Exercícios para pacientes com Síndrome da Fadiga Crônica

Editorial note

A statement from the Editor in Chief about this review and its planned update is available at https://www.cochrane.org/news/cfs

Qual é o objetivo desta revisão?

As pessoas com síndrome da fadiga crônica têm fadiga de longa duração, dores articulares, dores de cabeça, problemas de sono, e dificuldades de concentração e de memória recente. Esses sintomas causam incapacidade e sofrimento significativos para as pessoas afetadas. Queríamos saber se a terapia com exercícios poderia ajudar as pessoas com síndrome da fadiga crônica (encefalomielite miálgica).

Principais achados

As pessoas que fazem terapia com exercícios provavelmente têm menos fadiga no final do tratamento do que aquelas que recebem terapias mais passivas. Não sabemos se esta melhora persiste em longo prazo. Também não temos a certeza sobre o risco de efeitos colaterais graves da terapia com exercícios.

O que foi estudado nesta revisão?

Investigamos se a terapia com exercícios poderia reduzir os sintomas da síndrome da fadiga crônica. Buscamos estudos que compararam o efeito da terapia com exercícios versus tratamento habitual ou outras terapias.

Quais são os principais resultados da revisão?

Encontramos oito estudos relevantes envolvendo um total de 1.518 participantes. Os estudos compararam os participantes que receberam terapia com exercícios versus os que receberam tratamento habitual ou tratamentos mais ativos, como a terapia cognitiva comportamental.

Os participantes fizeram terapia com exercícios por períodos de tempo que variaram de 12 até 26 semanas. Os estudos mediram o efeito da terapia no final do tratamento e também em longo prazo, depois de 50 ou 72 semanas. Os participantes fizeram diversos tipos de exercícios aeróbicos, como caminhar, nadar ou andar de bicicleta, com diferentes níveis de intensidade.

Terapia com exercícios versus tratamento habitual ou relaxamento

Os participantes que fazem terapia com exercícios provavelmente têm menos fadiga no final do tratamento, e podem ter um funcionamento físico um pouco melhor do que aqueles que não fazem esse tipo de terapia. Estamos incertos se estes efeitos benéficos duram muito tempo, porque temos dúvidas a respeito dessa evidência.

Os participantes que fazem terapia com exercícios físicos podem ter um sono um pouco melhor, tanto no final do tratamento como em longo prazo.

Temos dúvidas sobre o risco de efeitos colaterais graves e sobre os efeitos da terapia com exercícios na dor, qualidade de vida e depressão. Isto se deve ao fato de que faltam evidências ou existe muita incerteza quanto à evidência existente sobre esses aspectos.

Terapia com exercícios versus terapia cognitiva comportamental

Houve pouca ou nenhuma diferença entre os efeitos da terapia com exercícios versus terapia cognitiva comportamental no cansaço dos participantes no final do tratamento ou em longo prazo. A terapia com exercícios parece fazer pouca ou nenhuma diferença no funcionamento físico dos participantes no final do tratamento. Além disso, há dúvidas quanto aos efeitos desse tratamento no funcionamento físico em longo prazo.

Nenhum estudo analisou o efeito da terapia com exercícios sobre a depressão no final do tratamento. Entretanto, essa terapia provavelmente tem pouco ou nenhum efeito em longo prazo.

Estamos incertos sobre o risco de efeitos colaterais com o uso da terapia com exercícios. Também temos dúvidas sobre os efeitos da terapia sobre a dor, a qualidade de vida ou o sono. Isto se deve ao fato de que faltam evidências ou existe muita incerteza quanto à evidência existente sobre esses aspectos.

Terapia com exercícios versus estimulação adaptativa (viver dentro dos limites)

Os participantes que fazem terapia com exercícios podem ter um pouco menos de fadiga e sintomas depressivos e um funcionamento físico e sono um pouco melhores no final do tratamento e no longo prazo do que os participantes que fazem estimulação adaptativa.

Temos dúvidas quanto aos riscos de efeitos colaterais graves. Também temos dúvidas sobre os efeitos da terapia na qualidade de vida ou na dor. Isto se deve ao fato de que faltam evidências ou a evidência existente sobre esses aspectos é muito incerta.

