Pacientes que sofreram parada cardíaca súbita devem ser resfriados para diminuir a temperatura corporal antes ou após a admissão hospitalar?

Pergunta da revisão

Nós revisamos as atuais evidências para responder a questão se o resfriamento precoce em pacientes que receberam suporte básico de vida após parada cardíaca súbita tem influência na sobrevida ou no dano cerebral comparado ao resfriamento que é iniciado após a admissão hospitalar. O resfriamento precoce significa o resfriamento do paciente rapidamente pela equipe da ambulância, paramédicos ou médicos, fora do hospital. Nós incluímos sete estudos que vão ao encontro das condições da Cochrane nessa revisão.

Introdução

População

Essa revisão lida com pessoas que receberam suporte básico de vida após parada cardíaca súbita. Parada cardíaca súbita significa que o coração e subsequentemente a circulação pararam. Se essas pessoas não recebem ressuscitação cardiopulmonar precoce as células do cérebro começarão a ter danos irreversíveis e subsequentemente morrem. Se o suporte básico de vida tem sucesso, uma forma de terapia que pode ajudar a prevenir o futuro dano cerebral é o resfriamento do corpo por várias horas de 32°C a 36°C. Essa terapia tem se mostrado benéfica em reduzir o dano cerebral e é recomendada nos guidelines internacionais para tratamento de pessoas que foram trazidas de volta a vida após parada cardíaca súbita.

Intervenção

O momento ótimo para o início do resfriamento é incerto. Essa revisão compara pessoas que tiveram a terapia de resfriamento iniciada antes da admissão hospitalar com aquelas que tiveram a terapia de resfriameto iniciada após a admissaão hospitalar.

Desfechos

Os efeitos da intervenção foram medidos pela sobrevivência e dano cerebral, junto com os efeitos colaterais, qualidade de vida e tempo de permaneência hospitalar.

Data da busca

Nós completamos as buscas dessa revisão em Março de 2015.

Características do estudo

Os sete estudos incluíram um total de 2369 participantes e comparou os efeitos do resfriamento antes e após a admissão hospitalar. A idade média dos participantes dos estudos estava entre 59 e 68 anos com a maioria sendo homens. Pessoas que não foram incluídas nos estudos foram as vítimas de trauma, com doença terminal, no fim do ciclo natural da vida, gestantes e aquelas que já tinham a temperatura corporal diminuída.

Financiamento do estudo

Dois dos sete estudos foram financiados pela indústria médica, quatro receberam recursos do governo ou de organizaçoes sem fins lucrativos e um estudo não recebeu nenhum financiamento.

Resultados chave

Nenhum dos estudos encontrou alguma evidência para o benefício do resfriamento pré-hospitalar versus o resfriamento intra-hospitalar. Entretanto, nós descobrimos que em quase todos os estudos uma quantidade relevante de participantes não recebeu o resfriamento pré-hospitalar ou intra-hospitalar de acordo com os guidelines. As razões para isso não foram claramente estabelecidas. A questão se a decisão do resfriamento dos participantes pode ter sido influenciada por outros fatores não pode ser respondida com confiança. O proprio desenho e a condução dos estudos incluídos foi uma preocupação, portanto, para evitar interpretações equivocadas, nós não juntamos aos resultados os estudos individuais. Nós encontramos que em adultos que receberam resfriamento pré-hospitalar o coração estava um pouco mais sujeito a uma nova parada antes de eles serem admitidos no hospital.

Qualidade da evidência

Muitos dos estudos incluídos foram de uso limitado pos eles focaram na praticabilidade e segurança do resfriamento pré-hospitalar sem especificamente enfatizar a terapia de resfriamento. Outros fatores que contribuíram para uma diminuição da qualidade da evidência foi que a informação veio de diferentes populações estudadas e por diferentes momentos de aplicação do resfriamento pré-hospitalar. Além disso, havia risco de viés nos estudos. A qualidade individual dos estudos era moderada. Em resumo, a qualidade da evidência para responder nossa questão da revisão era muito baixa.

Conclusão dos autores: 

Atualmente, não há evidência convincente para clarear os efeitos benéficos ou os danos da indução do resfriamento pré-hospitalar em comparação com a indução do resfriamento intra-hospitalar. Essa conclusão é baseada em evidência de qualidade muito baixa.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

O manejo da temperatura com alvo (também conhecido como "hipotermia terapêutica", "hipotermia induzida", ou "resfriamento") tem se mostrado benéfico para os desfechos neurológicos em pacientes que tiveram sucesso na ressuscitação cardiopulmonar após parada cardíaca súbita. Entretanto, ainda não está claro quando essa intervençaão deve ser iniciada.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos do início do resfriamento pré-hospitalar na sobrevivência e no desfecho neurológico em comparação com o início intra-hospitalar do resfriamento de adultos com parada cardíaca pré-hospitalar.

Métodos de busca: 

Buscamos em CENTRAL, MEDLINE, EMBASE, CINAHL, BIOSIS, e interceptamos três ensaios clínicos registrados até 5 de Março de 2015, e checamos as referências, buscamos citações e contactamos autores para identificar estudos adicionais.

Critério de seleção: 

Nós buscamos por ensaios clínicos controlados randomizados (ECCRs) em adultos com parada cardíaca extra-hospitalar comparando o resfriamento no cenário pré e pós hospitalar. Nossos desfechos primários foram sobrevivência e desfecho neurológico; nossos desfechos secundários foram os efeitos adversos, qualidade de vida e tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e no hospital.

Coleta dos dados e análises: 

Nós utilizamos os procedimentos padrão da metodologia Cochrane.

Principais resultados: 

Nós incluiímos sete ECCRs (2369 participantes aleatórios) na indução do resfrimento pré-hospitalar em comparação com o resfriamento intra-hospitalar. Havia considerável heterogeneidade e risco de viés principalmente devido a falhas na administração do resfriamento. Além disso, nós abstivemos os resultados combinados para sobrevivência e desfecho neurológico e apresentamos os resultados para cada estudo separadamente. Os eventos adversos foram raros. Baseados em quatro estudos com 1713 adultos, a indução do resfriamento pré-hospitalar pode aumentar o risco de nova parada cardíaca. O risco de viés nos sete estudos individuais foi moderado. A qualidade geral da evidência foi muito baixa. Isso se deu principalmente pela inconsistência e baixa precisão.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Marcelo Tabary de Oliveira Carlucci. Unidade de Medicina Baseada em Evidências da Unesp, Brazil. Contato: portuguese.ebm.unit@gmail.com

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