 1,38; mudança absoluta na melhoria de 6% (12% de melhoria a 0,3% de piora) e mudança relativa na melhoria de 8% (16% de melhoria a 0,4% de piora). Para o desfecho abandono dos participantes, a análise combinada dos dados dos estudos aponta um risco relativo (RR) semelhante com 17 abandonos por cada 100 participantes no grupo controle e 20 por 100 no grupo dos exercícios: 8 estudos, N = 456; RR 1,25, IC 95% 0,89 a 1,77, mudança absoluta 5% mais abandonos no grupo dos exercícios (variando de 3% menos até 12% mais abandonos). A certeza na evidência para esse desfecho foi moderada.

Existe evidência de baixa certeza, proveniente de 3 estudos, sobre os efeitos a longo prazo (24 até 208 semanas após o término do estudo) de benefícios persistentes a favor do grupo intervenção (exercícios) para a dor e função mas não para QVRS ou fadiga. A taxa de desistências foi semelhante e os pesquisadores não avaliaram rigidez e eventos adversos.

Apenas 1 ECR comparou os efeitos de tipos diferentes de intervenções aeróbicas, o que impossibilitou a realização de metanálises. Como a evidência para esse desfecho é de certeza baixa à muito baixa, não temos certeza quanto a esse aspecto. Da mesma forma, estamos incertos quanto aos efeitos do exercício aeróbico versus controles ativos pois existem estudos isolados para essas comparações (educação, 3 estudos; treinamento para controle do estresse, 1 estudo; medicação, 1 estudo). Isso fez com que a certeza na evidência para essa comparação fosse baixa à muito baixa. Como a maioria dos estudos não mediu eventos adversos, estamos incertos quanto ao risco de eventos adversos associados ao exercício aeróbico.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Liliane de Abreu Rosa e Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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