Podcast: Os anticoagulantes evitam a formação de coágulos sanguíneos nas pessoas internadas com COVID-19?

A Cochrane está preparando uma série de revisões rápidas para ajudar os tomadores de decisão em sua resposta à COVID-19. Em outubro de 2020, publicamos os resultados de uma revisão sobre os efeitos dos anticoagulantes e o autor principal, Ronald Flumignan, da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, descreve o que encontraram neste podcast.

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Luis: A Cochrane está preparando uma série de revisões rápidas para ajudar os tomadores de decisão em sua resposta à COVID-19. Em outubro de 2020, publicamos os resultados de uma revisão sobre os efeitos dos anticoagulantes e o autor principal, Ronald Flumignan, da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, descreve o que encontraram neste podcast.

Ronald: A COVID-19 normalmente afeta os pulmões e as vias respiratórias das pessoas, mas, assim como esses problemas respiratórios, cerca de uma em cada seis pessoas que vão ao hospital com COVID-19 podem desenvolver coágulos em suas veias ou artérias. Os anticoagulantes evitam a formação desses coágulos, mas podem causar efeitos indesejáveis, como sangramento. Algumas diretrizes recomendam administrar esses medicamentos quando as pessoas são internadas pela primeira vez no hospital com COVID-19, para evitar o desenvolvimento de coágulos sanguíneos, em vez de esperar para ver se elas desenvolvem coágulos sanguíneos e depois tratá-los com anticoagulantes. Queríamos saber se administrar anticoagulantes preventivamente, assim que as pessoas são internadas com COVID-19, reduziria o número de mortes. Também queríamos saber se essas pessoas precisavam de menos suporte para respirar, ainda desenvolveram coágulos ou se tiveram sangramento ou qualquer outro evento indesejado, como náuseas, vômitos, problemas renais ou necessidade de amputação.
Esperávamos encontrar ensaios clínicos randomizados testando o uso de anticoagulantes contra o tratamento usual ou placebo, porque eles fornecem as melhores evidências, mas nenhum desses estudos está disponível no momento. Então, em vez disso, nos baseamos em sete estudos "retrospectivos" não randomizados que analisaram o tratamento administrado a um total de quase 6.000 pessoas. Esses estudos ocorreram em unidades de terapia intensiva, enfermarias de hospitais e departamentos de emergência na China, Itália, Espanha e EUA. Eles forneceram evidências sobre mortes e sangramento, mas nenhuma evidência sobre suporte respiratório, coagulação do sangue ou outros efeitos indesejáveis. Havia muitas diferenças entre os estudos. Por isso, não foi possível combinarmos seus resultados.
Seis estudos, com quase 5700 participantes, compararam pacientes que receberam ou não receberam anticoagulantes. Um desses estudos relatou uma redução na mortalidade com anticoagulantes e outro estudo encontrou uma redução na mortalidade em pessoas gravemente enfermas; mas três estudos não relataram nenhum efeito sobre a mortalidade e o sexto não relatou mortes em nenhum dos grupos. Um desses estudos relatou sangramento importante em 3% dos participantes que receberam anticoagulantes e em 1,9% daqueles que não receberam os medicamentos.
O sétimo estudo de nossa revisão comparou a administração de doses preventivas versus doses terapêuticas de anticoagulantes. Todos os 244 participantes deste estudo estavam na unidade de terapia intensiva em ventiladores mecânicos. Eles poderiam ou não ter coágulos sanguíneos, mas receberam um anticoagulante em uma dose mais alta (geralmente usada para tratar coágulos) ou uma dose mais baixa usada para prevenir coágulos. O estudo descobriu que cerca de um terço das pessoas que receberam a dose de tratamento morreu, em comparação com mais da metade daqueles que receberam a dose preventiva. Este estudo também descobriu que os casos de sangramento mais graves foram mais frequentes no grupo de pessoas que receberam doses mais altas de anticoagulantes. Isto é, 32% dos pacientes que receberam doses terapêuticas de anticoagulantes tiveram sangramentos graves comparado com 21% dos pacientes que receberam doses preventivas de anticoagulantes.
Em resumo, no momento, devido à grande incerteza das evidências atuais, não sabemos se os anticoagulantes são um tratamento preventivo útil para pessoas com COVID-19. No lado positivo, sabemos de pelo menos 22 estudos em andamento, incluindo 20 ensaios randomizados com cerca de 15.000 participantes e adicionaremos os resultados desses estudos à nossa revisão quando estiverem disponíveis. Esses estudos de melhor qualidade devem nos ajudar a fornecer uma resposta conclusiva sobre este tópico importante.

Luis: Para saber mais sobre as evidências da pesquisa atual e observar as atualizações à medida que os resultados dos estudos são disponibilizados, você pode acessar a revisão online. Basta visitar a Cochrane Library ponto com e pesquisar 'anticoagulantes e COVID-19'. Veja também a tradução em Português do resumo da nossa revisão.

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