Terapia com exercícios versus antidepressivos

Não temos certeza se a terapia com exercícios é melhor do que tomar antidepressivos para reduzir a fadiga. Também temos dúvidas quanto ao efeito da terapia sobre a depressão, efeitos colaterais, dor, funcionamento físico, qualidade de vida ou sono. Isto se deve ao fato de que faltam evidências ou a evidência existente sobre esses aspectos é muito incerta.

Por que essa revisão é importante?

A terapia com exercícios é recomendada pelas diretrizes de tratamento e é muitas vezes usada como tratamento para pessoas com síndrome da fadiga crônica. As pessoas com síndrome da fadiga crônica devem ter a oportunidade de tomar decisões informadas sobre seus cuidados e seu tratamento com base em evidências científicas sólidas. Elas devem saber se a terapia com exercícios físicos é eficaz, quer como uma intervenção isolada, quer como parte de um plano de tratamento.

É importante notar que as evidências nesta revisão são de pessoas diagnosticadas com os critérios de 1994 do Centers for Disease Control and Prevention ou com os critérios de Oxford. As pessoas diagnosticadas usando outros critérios podem ter efeitos diferentes.

Conclusão dos autores: 

A terapia com exercícios provavelmente tem um efeito positivo na fadiga em adultos com SFC em comparação com os cuidados habituais ou terapias passivas. A evidência sobre eventos adversos é incerta. Devido às poucas evidências disponíveis, é difícil tirar conclusões sobre a eficácia comparativa da TCC, da estimulação adaptativa ou de outras intervenções. Todos os estudos foram realizados com pacientes ambulatoriais diagnosticados com os critérios de 1994 do Centers for Disease Control and Prevention ou os critérios de Oxford, ou ambos. As pessoas diagnosticadas com outros critérios podem ter efeitos diferentes.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A síndrome da fadiga crônica (SFC) ou encefalomielite miálgica (EM) é um distúrbio grave. Ela se caracteriza por fadiga persistente após atividades e sintomas de disfunção cognitiva, imunológica e autonômica. Como não existe um teste diagnóstico específico para a SFC, o diagnóstico é feito usando critérios diagnósticos. A prevalência da SFC varia de acordo com o tipo de critério diagnóstico utilizado. As estratégias de tratamento existentes visam principalmente aliviar os sintomas e melhorar a função do paciente. A terapia com exercícios é uma das opções terapêuticas.

Objetivos: 

O objetivo desta revisão foi avaliar os efeitos da terapia com exercícios para adultos com SFC versus qualquer outra intervenção ou controle sobre os seguintes desfechos: fadiga, desfechos adversos, dor, funcionamento físico, qualidade de vida, distúrbios de humor, sono, mudanças auto-percebidas na saúde geral, uso de recursos dos serviços de saúde e abandono do tratamento.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados usando várias palavras livres para CFS e exercícios: Cochrane Common Mental Disorders Group controlled trials register, CENTRAL e SPORTDiscus. A busca foi feita em maio de 2014. Identificamos estudos não publicados e ensaios clínicos em andamento em maio de 2014 fazendo buscas no International Clinical Trials Registry Platform da Organização Mundial de Saúde (OMS). Avaliamos as listas de referências dos artigos recuperados e contatamos especialistas na área para identificar estudos adicionais.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos controlados e randomizados (ECRs), envolvendo adultos com diagnóstico primário de SFC e que podiam fazer terapia com exercícios.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, fizeram a seleção dos estudos, a avaliação do risco de viés e a extração dos dados. Combinamos os desfechos de medidas contínuas utilizando a diferença média (DM) e a diferença média padronizada (DMP). Para facilitar a interpretação das DMPs, convertemos as estimativas das DMPs como DMs em escalas de medição mais comuns. Combinamos os resultados dicotômicos usando o risco relativo (RR). Avaliamos a certeza (qualidade) da evidência usando a abordagem GRADE.

Principais resultados: 

Incluímos na revisão oito ECRs com 1.518 participantes.

A duração da terapia com exercícios variou entre 12 e 26 semanas. Os estudos mediram o efeito no final do tratamento e em longo prazo, após 50 semanas ou 72 semanas.

