Esvaziamento do pneumotórax no recém-nascido: uso de agulha versus tubo inserido no espaço intercostal

Pergunta de revisão: Em recém-nascidos com pneumotórax, a mortalidade é menor quando o médico aspira o ar usando uma agulha ou um tubo intercostal (inserido entre as costelas)?

Introdução: Normalmente, o espaço que fica entre os pulmões e a parede torácica tem apenas um líquido. Quando o ar escapa do pulmão e entra nesse espaço, isso é chamado de pneumotórax. O pneumotórax é um problema grave no recém-nascido. O médico pode retirar o ar desse espaço usando uma agulha ou colocando um tubo torácico. A aspiração com agulha é menos invasiva e pode evitar a necessidade de colocar o tubo torácico, reduzindo o tempo que o bebê precisa ficar internado no hospital. Porém, a aspiração com agulha pode não dar certo e o médico poderá ter que colocar o tubo torácico, ou seja, fazer um segundo procedimento mais invasivo. Esta revisão sistemática avaliou as evidências disponíveis sobre a efetividade dessas duas técnicas no tratamento do pneumotórax em recém-nascidos.

Características do estudo: Incluímos dois estudos. Um estudo (envolvendo 70 recém-nascidos) comparou a aspiração do pneumotórax usando uma agulha que era removida logo após o procedimento versusdrenagem usando o tubo torácico. O outro estudo (72 recém-nascidos) comparou aspiração usando um cateter intravenoso deixado no local da aspiração versus aspiração usando o tubo torácico. As evidências estão atualizadas até junho de 2018.

Principais resultados: A aspiração com agulha (comparada com o uso do tubo torácico) não reduziu a mortalidade ou quaisquer complicações relacionadas ao procedimento. No grupo tratado com agulha removida imediatamente, cerca de 70% dos bebês precisaram colocar um tubo intercostal. No grupo tratado com agulha deixada no local, nenhum bebê precisou colocar um tubo intercostal. No entanto, vários fatores podem explicar estes achados.

Qualidade da evidência: Os dois pequenos estudos identificados nesta revisão não fornecem informação suficiente para termos certeza sobre qual das duas técnicas é melhor para o tratamento de recém-nascidos com pneumotórax. No entanto, parece que a aspiração com agulha pode reduzir a necessidade de colocar um tubo intercostal em uma proporção razoável dos recém-nascidos.

Conclusão dos autores: 

Não há evidência suficiente para estabelecer a eficácia e segurança da aspiração com agulha versus drenagem com tubo intercostal no manejo do pneumotórax neonatal. Os dois estudos incluídos nesta revisão não mostraram diferenças entre as duas intervenções quanto à mortalidade. Porém, há pouca informação disponível. A aspiração por agulha reduz a necessidade de inserção do tubo de drenagem intercostal. Há pouca ou nenhuma evidência disponível para outros desfechos clínicos relevantes.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

O pneumotórax é mais frequente no período neonatal do que em qualquer outra época da vida. Essa condição aumenta os riscos de mortalidade e morbidade neonatal. O tratamento do pneumotórax neonatal pode ser feito por aspiração com seringa (usando agulha ou cateter intravenoso) ou por drenagem com a inserção de um tubo torácico no espaço pleural anterior conectado a uma válvula de Heimlich ou a um dreno em selo d`água com sucção contínua.

Objetivos: 

Comparar a eficácia e a segurança da aspiração por agulha (com remoção imediata ou deixada no local de punção) versus drenagem com tubo intercostal, no tratamento do pneumotórax neonatal.

Métodos de busca: 

Utilizamos a estratégia de busca padrão da Cochrane Neonatal nas seguintes bases de dados: CENTRAL (2018, Issue 5), MEDLINE via PubMed (1966 a 4 de junho de 2018), Embase (1980 a 4 de junho de 2018) e CINAHL (1982 a 4 de junho de 2018). Também fizemos buscas por estudos relevantes em plataformas de registro de ensaios clínicos, atas de conferências, e nas listas de referências dos estudos identificados.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios randomizados controlados, ensaios controlados quase randomizados, e ensaios clínicos tipo cluster. Os estudos deveriam comparar aspiração com seringa (com agulha ou cateter intravenoso deixado in loco ou removido imediatamente após a aspiração) versus drenagem com tubo intercostal em recém-nascidos com pneumotórax.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, extraíramos os dados dos estudos (tais como o número de participantes, peso ao nascer, idade gestacional, tipo de agulha e tubo torácico, escolha do espaço intercostal, dispositivo e pressão usados para drenagem). Os dois autores também avaliaram o risco de viés dos estudos (incluindo adequação da randomização, cegamento, e completude do seguimento). Os desfechos primários foram mortalidade no período neonatal e durante a internação.

Utilizamos o sistema GRADE para avaliar a qualidade da evidência.

Principais resultados: 

Dois ensaios clínicos randomizados controlados (142 neonatos) preencheram os critérios de inclusão da revisão. Não encontramos diferenças na taxa de mortalidade quando a agulha foi retirada imediatamente após o procedimento (risco relativo (RR) 3,92, intervalo de confiança de 95% (IC) 0,88 a 17,58; participantes = 70; estudos = 1) ou deixada in loco (RR 1,50, IC 95% 0,27 a 8,45; participantes = 72; estudos = 1) ou na taxa de complicações relacionadas ao procedimento. Com a retirada imediata da agulha após a aspiração, 30% dos recém-nascidos não necessitaram de drenagem com tubo intercostal. Nenhum dos 36 recém-nascidos tratados com aspiração por agulha com cateter intravenoso deixado no local necessitou de drenagem por tubo intercostal. No geral, a qualidade da evidência que embasa este achado é muito baixa.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Afiliado Rio de Janeiro / Faculdade de Medicina de Petrópolis,Cochrane Brazil (Marina Ramos Guimarães e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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