Tratamento da artrite idiopática juvenil (AIJ)-associada à uveíte: como funcionam os inibidores do factor de necrose tumoral (TNF)?

Mensagens-chave

Adalimumab parece ser benéfico para o tratamento da uveíte associada à AIJ, enquanto a evidência é muito limitada sobre o tratamento com etanercept. Não encontrámos evidência suficiente para dizer se estes medicamentos previnem a perda de visão; contudo, os estudos podem não ter sido suficientemente longos para detectar alterações na visão. Os efeitos secundários dos inibidores de TNF são geralmente ligeiros, embora possam ocorrer raros efeitos secundários graves.

O que é a uveíte associada à artrite idiopática juvenil?

A artrite idiopática juvenil (AIJ) é a doença reumática crónica mais comum na infância e causa inflamação das articulações (artrite). Algumas pessoas com AIJ também desenvolvem inflamação do olho, conhecida como uveíte. Se não for adequadamente detectada e tratada, a uveíte pode levar a danos permanentes nos olhos, diminuição da visão, ou cegueira.

Como é tratada a uveíte associada à AIJ?

Existem vários tipos de medicamentos para tratar a uveíte associada à AIJ. Um grupo de medicamentos chamados inibidores do factor de necrose tumoral (TNF) estão entre os tratamentos utilizados para a uveíte associada à AIJ e à uveíte associada à AIJ. Estes tratamentos têm como alvo uma proteína chamada factor de necrose tumoral' que causa inflamação. Estes medicamentos suprimem o sistema imunitário para reduzir a inflamação e prevenir danos ao olho.

O que pretendíamos descobrir?

O principal objectivo desta revisão foi determinar se os inibidores de TNF podem melhorar os sintomas da uveíte associada à AIJ e resumir os possíveis efeitos adversos destes medicamentos.

O que fizemos?

Procurámos na literatura médica por estudos que comparassem o inibidor de TNF com placebo para a uveíte associada à AIJ. Resumimos a evidência para os nossos resultados pré-definidos e classificámos a nossa confiança na evidência disponível. Dado que os estudos incluídos não mediram nem relataram os nossos resultados pré-definidos, resumimos adicionalmente as a evidência tal como foi reportado nos estudos individuais

O que é que encontrámos?

Identificámos como relevantes 3 estudos, que incluíram 134 participantes. Dois estudos investigaram um inibidor de TNF chamado adalimumab e um estudo investigou um inibidor de TNF chamado etanercept. Cada estudo mediu o efeito dos medicamentos de forma diferente um do outro, pelo que foi difícil comparar os estudos entre si e tirar conclusões. A nossa análise inicial não mostrou qualquer diferença clara entre inibidores de TNF e placebo no que diz respeito ao risco de sucesso ou fracasso do tratamento. Resumindo os resultados avaliados nos estudos individuais, os inibidores de TNF melhoraram as hipóteses de sucesso do tratamento e reduziram o risco de insucesso do tratamento quando comparados com placebo. Um estudo mostrou que mais doentes a tomar adalimumab do que placebo foram capazes de reduzir o número de gotas oftalmológicas utilizadas, sugerindo que o adalimumab pode ter reduzido a inflamação.

Os efeitos secundários relacionados com medicamentos, incluindo reacções no local de injecção e infecções eram geralmente leves e eram mais comuns no grupo dos inibidores de TNF. Efeitos adversos graves foram incomuns, mas mais frequentes nos grupos inibidores de TNF. Os efeitos secundários globais foram semelhantes aos geralmente observados nos medicamentos de outras doenças.

O que significa isto?

A nossa revisão sugere que o adalimumab, um inibidor de TNF, aumenta a hipóteses de melhorar os sintomas oculares da uveíte e diminui a hipótese de piorar a uveíte quando comparado com placebo.

Quão atualizada se encontra a evidência?

A evidência incluída corresponde à data de 3 de Fevereiro de 2022.

