Organização de cuidados de saúde preventivos comunitários para pessoas com doença cardíaca

O termo doença cardíaca isquêmica é usado para identificar condições causadas por um estreitamento das artérias que levam sangue ao coração. Os pacientes com doença cardíaca isquêmica podem ter angina, ou podem ter tido um infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou ter passado por cirurgia para dilatar ou fazer um bypass das artérias afetadas. O termo "prevenção secundária" é usado para descrever cuidados de saúde que visam prevenir, nestes pacientes, mais problemas cardíacos isquêmicos ou a piora desses problemas.

Existem pesquisas que tentaram identificar a melhor forma de organizar os cuidados de saúde para que pessoas com doença cardíaca pudessem se beneficiar mais com as mudanças no estilo de vida e com o uso dos medicamentos. Sabemos que estas duas coisas reduzem o risco de a doença cardíaca piorar.

Estes estudos sugerem que mudanças cuidadosas na forma de oferecer cuidados e conselhos de saúde podem aumentar a proporção de pacientes que atingem os níveis recomendados de colesterol total e de pressão arterial. No entanto, a evidência existente é fraca. Não encontramos nenhuma evidência de que mudanças similares ajudam a reduzir outros fatores de risco ou a melhorar a prescrição de medicamentos que podem prevenir o avanço da doença. As mudanças que parecem ser mais efetivas incluem consultas regulares com o médico, monitorar cuidadosamente o uso dos medicamentos e os fatores de riscos (tais como pressão arterial, colesterol e estilo de vida), e educar os pacientes sobre a importância da prevenção secundária.

Conclusão dos autores: 

Existe evidência fraca de que as consultas regulares programadas, o monitoramento estruturado dos fatores de riscos e das receitas médicas, e a educação dos pacientes podem aumentar a proporção de pacientes com níveis de colesterol e de pressão arterial dentro dos valores recomendados. Uma melhor padronização dos desfechos medidos iria beneficiar pesquisas adicionais nesta área.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A doença cardíaca isquêmica (DCI) é uma das principais causas de mortalidade e morbidade e sua prevalência tende a aumentar. A prevenção secundária visa prevenir novos eventos agudos em pessoas com DCI estabelecida. Os benefícios de intervenções médicas específicas e no estilo de vida são conhecidos. Porém, sabemos menos sobre a efetividade de intervenções para melhorar a forma como os cuidados preventivos secundários são oferecidos na atenção básica ou nos serviços comunitários.

Objetivos: 

Avaliar a eficácia de intervenções na organização de serviços, e identificar os tipos e os elementos de mudanças nos serviços que resultam numa melhor adesão dos médicos e dos pacientes às recomendações para prevenção secundária, ligadas aos níveis e monitoramento dos fatores de risco (pressão arterial, colesterol e fatores relacionados ao estilo de vida como dieta, exercício, tabagismo e obesidade) e ao uso de medicação profilática apropriada.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL, The Cochrane Library 2007, Issue 4), MEDLINE (1966 a fev de 2008), EMBASE (1980 a fev de 2008), e CINAHL (1981 a fev de 2008). Verificamos as listas de referências dos estudos identificados. Não houve restrições de idioma.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados ou quasi-randomizados que avaliaram intervenções na organização dos serviços de saúde oferecidos na atenção básica ou em serviços comunitários, para pacientes com DCI estabelecida.

Coleta dos dados e análises: 

As análises seguiram as recomendações da Cochrane. Para os desfechos dicotômicos, apresentamos a razão de chances (OR), com seu intervalo de confiança (IC) de 95%. Para os desfechos contínuos, apresentamos os resultados como diferença média (e IC de 95%).

Principais resultados: 

Incluímos 11 estudos envolvendo 12.074 participantes com DCI. O uso de intervenções como consultas regulares pré-agendadas, educação do paciente e monitoramento estruturado da medicação e dos fatores de risco se associou com maior proporção de pacientes com níveis de colesterol total dentro dos níveis recomendados aos 12 meses: OR 1,90, IC 95% 1,04 a 3,48. No entanto, a heterogeneidade foi alta. As intervenções produziram um efeito quase significativo (do ponto de vista estatístico) sobre o desfecho ´proporção de pacientes com pressão arterial dentro dos níveis recomendados´. As intervenções não produziram diferenças significativas sobre os níveis médios de pressão arterial ou de colesterol, prescrições, tabagismo ou no índice de massa corporal. Os estudos apresentavam poucos dados do efeito das intervenções sobre a dieta dos participantes. Os resultados sugerem a existência de um «efeito teto», em que as intervenções têm um efeito benéfico decrescente quando se atinge um certo nível de gestão dos fatores de risco.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane South Africa e Cochrane Africa em parceria com o Cochrane Brazil (Geoffrey Dama Caetano Madeira e Solange Durão). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br.

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