Amamentação ou leite materno para a dor causada por exames médicos em recém-nascidos

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A amamentação promove o alívio da dor nos recém-nascidos submetidos a exames médicos dolorosos. Medicamentos para o alívio da dor são comumente administrados para os exames mais dolorosos, mas podem não ser dados para procedimentos que provocam menos dor, tais como a coleta de sangue (por punção do calcanhar ou de uma veia). Existem diferentes estratégias não farmacológicas que podem ser utilizadas para reduzir a dor em bebês, como abraçar, envolver em mantas, oferecer chupeta ou soluções adocicadas (como a sacarose e a glicose). Vários estudos envolvendo bebês têm demonstrado que a amamentação é uma boa maneira de reduzir a dor que os bebês sentem quando eles são submetidos a procedimentos que provocam um pouco de dor. Esses estudos envolveram bebês de nove meses completos e mostraram que a amamentação é efetiva, pois reduz o tempo de choro do bebê e reduz os escores de dor em escalas validadas para medir a dor nos bebês. Porém, dar leite materno usando uma seringa não demonstrou a mesma eficácia da amamentação propriamente dita. Não encontramos estudos em bebês prematuros. Portanto, novos estudos são necessários para saber se o uso suplementar de leite materno nesses bebês é efetivo na redução da dor.

Conclusão dos autores: 

Se possível, a amamentação ou o leite materno suplementar devem ser utilizados para aliviar a dor de recém-nascidos submetidos a um único procedimento doloroso, em vez de placebo, contenção ou nenhuma intervenção. A administração de glicose/sacarose teve eficácia semelhante à amamentação para reduzir a dor. A efetividade do leite materno suplementar para procedimentos dolorosos deve ser estudada na população de bebês prematuros, uma vez que, atualmente, existe um número limitado de estudos nesta população.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

As alterações fisiológicas provocadas pela dor podem contribuir para o desenvolvimento de morbidade em recém-nascidos. Estudos clínicos envolvendo recém-nascidos em situações de dor ou estresse mostram que a administração preventiva de analgésicos pode reduzir as modificações fisiológicas e os escores de dor. Medidas não farmacológicas (como abraçar o bebê, embrulhá-lo em uma manta e amamentá-lo) e medidas farmacológicas (como paracetamol, sacarose e opioides) têm sido utilizadas com esse objetivo.

Objetivos: 

O objetivo primário desta revisão foi avaliar a efetividade da amamentação ou do leite materno suplementar na redução da dor causada por procedimentos médicos em recém-nascidos. O objetivo secundário foi conduzir análises de subgrupos conforme o tipo de intervenção no grupo controle, a idade gestacional e a quantidade de leite materno suplementar oferecida.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library 2011, Issue 10), MEDLINE (1966 a fevereiro de 2011), EMBASE (1980 a fevereiro de 2011) e CINAHL (1982 a fevereiro de 2011). Também procurarmos nos livros de resumos das reuniões anuais da Society for Pediatric Research (1994 a 2011), e das principais conferências de dor em pediatria. A busca foi realizada sem restrições de idiomas.

Critério de seleção: 

Ensaios clínicos randomizados ou quasi-randomizados que compararam amamentação ou leite materno suplementar versus nenhum tratamento/outras medidas em recém-nascidos foram elegíveis para inclusão nesta revisão. O estudo a ser incluído deveria ter avaliado a dor usando marcadores fisiológicos ou escalas de dor validadas.

Coleta dos dados e análises: 

Avaliamos a qualidade metodológica dos estudos utilizando a informação fornecida nas publicações e entrando em contato direto com os autores. Extraímos dados de desfechos relevantes. Estimamos o tamanho do efeito e o relatamos como risco relativo (RR), diferença de risco (DR) e diferença média ponderada (DMP), conforme apropriado.

Principais resultados: 

Dentre os 20 estudos elegíveis, 10 avaliaram amamentação e 10 avaliaram leite materno suplementar. Em 16 dos estudos, o procedimento responsável pela dor era a punção do calcanhar e, em 4 estudos, o procedimento era a punção venosa. Notamos grande heterogeneidade entre os estudos quanto à intervenção usada no grupo controle e as medidas usadas para avaliar a dor. Os recém-nascidos no grupo da amamentação tiveram um aumento estatisticamente significante menor na sua frequência cardíaca, menor proporção de tempo de choro, menor tempo de duração do primeiro choro e menor tempo total de choro em comparação com os seguintes grupos: contenção (o bebê é enrolado em uma manta e colocado em um berço), abraço pela mãe, placebo, uso de chupeta, nenhuma intervenção ou grupo de sacarose oral, ou ambos.

Os escores da escala Premature Infant Pain Profile (PIPP) foram significativamente mais baixos no grupo da amamentação quando comparados com os grupos contenção, placebo ou sacarose oral ou ambos. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa nos escores de PIPP quando a amamentação foi comparada com nenhuma intervenção. Os escores da escala DAN (Douleur Aigue du Nouveau-Né) foram significativamente mais baixos no grupo amamentação do que no grupo placebo e no grupo de bebês que foram abraçados pela mãe. Porém, não foram diferentes dos escores do grupo glicose. Os escores da escala NIPS (Neonatal Infant Pain Scale) foram significativamente mais baixos no grupo amamentação do que no grupo sem intervenção, mas não houve diferença quando comparados com o grupo que recebeu sacarose oral. O escore na escala NFCS (Neonatal Facial Coding System) foi significativamente menor no grupo amamentação comparado com os grupos que receberam glicose oral, chupeta, abraço materno e nenhuma intervenção. Porém, não houve diferenças quando comparado com o grupo que recebeu leite artificial em mamadeira.

O uso de leite materno suplementar produziu resultados variáveis. Recém-nascidos no grupo de leite materno suplementar tiveram um aumento significativamente menor na sua frequência cardíaca, uma redução da duração do choro e um escore NFCS mais baixo do que os bebês do grupo placebo. Por outro lado, os recém-nascidos no grupo suplementado com leite materno tiveram um aumento significativamente maior da frequência cardíaca do que os bebês do grupo sacarose. A administração de sacarose (em qualquer concentração, isto é, 12,5%, 20% e 25%) reduz o tempo de choro, quando comparada com o leite materno, assim como a glicina, o uso da chupeta, balançar o bebê ou nenhuma intervenção. O leite materno suplementar não foi efetivo na redução dos escores de dor medidos através de escalas de dor validadas ou não, como a NIPS, a NFCS e a DAN. Essa intervenção foi significativamente melhor apenas quando comparada com o uso de placebo (água) ou massagem. Não encontramos nenhum estudo que avaliou a segurança/efetividade de várias sessões de aleitamento materno ou leite materno suplementar para o alívio da dor.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Bruna Medeiros Gonçalves de Veras). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br.