Conclusão dos autores: 

O tratamento com adalimumab parece aumentar a probabilidade de sucesso do tratamento e diminuir a probabilidade de insucesso do tratamento quando comparado com placebo. A evidência foi menos conclusivas sobre um efeito de tratamento positivo com etanercept. Os eventos adversos dos ensaios em U-AIJ estão de acordo com o perfil de efeito secundário conhecido dos inibidores de TNF. São necessárias medidas standard de resultados em U-AIJ validadas para homogeneizar a avaliação e para permitir a comparação e análise de múltiplos conjuntos de dados.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A uveíte é a manifestação extra-articular mais comum da artrite idiopática juvenil (AIJ) e uma doença potencialmente ameaçadora para a visão caracterizada por inflamação intra-ocular. O tratamento actual da uveíte associada à AIJ (U-AIJ) baseia-se largamente na experiência médica, nas provas observacionais e nas recomendações de consenso, resultando em variações consideráveis na prática.

Objetivos: 

Avaliar a eficácia e segurança dos inibidores do factor de necrose tumoral (TNF) utilizados para o tratamento de U-AIJ.

Métodos de busca: 

Pesquisámos no Cochrane Central Register of Controlled Trials, MEDLINE, Latin American and Caribbean Health Science Information database (LILACS), World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP) e ClinicalTrials.gov. A data da última pesquisa nas bases de dados eletrónicas foi 3 de Fevereiro de 2022.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios controlados aleatórios (RCT) comparando inibidores de TNF com placebo nos participantes com um diagnóstico de AIJ e uveíte com idades compreendidas entre os 2 e 18 anos.

Coleta dos dados e análises: 

Utilizámos a metodologia standard Cochrane e classificámos a certeza da evidência encontrada para sete resultados utilizando a classificação GRADE.

Principais resultados: 

Foram incluídos 3 RCT com 134 participantes.

Um estudo realizado nos EUA aleatorizou doentes para tratamento com etanercept ou placebo (N = 12). Em dois estudos, um realizado no Reino Unido (N = 90) e outro em França (N = 32), os participantes foram aleatorizados para adalimumab ou placebo. Todos os estudos tinham baixo risco de viés. A análise inicial combinada sugere que os inibidores de TNF podem resultar em pouca ou nenhuma diferença no sucesso do tratamento definido como 0 ou apenas vestígio de células na classificação da Nomenclatura de Uveíte (SUN); ou redução de dois graus na actividade com base na classificação SUN (relação de risco estimado (RR) 0.66; intervalo de confiança de 95% (IC) 0,21 a 2,10; 2 estudos; 43 participantes; evidência de baixa incerteza) ou insucesso do tratamento definido como um aumento em dois graus de actividade com base na classificação SUN (RR 0,31; IC 95% 0,01 a 7,15; 1 estudo; 31 participantes; evidência de baixa certeza). Uma análise adicional utilizando as definições individuais de resposta e insucesso do tratamento sugeriu um efeito de tratamento positivo dos inibidores de TNF; um RR de sucesso do tratamento de 2,60 (95% IC 1,30 a 5,20; 3 estudos; 124 participantes; evidência de baixa certeza), e RR de do tratamento de 0,23 (95% IC 0,11 a 0,50; 3 estudos; 133 participantes). Quase todas a evidência a foi encontrada nos estudos com adalimumab e a com etanercept foi muito limitada. Para resultados secundários, um estudo sugere que o adalimumab pode ter pouco ou nenhum efeito sobre o risco de recorrência após a indução da remissão aos três meses (RR 2,50, 95% IC 0,31 a 20.45; 90 participantes; evidência de muito baixa certeza) e acuidade visual, mas a evidência é muito incerta; a diferença média na variação da pontuação logMAR longitudinal durante seis meses foi de -0,01 (95% IC -0,06 a 0,03) e -0,02 (95%ICI -0,07 a 0,03) utilizando a melhor e pior medida logMAR, respectivamente (evidência de baixa certeza). A evidência de baixa certeza de um estudo sugere que o tratamento com adalimumab resulta na redução das doses de corticóides tópicos a seis meses (hazard ratio 3,58; 95%IC 1,24 a 10,32; 74 participantes que tomaram um ou mais corticóides tópicos por dia no início do estudo). Os eventos adversos, incluindo reacções no local de injecção e infecções, eram mais comuns no grupo de inibidores de TNF. Eventos adversos graves foram raros.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Traduzido por: Inês Leal, Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Revisão final: Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

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