Remoção cirúrgica da parede óssea ou gordura orbitária na doença ocular tiroideia

A doença ocular tiroideia é um processo autoimune que afeta 30-50% dos doentes com doença com Graves. Cerca de 3-5% dos doentes têm formas graves com visão reduzida devido a compressão no nervo óptico. A doença é mais frequente em mulheres e diminui significativamente a qualidade de vida dos doentes afetados. A apresentação clínica caracteriza-se por inflamação de conteúdo orbitário, o que aumenta o volume da gordura e/ou dos músculos extra-oculares, resultado na deslocação para a frente dos globos oculares (exoftalmia), retração palpebral e diplopia. Múltiplos procedimentos cirúrgicos podem ser necessários para a correção após tratamento médico inicial ter sido ineficaz.

A descompressão orbitária é conseguida pela remoção da parede óssea (geralmente interna, inferior, lateral ou combinação destas), gordura orbitária ou ambas. Trata-se de uma procedimento estabelecido para a correção de exoftalmia e melhoria visual em doentes com neuropatia óptica (dano ao nervo óptico; na doença tiroideia este é o resultado de aumento de volume dos músculos que comprimem o nervo óptico), envolvimento da córnea devido a incapacidade de encerramento da fenda palpebral para reabilitação de doentes com proptose marcada dos olhos.

A literatura sugere que a descompressão de três paredes estão indicadas para doentes com altos graus de proptose e descompressão de duas paredes orbitárias para graus menores de exoftalmia. A remoção de gordura em adição à remoção da parede óssea pode aumentar a segurança e eficácia do procedimento.

Várias abordagens com resultados contraditórios têm sido publicadas na literatura. A comparação de diferentes procedimentos tem sofrido viés pela inclusão de indicações e medidas de resultados diferentes, bem como estadios diferentes da doença.

Dois estudos elegíveis foram incluídos nesta revisão. Estes estudos variaram significativamente nas intervenções, metodologias e resultados reportados. Um estudo mostrou que a remoção da parede inferior através do antrum e remoção da perde interna através do nariz tinham efeitos semelhantes na redução de exoftalmia, mas o último tinha menos complicações. Este estudo tem como ponto fraco o curto tempo de seguimento e o facto de não reportar a nossa medida de resultado primário (sucesso ou falência de tratamento). O segundo estudo sugeriu que corticóides intravenosos levavam a uma melhoria visual superior (56%) do que a descompressão cirúrgica (17%) como primeira linha de tratamento para uma neuropatia óptica. Foi sugerido que, com tratamento com corticóides intravenosos, menos procedimentos cirúrgicos secundários eram necessários mas o seu uso estava relacionado a efeitos secundários e a menor duração de ação. Estes estudo tinha como ponto fraco a amostra de pequena dimensão.

Até existir mais evidência disponível, não podemos recomendar nenhuma intervenção particular. Esta revisão identificou a necessidade de mais ensaios clínicos aleatorizados para fornecer mais evidência na eficácia da descompressão orbitária na oftalmopatia tiroideia. Estes ensaios devem debruçar-se sobre técnicas de descompressão balanceada de duas paredes, três paredes e técnicas de descompressão de gordura. Estes estudos devem focar-se na redução da exoftalmia, gravidade da doença, taxas de complicação, qualidade de vida e custo da intervenção.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Inês Leal, Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.

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