Sete estudos utilizaram exercícios aeróbicos como caminhada, natação, ciclismo ou dança. Os exercícios aeróbicos foram feitos em níveis de intensidade que variaram entre muito baixo e muito alto. Um estudo utilizou exercícios não aeróbicos. Os participantes nos grupos controle fizeram tratamento usual, relaxamento, exercícios de alongamento (oito estudos) ou terapia cognitiva comportamental (TCC) (dois estudos), terapia cognitiva (um estudo), escuta solidária (um estudo), estimulação adaptativa (um estudo), tratamento farmacológico (um estudo) e tratamentos combinados (um estudo).

A maioria dos estudos tinha um baixo risco de viés de seleção. Todos tinham um alto risco de viés de desempenho e de detecção.

Terapia com exercícios versus controle passivo

A terapia com exercícios provavelmente reduz a fadiga no final do tratamento (DMP -0,66, IC 95% -1,01 a -0,31; 7 estudos, 840 participantes; moderada certeza da evidência; DM -3,4, IC 95% -5,3 a -1,6; em uma escala de 0 a 33). Temos dúvidas se a intervenção reduz a fadiga em longo prazo porque a certeza nestas evidências é muito baixa (DMP -0,62, IC 95% -1,32 a 0,07; 4 estudos, 670 participantes; DM -3,2, IC 95% -6,9 a 0,4; em uma escala de 0 a 33).

Temos dúvidas sobre o risco de eventos adversos graves porque a certeza nesta evidência é muito baixa (RR 0,99, IC 95% 0,14 a 6,97; 1 estudo, 319 participantes).

A terapia com exercícios pode melhorar moderadamente o funcionamento físico no final do tratamento, mas o efeito em longo prazo é incerto porque a certeza na evidência é muito baixa. A terapia com exercícios também pode melhorar um pouco o sono no final do tratamento e em longo prazo. O efeito da terapia com exercícios sobre a dor, qualidade de vida e depressão é incerto porque faltam evidências ou temos muito baixa certeza nelas.

Terapia com exercícios versus TCC

A terapia com exercícios pode fazer pouca ou nenhuma diferença para o cansaço ao final do tratamento (DM 0,20, IC 95% -1,49 a 1,89; 1 estudo, 298 participantes; baixa certeza na evidência), ou em longo prazo (DMP 0,07, IC 95% -0,13 a 0,28; 2 estudos, 351 participantes; moderada certeza na evidência).

Temos dúvidas sobre o risco de eventos adversos graves porque a certeza nesta evidência é muito baixa (RR 0,67, IC 95% 0,11 a 3,96; 1 estudo, 321 participantes).

As evidências disponíveis sugerem que pode haver pouca ou nenhuma diferença entre a terapia com exercícios e a TCC no funcionamento físico ou no sono (baixa certeza na evidência) e assim como na depressão (moderada certeza na evidência). Não sabemos se a terapia com exercícios, comparada com a TCC, melhora a qualidade de vida ou reduz a dor, porque a certeza nesta evidência é muito baixa.

Terapia com exercícios versus estimulação adaptativa

A terapia como exercícios pode reduzir um pouco a fadiga no final do tratamento (DM -2,00, IC 95% -3,57 a -0,43; em uma escala de 0 a 33; 1 estudo, 305 participantes; baixa certeza na evidência) e em longo prazo (DM -2,50, IC 95% -4,16 a -0,84; em uma escala de 0 a 33; 1 estudo, 307 participantes; baixa certeza na evidência).

Temos dúvidas sobre o risco de eventos adversos graves porque a certeza nesta evidência é muito baixa (RR 0,99, IC 95% 0,14 a 6,97; 1 estudo, 319 participantes).

As evidências disponíveis sugerem que a terapia com exercícios pode melhorar um pouco o funcionamento físico, a depressão e o sono em comparação com a estimulação adaptativa (baixa certeza na evidência). Nenhum estudo avaliou qualidade de vida ou dor.

Terapia com exercícios versus antidepressivos

Não sabemos se a terapia com exercícios, sozinha ou associada a antidepressivos, reduz a fadiga e a depressão mais do que apenas o antidepressivo sozinho, pois a certeza nesta evidência é muito baixa. O único estudo que fez essa comparação não avaliou eventos adversos, dor, funcionamento físico, qualidade de vida, sono ou resultados em longo prazo.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Maria Regina Torloni e Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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