Procedimentos cirúrgicos para reduzir o tempo do tratamento ortodôntico

Pergunta da revisão
O tratamento ortodôntico (uso de aparelhos nos dentes) é demorado. Geralmente leva mais de 18 meses e a pessoa precisa passar em consulta a cada seis semanas para ajustar o aparelho. Esse tipo de tratamento geralmente não envolve cirurgia. Porém, foram propostos procedimentos cirúrgicos especiais para encurtar o tempo desse tratamento. Esta revisão, produzida pelo Cochrane Oral Health Group, avaliou os benefícios e os riscos das cirurgias para acelerar o tratamento ortodôntico em comparação com o tratamento ortodôntico padrão em adolescentes e adultos.

Introdução
A redução da duração do tratamento ortodôntico é altamente desejável. A cirurgia tem sido preconizada para acelerar a movimentação dentária. A cirurgia pode estimular as células adjacentes aos dentes, reduzir a resistência do osso de apoio ou mudar mecanicamente a posição dos dentes. Estes procedimentos são relativamente novos e podem envolver riscos adicionais em comparação com o tratamento padrão.

Características do estudo
A revisão incluiu estudos que haviam sido publicados até 10 de setembro de 2014. Encontramos quatro estudos relevantes e que foram incluídos na revisão. Esses estudos envolveram 57 participantes com idades entre 11 e 33 anos. Todos investigaram os efeitos dos procedimentos cirúrgicos no tempo necessário para alinhar um dente deslocado ou para fechar espaços entre os dentes. Nenhum desses estudos relatou ter recebido financiamento da indústria de ortodontia.

Resultados principais
Os procedimentos cirúrgicos reduziram discretamente o tempo de movimentação dentária. Porém, este resultado foi baseado em pesquisas que envolveram um número relativamente pequeno de participantes. Além disso, todos estudos tiveram alguns problemas de qualidade e no seu desenho. Portanto, é necessário fazer mais pesquisas para confirmar se é justificável fazer cirurgia adicional para acelerar a movimentação dentária. Os estudos não avaliaram os efeitos colaterais negativos do tratamento cirúrgico.

Qualidade da evidência
A evidência para a taxa de movimentação dentária (nas avaliações feitas um mês e três meses após o procedimento) foi considerada de baixa qualidade.

Conclusão dos autores: 

Esta revisão aponta a escassez de estudos sobre a efetividade das intervenções cirúrgicas para acelerar o tratamento ortodôntico e a inexistência de estudos que avaliaram nossos desfechos primários pré-especificados. A evidência disponível é de baixa qualidade o que indica que novas pesquisas provavelmente mudarão a estimativa do efeito da intervenção. Baseado nos desfechos avaliados no curto prazo, os procedimentos cirúrgicos parecem ser uma intervenção promissora para acelerar a movimentação dentária. Portanto, é possível que esses procedimentos sejam úteis. Porém, para confirmar qualquer benefício possível, é necessário fazer mais estudos prospectivos que incluam todos tratamentos e que acompanhem os pacientes no longo prazo.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Existe um esforço para reduzir a duração do tratamento ortodôntico. Nos últimos anos, várias técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas desenvolvidas com esse propósito vêm recebendo mais atenção. Existem várias técnicas cirúrgicas para essa finalidade. Porém existem incertezas quanto à efetividade e aos possíveis efeitos adversos desses procedimentos.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos das cirurgias ortodônticas coadjuvantes sobre a duração e o resultado do tratamento ortodôntico.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nos seguintes bancos de dados eletrônicos: Cochrane Oral Health Group's Trials Register (até 10 de setembro de 2014), Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library2014, Issue 8), MEDLINE via OVID (de 1946 a 10 de setembro de 2014), EMBASE via OVID (de 1980 a 10 de setembro de 2014), LILACS via BIREME (de 1980 a 10 de setembro de 2014), metaRegister of Controlled Trials (até 10 de setembro de 2014), ClinicalTrials.gov (até 10 de setembro de 2014) e World Health Organization (WHO) International Clinical Trials Registry Platform (até 10 de setembro de 2014). Verificamos as listas de referência de todos ensaios clínicos identificados. Não houve restrições quanto ao idioma ou data de publicação nas buscas eletrônicas.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios controlados randomizados (ECRs) que avaliaram o efeito de procedimentos cirúrgicos coadjuvantes para acelerar a movimentação dentária em comparação com o tratamento convencional (sem procedimento cirúrgico coadjuvante).

Coleta dos dados e análises: 

Pelo menos dois revisores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos. Nas metanálises, usamos o modelo de efeitos fixos e calculamos as diferenças médias (MD) e seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Investigamos a heterogeneidade clínica e metodológica.

Principais resultados: 

Incluímos 4 ECRs envolvendo um total de 57 participantes com idades entre 11 e 33 anos. As intervenções avaliadas foram corticotomias para facilitar o fechamento do espaço ortodôntico ou alinhamento de canino superior ectópico. Um dos estudos avaliou o efeito de procedimentos cirúrgicos repetidos. Os estudos não relataram diretamente os desfechos primários pré-especificados em nosso protocolo: duração do tratamento ortodôntico, número de visitas (programadas e não programadas) durante o tratamento ativo e duração das visitas. O principal desfecho avaliado nos estudos foi a taxa de movimentação dentária. Um estudo avaliou os efeitos periodontais e um estudo avaliou dor. Para cada desfecho e para cada comparação, havia um máximo de apenas três estudos, todos com poucos participantes (pequeno tamanho amostral). Todos estudos tinham risco de viés incerto.

A movimentação dentária foi um pouco mais rápida no grupo da cirurgia coadjuvante do que no grupo de tratamento convencional na avaliação realizada com um mês (MD 0,61 mm, IC 95% 0,49 a 0,72, P <0,001) e com três meses (MD 2,03 mm, IC 95% 1,52 a 2,54, P <0,001). Devido ao pequeno número de estudos incluídos, recomendamos cautela na interpretação dos resultados e das conclusões desta revisão. Procurarmos informações sobre eventos adversos, mas nenhum dos estudos incluídos na revisão apresentou dados sobre isso.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Izabel Cristina Vieira de Oliveira). Contato: tradutores@centrocochranedo brasil.org.br

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